Bolsa cai quase 4%, frustrada com as reações dos demais poderes a discursos de Bolsonaro no 7 de setembro
Mercado tem reação negativa às críticas de Bolsonaro, e mais ainda às respostas dos demais poderes a elas
O mercado deu seu recado. Ao cravar uma queda próxima de 4%, no pregão desta quarta-feira (8), os agentes financeiros brasileiros firmaram um posicionamento bem mais afirmativo que o Judiciário e o Legislativo diante dos ataques do presidente Jair Bolsonaro. Com quedas bem intensas de empresas como Vale, Petrobras, Eletrobras além dos bancos Itaú, Bradesco e o Banco do Brasil.
O mercado avaliou que a escalada do presidente nos ataques, cada vez mais duros, ao STF - inclusive chegando a nominar ministros - não teve uma reação mais firme dos demais poderes cujos presidentes falaram a partir de vídeos e notas oficiais para reagirem aos ataques do presidente da República diante de apoiadores.
O dado mais importante do comportamento do mercado na Bolsa foi mesmo a forte quedas das estatais acima de 4,5% além da Vale. Isso mostra, claramente, que os investidores perderam ainda mais a confiança no governo indicando que devemos ter mesmo uma maior queda de investimentos nos próximos meses.
Como é do ramo, o mercado faz contas simples mirando janeiro de 2022 e não encontrou respostas para questões básicas como a PEC dos precatórios, a aplicação do OGU de orçamentos claramente fictícios e se assusta com a previsão de gastos embutidos em emendas parlamentares que somadas acrescentam uma maior pressão sobre as finais do orçamento.
O mercado financeiro atua olhando para 180, 360 dias e períodos mais longos do Governo.
Segundo o Jornal o Estado de S. Paulo, Às 16h35, o Ibovespa, principal índice da B3, a Bolsa de São Paulo, atingiu nova mínima do dia, em baixa de 3,86%, aos 113.323,74 pontos. No câmbio, o dólar à vista era negociado a R$ 5,3251, com alta de 2,87%.
Sempre é importante lembrar um fato ocorrido no mês de agosto quando Michel Temer assumiu o governo e os juros de longo prazo caíram 50%. Isso se deu com os títulos brasileiros porque o novo governo pilotado por Henrique Meirelles ganhara perspectivas.
No caso do Governo Bolsonaro dar-se o inverso. A lista de as incertezas fiscais vai desde as discussões sobre o novo programa social que não se sabe de onde virão os recursos a questões como a legislação do Imposto de Renda que vai prejudicar o mercado de ações.
O projeto do IRPJ foi aprovado sem levar em contas a sua repercussão na economia, quase como um capricho do presidente da Câmara, Artur Lira, que claramente revela incapacidade de entender a dimensão de questões econômicas.
Nesta quarta-feira, os analistas precisaram se esforçar para entender o que o presidente da Câmara Federal quis dizer com o discurso gravado em vídeo onde afirma que:
“A Câmara dos Deputados está aberta a conversas e negociações para serenarmos. Para que todos possamos nos voltar ao Brasil real que sofre com o preço do gás, por exemplo”, afirmou o deputado. Segundo ele, a Câmara pode ser “uma ponte de pacificação entre Judiciário e Executivo”.
Da mesma forma em que só encontrou alguma afirmação mais forte na reação do presidente do STF no trecho em que ele diz que “Ninguém fechará esta Corte. Nós a manteremos de pé, com suor e perseverança. No exercício de seu papel, o Supremo Tribunal Federal não se cansará de pregar fidelidade à Constituição".
Entretanto, o que mais surpreendeu os analistas foi a ausência de um pronunciamento do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco que após conversar com o líder do Governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho decidiu não se pronunciar sobre os ataques do presidente levantando as suspeitas de que pode não devolver a MP que o presidente editou mudando regras do Marco Regulatório da Internet.
Havia uma forte expetativa dos empresários que os presidentes dos poderes Legislativo e Judiciário respondessem com gestos mais firmes. Como isso não aconteceu as ações despencaram no final da tarde se aproximando dos 4% com as ações da Petrobras e dos grandes bancos caído mais de 5%.