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Constrangidos, governadores agora sabem que russos tinham desistido de vender vacinas ao Brasil há muito tempo

Os governadores dos estados do Consórcio Nordeste nunca admitiram que pleiteavam as mesmas condições de São Paulo, onde a União no final assumia o pagamento

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Fernando Castilho

Publicado em 05/08/2021 às 16:20 | Atualizado em 05/08/2021 às 19:10
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Os governadores do Nordeste, enfim, desistiram de importar a vacina Sputnik V. Demorou. Há duas semanas, quando, segundo eles, tudo parecia encaminhado, o Fundo Soberano Russo de Investimentos pediu 48 horas para enviar as primeiras doses, e daí eles (governadores) deveriam aceitar a realidade de que os donos da vacina russa já tinham desistido da venda.

Na verdade, há muito tempo os russos não queriam mais vender ao Brasil, porque não estavam interessados no negócio e muito menos em seguirem as exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que enviassem, numa primeira etapa, quantidades suficientes para apenas 1% da população.

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Desde o dia 4 de junho, a Anvisa autorizou em caráter excepcional pelo Brasil, em quantidades específicas, para fins de distribuição e uso em condições controladas determinadas pela Anvisa, uma importação excepcional e temporária correspondente a doses para vacinação de 1% da população de cada um dos estados. Curiosamente, os governadores insistiram no interesse da importação.

Desde então, os representantes do Fundo Russo não deram mais nenhum sinal de estarem interessados. Mesmo assim, os estados continuaram na esperança de fazer a importação. Pernambuco, por exemplo, chegou a enviar para a Assembleia Legislativa um pedido de importação de 4 milhões de doses ao custo de US$ 49 milhões, equivalentes a R$ 200 milhões.

Entretanto, o verdadeiro motivo está mesmo numa declaração do ministro Marcelo Queiroga, há duas semanas, informando que não garantiria a inclusão dos imunizantes no PNI (Programa nacional de Imunização) como fez com a CoranaVac, importada pelo governo de São Paulo e que só foi aceita pelo governo federal em dezembro.

O que os governadores dos estados do Consórcio Nordeste nunca admitiram é que pleiteavam as mesmas condições de São Paulo. Ou seja, eles importam, mas quem pagaria era a União.

Os governadores fizeram um pedido de 37 milhões de doses ao custo de US$ 9,95 cada dose. Isso significa dizer que a compra total seria de U$ 370 milhões. Ou R$ 1,915 bilhão.

Ora, nenhum estado do Nordeste pode bancar essa despesa. Muito menos quando o Ministério da Saúde está prometendo enviar em agosto 60 milhões de doses. E como o ministro Queiroga disse que não iria inclui-las no PNI, não havia outra opção a não ser o cancelamento da importação com o discurso de que não foi possível vencer as dificuldades.

Seria mais simples para eles dizerem que, como o Brasil está recebendo mais vacinas, ao ponto de já poder pensar em chegar a 70% do público-alvo em outubro, a importação tornou-se desnecessária.

Mas eles vão continuar acusando o governo e a Anvisa de atrapalharem. Pode-se dizer que a Anvisa, de fato, não facilitou e exigiu que a Sputnik se submetesse aos mesmos critérios das demais.

Apesar do encerramento do processo, eles vão continuar fazendo do fracasso da importação um ato de resistência ao governo federal. Faz parte do embate, depois do desastre que é a condução do governo federal no enfrentamento da covid-19, e que eles ganharam perante a sociedade.

E aqui para nós. Depois de tudo que estamos vendo com a indiana Covaxin, por que motivos os governadores deveriam se meter numa confusão de importar vacinas que não atendem às exigências da Anvisa? Ganhariam o quê?


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