Bolsonaro vive do embate. Liberação de máscara é só mais uma ideia retirada do seu baú de inconsequências
O embate criado pelo presidente sobre uso de máscara é apenas a expressão de mais uma ideia que ele fixou
Depois de quase 30 meses de governo, 470 mil mortes e 17 milhões de infectados, é importante pontuar. O presidente Jair Bolsonaro é um homem de ideias fixas. Não muda e não vai mudar até o seu último dia de mantado.
Ainda jovem na academia de Agulhas Negras, ele fixou a ideia de que o Brasil vive ameaçado por comunistas. Saiu da caserna e fixou a ideia que as polícias são uma força estratégica para os Estados que devem ser uma força, independente, dos governadores.
Passou sete mandatos na Câmara com a ideia fixa de ser um sindicalista de policiais. Veio a eleição e ele fixou a ideia de houve uma articulação contra sua candidatura.
Quando a pandemia se estabeleceu, ele fixou algumas ideias. O Brasil poderia ter uma imunidade de rebanho se todo mundo pegasse a doença. Naturalmente, haveria mais mortes, mas para ele isso seria só um detalhe colateral.
Ele também fixou a ideia de que cloroquina cura a covid-19. Tão certo ele está disso que não há, neste mundo cristão, judeu ou muçulmano que o convença de que ela não é um tratamento preventivo.
Bolsonaro também fixou a ideia de que máscara é um símbolo de quem é covarde. Que tem medo do que chama de uma gripezinha. E que politicamente é um símbolo de esquerda. Não adianta ninguém dizer que deve usar para ser proteger do vírus enquanto a população inteira não se vacinar. E de que a máscara protege.
O presidente, naturalmente, sabe que uma proposta dessa vai provocar debates acalorados e mais uma vez incendiar suas redes sociais. Isso é uma boa ideia para ele. Nada como um confronto de ideias.
É importante não esquecer. O presidente tem ideias fixas e não adianta alguém querer mudar. Ele vai continuar com essa sua concepção eternamente. Não vai mudar. Ele sabe que isso é um embate interessante para ele.
Assim, é bom se preparar para ter uma redução de uso de máscara. Tem um segmento de apoiadores que vão deixar de usar máscara a partir da sua live nesta quinta-feira (10).
Não há nenhuma sustentabilidade na proposta. Qualquer pessoa razoavelmente sabe que isso é um equívoco. Mas ele vai sustentar isso. Importa pouco que ocorram 500 mil mortes. O presidente não vai mudar sua opinião. Se não se importou ainda, não vai ser agora.
Tentando entender essa ideia fixa, podemos interpretar de várias formas. Por exemplo, ao querer desobrigar máscara o presidente poder buscar uma forma de modo a permitir identificar os opositores. A máscara seria, portanto, um símbolo de fácil identificação visual de uma posição política.
Nisso poderia estar a raiz de mais essa ideia fixa. Quem usa máscara é claramente inimigo do Governo Bolsonaro. De certa forma, o gesto poderia até servir psicologicamente e como uma identificação fácil dos “inimigos” do seu governo.
É um absurdo? É. Claro que é. Mas com se disse no começo, o presidente é um homem de ideia fixa. E pessoas com ideias fixas não mudam de opinião.
Bolsonaro vive do embate. Liberação de máscara é só mais uma do seu baú de inconsequências.