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Vacinas indianas trazem para o Governo Bolsonaro suspeita de corrupção que ele jamais imaginou enfrentar

Deputado aliado põe no colo do governo uma crise politica que ele não sabe como administrar diante de uma CPI que sequer imaginou investigar

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Fernando Castilho

Publicado em 24/06/2021 às 23:00 | Atualizado em 25/06/2021 às 0:17
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Sabe aquele bicho que tem cara de gato, cheiro de gato, miado de gato, mas não é gato? E é um gambá que quando é atacado exala um cheiro horrível.

Embora esta sexta-feira (25) possa ser de fortes emoções, a verdade é que tem algumas coisas nessa compra da vacina da Índia que não tinham como dar certo mesmo. Ou um forte cheiro de gambá.

Primeiro, um agente intermediário altamente suspeito. Uma empresa que iria ganhar uma bela comissão de vendas quando a prática no mercado era de negociação direta. Depois, o acerto de pagamento de uma empresa Off Shore que entraria no negócio para receber de cara US$ 45 milhões sem que ninguém saiba quem é o dono?

Mas o mais grave disso tudo é falta de cuidado do presidente, da equipe em torno dele e, agora (ao que se sabe), falta de cuidado do próprio ministro da Saúde com o assunto.

Numa pandemia, com o governo sendo atacado por não comprar vacina, ninguém começa a perceber que alguém tem alguma coisa estranha numa negociação de R$ 1,6 bilhão?

E como, num sábado, o presidente aceita conversar com dois sujeitos com uma conversa muito estranha sobre pressões no ministério da Saúde e ele não chama ninguém para dar segmento a isso? E mais ainda quando o deputado aliado tem um histórico muito suspeito?

São questões perturbadoras que acabam levando a atitudes suspeitas. Especialmente depois que o ministro Onyx Lorenzoni tentou defender o presidente atacando, o que acabou chamando atenção dos senadores da CPI da Covid.

Sabe-se agora que Lorenzoni não apurou as informações corretamente e menos de 24 horas depois for desmentido até pela empresa.

Lorenzoni acabou prejudicando ainda mais o Governo porque deu a impressão de pânico e de fogo no parquinho.

Existem gestos que falam por si. Quando um ministro diz que não existe corrupção quando ninguém falou isso, ele atrai as atenções.

De tudo que já se viu hoje, fica claro que o Governo ainda não tem uma estratégia de ação e tentou apagar o fogo fazendo um aceiro de modo a controlar as chamas, até que o deputado Miranda preste seu depoimento.

Mas o problema é que ninguém no governo sabe o que o deputado Luis Miranda e seu irmão têm de provas sobre essa negociação. E se nesta sexta-feira (25) ele vier com áudios da conversa com o presidente, mais documentos e mais transcrições dessa pressão?

No fundo, a CPI da Covid parece confirmar a tese de "Numa CPI se sabe quando começa e não como termina".

A CPI caminhava para uma constatação modesta de demora na compra de vacinas, má condução do governo na pandemia e uso indiscriminado de cloroquina, quando cai no colo dela uma denúncia sobre corrupção.

Nem nos seus mais delirantes sonhos, os membros da CPI imaginavam que ela chegaria numa linha de corrupção na compra de vacinas, mas parece claro que o próprio governo não só criou as condições de investigação. E aí fica difícil segurar.

O que seria uma grande ironia, pois, no começo da semana, o presidente da Câmara, Artur Lira, disse que ela não daria em nada.

Pois é, Lira, agora pode dar.

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