Banco Central independente protege país da intervenção de presidentes usando a força
Quando Dilma saiu do Governo pelo impeachment, a Taxa Selic de 14,25% começou a cair até chegar a 2%, em agosto do ano passado, já com o BC sob o comando de Roberto Campos Neto.
No meio do debate sobre a independência do Banco Central é importante colocar algumas informações históricas para que as pessoas não esqueçam que parte das dificuldades que vivenciamos hoje. Elas estão ligadas a fatos que ocorreram exatamente quando os governantes do momento decidiram intervir na economia sem respeitar as regras do mercado. Isso também aconteceu com Banco Central aqui no Brasil.
Eleita em 2011, Dilma Rousseff lançou o que chamou de Nova Matriz Econômica. O conceito apoiava-se no tripé de taxas de juros mais baixas, câmbio competitivo e uma política fiscal "amigável" ao investimento. Henrique Meirelles, que era presidente do Banco Central nos governos Lula pulou fora. Assumiu Alexandre Tombini.
Em agosto de 2011, quando a Selic bateu em 12,50%, Dilma decidiu intervir no BC. A taxa baixou até chegar em 7,25%, em abril de 2013. Mas a Nova Matriz Econômica não conseguiu um coisa básica: baixar a inflação e a partir de então, a Selic disparou até cravar 14,15% em novembro de 2015.
Ficou nesse patamar até outubro de 2016 quando Dilma saiu do Governo pelo impeachment. Saiu Tombini e assumiu Ilan Goldfajn, executivo do Banco Itaú. A Taxa Selic começou a cair até chegar a 2%, em agosto último, já com o BC sob o comando de Roberto Campos Neto.
O desastre na economia todos sabemos. O Brasil teve por dois anos queda no PIB (3,8%, em 2015 e 3,6%, em 2016) e ainda hoje pagamos a conta da intervenção do governo na economia provocada pela tal Nova Matriz Econômica.
Ficou a lição sobre o risco de um BC dependente do presidente da República, que decide romper limites estruturais da política macroeconômica, sem queda na inflação. Talvez porque a redução dos juros sozinha não seja capaz de gerar aumento de operações financeiras. BC não faz política econômica.
Dilma é um bom exemplo do que é o governo mandar no Banco Central. Ela mandou baixar os juros dos bancos estatais no grito e viu que os privados não acompanharam.
A trajetória de redução da taxa Selic, desde o governo Temer ao Bolsonaro, mostra que credibilidade é fundamento no jogo do mercado financeiro. Quando Temer assumiu, a Selic era 14,25%, mas no mês de sua posse (agosto de 2016), o mercado futuro - que mede os juros oito anos na frente - derrubou as taxas dos títulos brasileiros.
Com isso, Ilan Goldfajn, que assumiu o BC no lugar de Tombini, pôde propor as quedas que fez Temer entregar uma Selic de 6,5% a Bolsonaro, que manteve a redução até os atuais 2%.
O exemplo das bobagens do governo Dilma serve para mostrar que a tese de um governo capaz de intervir na política monetária do Banco Central pode atrapalhar a própria economia quando o governante busca resultados puramente ideológicos.
Dinheiro não aguenta desaforo de ninguém.