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Propina pedida por servidor do Governo Bolsonaro para vacina AstraZeneca faz Petrolão do PT coisa de adolescente

Como a proposta era de US$ 1 por cada uma das 400 milhões doses, significava US$ 400 milhões a serem pagos pela vendedora

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Fernando Castilho

Publicado em 30/06/2021 às 12:00 | Atualizado em 30/06/2021 às 14:01
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Carlos Lyra, irmão do usineiro alagoano João Lyra, que foi casado com Helena Pessoa de Queiroz, era grande plantador de fumo em sua Arapiraca (AL).

Certo dia ouvindo a Rádio Jornal, em ondas curtas, soube que os Estados Unidos haviam perdido a maior parte de sua safra de fumo e que estavam procurando fornecedores na América Latina para suprir o mercado.

O velho Lyra fez umas contas. Se o quilo de fumo pudesse ser vendido a dez centavos de dólar poderia ganhar um bom dinheiro. Animado, saiu pelas fazendas sondando o preço em cruzeiro e descobriu que poderia comprar pelo equivalente a cinco centavo de dólar dos produtores. Decidiu apostar na ideia.

Mandou um telegrama, via Weston, para a sede da empresa no Brasil se colocando à disposição. A resposta veio no mesmo dia. A empresa americana mandaria um representante direto de Nova Iorque para comprar o que tivesse.

O problema é que o velho Lyra não falava uma palavra de inglês. Mas resolveu encarar o americano quando ele chegou. Com um intérprete, ele mostrou o que tinha e disse que poderia entregar até 50 vezes mais.

Depois do almoço, o Mister perguntou o preço. O velho Lyra tomar ar e disse “ten!”. O americano não acreditou e disse “ten? E ele disse para o intérprete: “Ten e não baixo um centavo!” O americano desse “Ten! Closed. Thank you very much, Mister Liya”

No dia seguinte, Lyra saiu comprando fumo de todas as propriedades e ajustou a entrega para o Porto do Recife.

Foi aí que teve a maior surpresa de sua vida. O americano entendera ten como 10 dólares e não 10 cents. E quando ele disse que não baixaria um centavo, ele teve a certeza de que eram 10 dólares. O velho Lyra ficou rico por não saber uma palavra de inglês.

A história do servidor que teria proposto uma propina de U$ 1 por vacina que conseguisse comprar, deveria se tornar um enorme problema para as partes se o negócio fosse feito com empresa Davati Medical Supply.

Segundo denúncia do jornal Folha de São Paulo, o executivo Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou a propina em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, no dia 25 de fevereiro.

Como a proposta era de US$ 1 por cada uma das 400 milhões doses, significava US$ 400 milhões a serem pagos pela vendedora, um valor que em rela significaria, pelo menos, R$ 2 bilhões ao câmbio atual.

Mesmo no Petrolão do PT não há nenhuma operação que tenha rendido isoladamente uma propina de R$ 2 bilhões. Mesmo o acordo de leniência que a Petrobras, que tem valores próximos a isso, se referem a vários contratos de locação de plataformas.

O valor de US$ 1 dólar por vacina também poderia significar 10% de propina se o imunizante fosse vendido a US$ 10, o valor que, por exemplo, o Consórcio Nordeste está pagando pelas vacinas Sputnik.

A ideia que passa é que os autores também não fizeram as contas sobre o montante na negociação. A compra de 400 milhões de doses da vacina a AstraZeneca era grande demais para a empresa multinacional não assumir as negociações diretamente pois o contrato chegaria US$ 4 bilhões. O valor é duas vezes mais que o orçamento de guerra reservado no ano passado para compra vacinas - e que não foi usado.

Uma coisa que aparece absurda. É como se, fechada a negociação, o dinheiro seria internalizando para o Brasil ou colocado em algum paraíso fiscal, podendo ser facilmente rastreado.

Das duas uma. Ou o diretor do MS estava apenas atrapalhando as negociações da AstraZeneca em favor de outras vacinas ou não tinha ideia do que isso representaria em termos de entrega do dinheiro da corrupção.

Só que, diferentemente do velho Lyra, todos nessa negociação sabiam falar inglês.

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