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Em dia de "Nico Bondade" Marcelo Queiroga fez tudo para "não perder o emprego"

Como Nico Bondade, Queiroga não vê problema em fazer o que o presidente mandar. O que não pode é "perder esse emprego".

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Fernando Castilho

Publicado em 06/05/2021 às 23:20 | Atualizado em 07/05/2021 às 7:27
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Personagem criado por Chico Anysio, “Nico Bondade” é um homem bondoso, que vive enfrentando o drama da procura de um emprego, pois é difícil conseguir uma colocação na sua idade. Na defesa da colocação ele se submete a tudo respondendo para si mesmo “"Ai, meu Jesuisinho! Eu não posso perder esse emprego!"

Nesta quinta-feira, na CPI da covid-19, o médico paraibano Marcelo Queiroga teve seu dia de Nico Bondade. E por várias vezes repetiu para si mesmo “Ai, meu presidente. Eu não posso perder esse emprego de ministro da Saúde".

Foi um dos mais constrangedores depoimentos de um servidor público numa sessão do Congresso e, certamente, deve ter envergonhado seus colegas da Sociedade Brasileira de Cardiologia - da qual foi presidente. Mas Nico, ou melhor, Queiroga, fugiu de tudo que, ainda que de longe, desagradasse ao presidente.

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Para começar, ele tentou driblar perguntas relativas ao posicionamento pessoal do presidente da República.

Como ministro da Saúde, ele recusou-se a dar sua opinião sobre o uso da hidroxicloroquina (medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid).

Fugindo da pergunta como o diabo foge da cruz, ele se recusou a fazer uma avaliação das condições do ministério e das ações de enfrentamento à pandemia. Incorporando o Nico Bondade, o ministro fugiu de uma resposta Sim ou Não sobre cloroquina.

"Eu sou instância final decisória. Então, eu posso ter que dar um posicionamento acerca desse protocolo, de tal sorte que eu gostaria de manter o meu posicionamento final acerca do mérito do protocolo quando o protocolo for elaborado”, fugiu o Nico, ou melhor, o ministro.

E quando os senadores apertaram sobre o que achava das fala de Bolsonaro sobre cloroquina ele se superou: "Não faço juízo de valor acerca da opinião do presidente. É uma questão de natureza técnica”.

Conversa. Ele era contra o uso antes de virar ministro. Já tinha dito isso antes. Mas como um novo Nico Bondade, ele seguiu o bordão "Eu não posso perder esse emprego!"

Os senadores da CPI viram que o ministro estava no lugar que sempre sonhou e não iria colaborar. Ele já estava trabalhando para se garantir num cargo próximo do Governo quando articulou para ganhar uma diretoria na ANS. O ministério caiu no colo. E ele não vai renunciar a ele por nada.

Nico Bondade faria qualquer coisa por um emprego. Marcelo Queiroga fará qualquer coisa para ficar no ministério.

Queiroga está a quilômetros do que pensa o presidente. Mas fará tudo para permanecer no cargo. Era um lugar que ele sempre sonhou secretamente. E para ele não custa muito fazer o que o presidente deseja e se manter no cargo. Não é nada que não possa fazer mesmo. O presidente vai defendê-lo.

Para quem achava que chegar à presidência da SCB era o topo da carreira, servir fielmente ao presidente Bolsonaro como ministro da Saúde não é muito sacrifício. É o auge de sua carreira. Quando o governo terminar ele vai passar o resto da vida sendo chamado de “ministro” e podendo dizer que enfrentou a covid-19.

Como Nico Bondade, para Marcelo Queiroga não tem problema em fazer o que o presidente mandar. Ele acredita que deve fazer o que o presidente exige. O que ele não pode é “perder esse emprego.”

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