Por permanência no cargo, Marcelo Queiroga constrange amigos e entidade que presidiu
O ministro disse que o Brasil tem muitas leis, e as pessoas, infelizmente, não observam. O uso de máscaras tem de ser um ato de conscientização.
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga constrange os associados da Sociedade Brasileira de Cardiologia da qual foi presidente e que por estar no cargo teve acesso ao governo.
Nesta quarta-feira ao canal bolsonarista "Terça Livre", investigado pela CPI da Covid ele disse que ser contra a obrigatoriedade das máscaras como foi adotado por 10 entre 10 especialistas e infectologistas.
Segundo o ministro “O Brasil tem muitas leis e as pessoas, infelizmente, não observam. O uso de máscaras tem de ser um ato de conscientização”
Conversa de quem ficar no cargo ainda que no futuro não tenha muito que se orgulhar.
Ao ministro da Saúde de qualquer país não é dado direito de invocar comportamento cívico no momento de uma pandemia.
Mas é preciso olhar o perfil do ministro, sua careira como profissional e seus objetivos como dirigente de entidade.
Ao longo dos anos, o “associativista” Marcelo Queiroga entrou no movimento associativo pela periferia.
Ele chegou a presidente da SBC a partir de um acordo com as entidades da Região Sul e Sudeste que exigiram que a médica Ludhmila Abrahão Hajjar (que foi convidada e recusou cargo de ministra da Saúde) para a nova Diretora Extraordinária de Ciência Tecnologia e Inovação. Queiroga lhe prometeu a nova diretoria de uma velha da SBC.
É importante pontuar. Marcelo Queiroga nunca foi conhecido pelas posições firmes nem pela performance como cardiologista.
Na diretoria da SBC, seu sonho era uma das vagas na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Mas aí a recusa de Ludhmila Abrahão Hajjar ao cargo de ministra, a vaga de ministro da Saúde lhe caiu no colo.
Desde então Marcelo Queiroga vem se esgueirando no cargo. Ele tentou levar alguns colegas sérios para cargos no primeiros escalões, mas não conseguiu. Quem tinha currículo não aceitava, quem aceitava não tinha currículo aprovado pelas redes bolsonaristas.
Curiosamente, ele vem resistindo. Mas vai, a cada dia, renunciando a seus princípios ou dos princípios dos colegas da entidade que o elegeram para a SBC. Nesta quarta-feira ele constrangeu a classe de cardiologista com esse discurso irresponsável.
Chamado na Comissão Parlamentar de Inquérito, o ministro bradou ao dizer que assumir o cargo editou uma portaria obrigando o uso de máscaras no Ministério da Saúde, "porque nós julgamos isso importante".
Dois meses depois Queiroga diria o contrário ao lado de Jair Bolsonaro.
O problema do ministro é que ele está naquele grupo que não tem muito o que dá ao país.
Até hoje ele não tomou posse efetiva da máquina da pasta. Na verdade, as secretarias e cargos mais importantes ainda estão ocupados por pessoas de fora dos quadros do ministério, boa parte militares e indicados pelo general Eduardo Pazzuello.
Servidores com experiência foram deslocados e a pasta nunca conseguiu implantar um Programa Nacional de Imunização firme. Marcelo Queiroga vai levando.
O problema é que Bolsonaro cobra. O presidente o chamou para a entrevista do site Terça Livre para ele dizer o que ele quer. Se o ministro não dissesse, seria demitido na hora e pelo cargo ele contrariou toda ciência.
O presidente que não é médico, embora as vezes se comporte como tal, pode dizer isso ainda que seja uma irresponsabilidade.
O ministro da Saúde, não.
A subprocuradora geral da Republica, Lindôra Araújo pode dizer, como disse, que o presidente Jair Bolsonaro não cometeu crime ao aparecer sem máscara e gerar aglomeração em eventos públicos embora contrarie ao menos 20 estudos sérios.
O ministro da Saúde não.
Quando ele faz esse tipo de posicionamento, ele não cria problemas para todas as equipes exigir isso até mesmo dentro da sede do ministério da Saúde. Ele envergonha a classe e a entidade que lhe deu abrigo e o elegeu presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.