Leite Moça, que Bolsonaro adora, é paixão nacional há quase 150 anos
Em 1875, quando Anglo-Swiss Condensed Milk Co. mandou para o Brasil o seu Milkmaid, fabricado na Suíça, os brasileiros logo apelidaram o produto de "leite da moça", por causa do rótulo com a camponesa suíça com um balde
O presidente Jair Bolsonaro "pegou ar" com a denúncia que seu governo tinha comprado mais de R$ 15 milhões de alimentos, entre eles o seu querido Leite Moça.
Como se sabe, Bolsonaro adora Leite Moça. Come o leite condensado direto no pão. Quem não se lembra dele recém-eleito passando leite Moça direto da lata para o pão e oferecendo ao conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, que Donaldo Trump mandou ao Brasil para lhe cumprimentar pela vitória? Bolton não encarou.
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E em mais uma de suas faltas de decoro com o cargo, o presidente rebateu a acusação dizendo que o leite condensado é para "enfiar no rabo da imprensa". Não se tem notícia de que o Leite Moça sirva como supositório, embora se saiba que consumido demasiadamente provoca diarreias.
Grosserias à parte, a verdade é que o governo andou mesmo comprando muito Leite Moça e pagando caro pela latinha de 375 ml, que é uma paixão nacional desde que chegou no Brasil.
Pouca gente lembra, mas quando em 1875, a Anglo-Swiss Condensed Milk Co., mandou para o Brasil o seu Milkmaid, fabricado em Cham, na Suíça, paulistas e cariocas olharam aquela latinha contendo o tal o leite condensado e logo apelidaram o produto de “leite da moça”, por causa do rótulo com a camponesa suíça com um balde.
Ninguém o chamava de Milkmaid. Tanto que, anos mais tarde, depois que a Anglo-Swiss Condensed Milk Co. se fundiu com a Nestlé®, do químico Henri Nestlé® que, em 1867, desenvolvera a Farinha Láctea em Vevey, na Suíça, decidiu ouvir os brasileiros e mudou o nome para Leite Moça.
O Leite Moça virou sinônimo de leite condensado e até hoje é uma espécie de unanimidade nacional. Líder absoluto do mercado, ele está no Brasil há 145 anos e, portanto, não ganhou preferência do consumidor porque Jair Bolsonaro confessou sua paixão. Aliás, quem não comeu Leite Moça como recheio de sanduiche de pão quentinho?
Aliás, não é de hoje que o Leite Moça está de alguma forma ligado ao poder. Por exemplo, quando as quituteiras do Palácio do Catete quiseram agradar o marechal Eduardo Gomes, que não podia comer ovos, usaram o Leite Moça. Surgiu o brigadeiro de Leite Moça, que virou um doce típico da culinária brasileira.
E esse incidente da denúncia de superfaturamento chega a ser irônico. Exatamente neste ano, agora em janeiro, a companhia suíça comemora o seu centenário no Brasil, que é um dos melhores mercados da companhia no mundo. A empresa até preparou uma megacampanha para mostrar sua gratidão ao Brasil.
Para ser ter uma ideia do que é esse mercado, basta dizer que a empresa emprega mais de 30 mil pessoas no Brasil e tem 20 unidades industriais localizadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo e Pernambuco, numa planta em Garanhuns.
A Nestlé Brasil está presente em 99% dos lares brasileiros, segundo pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel. Líder mundial em alimentos e bebidas, a Nestlé atua em 190 países e tem sede na cidade suíça de Vevey, onde foi fundada em 1866, portanto há mais de 150 anos.
Campanha
Quem estreia a campanha de aniversário da marca criada pela a agência DPZ&T, e que será a embaixadora da festa é a atriz Regina Casé, por sua grande identificação com a população brasileira, o talento em contar histórias e a preocupação em estimular que as pessoas corram atrás de seus sonhos.
A campanha dará prêmios de R$ 100 mil todos os dias, até 24 de março, assim como premiações instantâneas no valor de R$ 100 por hora, totalizando R$ 8 milhões em ganhos, além de ativações em mais de 3.500 pontos de venda de todo o Brasil. Mas, certamente, depois do evento Bolsonaro, certamente não terá o mesmo brilho.
Com prêmios ou não, o fato é que o Leite Moça faz parte da vida de gente além da de Bolsonaro.
Por exemplo, já em 1905 a presença do Leite Moça no mercado brasileiro era tão forte que como parte da comunicação, a Nestlé começou a distribuir as "Folhinhas" do LEITE MOÇA®, revistinhas impressas que continham anúncios, dicas de beleza, fotos de outros países, jogos, piadas e, claro, o famoso calendário. Sucesso total.
Quando, em 1921, a companhia inaugurou sua primeira fábrica Nestlé no Brasil, o principal produto foi o leite condensado Moça.
Em 1935, o Leite Moça começou a virar uma linha de produtos com o início da fabricação do Creme de Leite no Brasil, na unidade de Araras (SP). O lançamento foi em São Paulo e no Rio de Janeiro, atingindo, posteriormente, todo o território nacional.
Todo mundo hoje toma Leite Ninho e pensa que ele foi quem trouxe a Nestlé para o Brasil para fabricá-lo. Não foi. A fabricação de um leite em pó de qualidade e de conservação prolongada só chegou em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, e no período pós-guerra, quando houve grande escassez de bens de consumo.
O Leite Moça hoje tem uma lista de derivados capaz de matar um diabético.
Tem Leite Moça para passar em churros, com avelã, doce leite, semidesnatado, light (que possui 95% menos gorduras do que o Leite Moça Original em lata), beijinho, brigadeiro, sorvete de Leite Moça e até um de zero lactose que não tem a menor graça, embora desde 1921, com sua fórmula Integral e 8% de gordura.
Então, como se pode constatar, tem Leite Moça em tudo que é jeito. Embora, como faz Bolsonaro, bom mesmo é comê-lo passando no pão, com ele diluído num café bem quentinho.
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A propósito, você lembra desses slogans do Leite Moça?
Escolha Ser Feliz de Verdade (2009)
Leite Moça, as maravilhas de sempre (2007)
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Você faz maravilhas com Leite Moça (1980)
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