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Joel Datz, que vendia parafusos, gostava mesmo era de badalar num evento

Judeus tradicionais, embora não ortodoxos, eles estiveram literalmente em milhares de eventos. Tinham uma certa organização na administração da agenda, que se resumia das 18h às 22h

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Fernando Castilho

Publicado em 16/07/2021 às 16:25 | Atualizado em 16/07/2021 às 17:18
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Abrahão e Joel Datz tinham uma pequena loja de porcas e parafusos na Rua da Palma, que as pessoas que entravam nela não sabiam como eles controlavam o estoque e se ganhavam dinheiro, dada a especular desorganização do estabelecimento comercial. Joel Datz morreu nesta sexta-feira, no Recife.

A loja funcionava até as 17h de segunda a sexta-feira e, pelo que diziam os concorrentes, os produtos não tinham preços muito baixos.

Mas o endereço era conhecido de todo o mundo cultural, embora poucas pessoas tivessem ido ali para comprar material de fixação.

O endereço da firma passou integrar o livro Sociedade Pernambucana, do colunista João Alberto, já que ninguém sabia onde moravam os Irmãos Evento.

O curioso dessa trajetória desses dois personagens da vida cultural de Pernambuco é que eles se tornaram importantes por prestigiar todos os eventos culturais da cidade nas décadas de 80 e 90. Por iniciativa do jornalista Ronildo Maia Leite, eles viraram tira de quadrinhos das edições de segunda-feira do Jornal do Commercio, graças ao traço de Clériston. 

Pouca gente lembra, mas quando os dois judeus, Joel e Abrahão Datz, começaram a circular, o pessoal da "esquerda paranóica" achava que eles eram agentes do Mossad, de Israel, a serviço da CIA. Muito "comunista de beira de piscina" evitava conversar com a dupla achando que por estarem presentes na vida social do Recife, faziam alguma investigação.

Até hoje, ao que se sabe, a única investigação que Joel e Abrahão Datz faziam era na mesa de doces e salgadinhos. Embora não se tenha notícia de nenhuma crítica deles aos comes e bebes. Bebes no sentido de sucos e refrigerantes, já que eles não ingeriam nenhum tipo de bebida alcoólica.

Judeus tradicionais, embora não ortodoxos, eles estiveram literalmente em milhares de eventos. Tinham uma certa organização na administração da agenda, que se resumia das 18h às 22h.

Pelo que contam seus amigos, eles sempre chegavam nos eventos que começavam mais cedo e iam indo de um para outro, de modo que estavam sendo vistos em todos eles até as 22h.

Outra coisa interessante do perfil do Irmãos Evento é que eles estavam em todos os eventos sociais e eventos sociais políticos do antigo PFL ao PMDB, e até mesmo do PPS e do PV. E é claro, nos eventos oficiais do Governo.

Assim como a morte de Joel Datz, de 76 anos, nesta sexta-feira, dia de Nossa Senhora do Carmo, o Recife lamentou, em 1995, a morte de Abrahão Datz, aos 52 anos.

Sabe-se hoje que Joel chorou a morte do irmão por um ano, deixando de ir aos eventos. E mesmo depois disso, ele se tornou um pouco mais seletivo nas suas aparições.

Eles não eram gêmeos, como chegou-se a pensar. Abrahão Datz era cinco anos mais novo que Joel e ambos eram solteiros.

A morte de Joel Datz deixa o Recife mais triste. O comércio já tinha perdido a firma de parafusos há mais de 10 anos, quando Joel fechou a empresa com a morte de Abrahão. Mas a cidade perde com a partida desse importante personagem.

E para os que os conheceram, é hora de recitar a tradicional benção judaica:

“Bendito sejas Tu, Senhor, nosso Deus, Rei do Universo, o Verdadeiro Juiz.” 

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