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Para agradar Bolsonaro, Queiroga fará tudo contra vacinação da covid-19

Ministro está disposto a enfrentar comunidade cientifica para permanecer a frente do ministério da Saúde

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Fernando Castilho

Publicado em 17/09/2021 às 14:00 | Atualizado em 17/09/2021 às 15:28
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O médico Dráuzio Varella, o ex-ministro Henrique Mandetta e a Mãe Beth, respeitada filha de Oxum de Guadalupe, em Olinda, reconhecida com o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, sabem que o que levou o Governo a recomendar que adolescentes sem comorbidades não sejam vacinado não é a falta de estudos sobre a vacinação, mas a falta de imunizantes para atender - além desse público - a meta de aplicar uma terceira dose no mais velhos.

O constrangedor nessa fato é o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se prestar ao papel de levantar dúvidas sobre a segurança na imunização destes jovens quando o próprio presidente Jair Bolsonaro afirma, na sua live semnal, que o pressionou para parar a vacinação.

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O estrago na atitude pouco honesta do ministro já está feito com milhares de jovens temendo a vacina. Entretanto, o mais grave é que, ao pedir uma parada na vacinação, o presidente não está preocupado com a possibilidade de não ter até dezembro todas as vacinas. O presidente está atendendo à pressão de seus apoiadores negacionistas que viram risco na aplicação das doses.

O Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, tem uma população fortemente apoiadora da vacinação. Mas temos, também, segmentos que incialmente negaram a covid-19, depois foram contra as vacinas CoronaVac, depois contra a permanência das medidas não farmacológicas (como as máscaras) e, agora, são contra vacinar adolescentes. É um equívoco. Mas vai dizer isso na internet?

O presidente como cidadão parece concordar com essas ideais e decidiu pressionar o frágil Queiroga para ele agir. O ministro atendeu embora sabendo que todo o mundo acadêmico iria lhe desmoralizar. Mas quem disse que o ministro da Saúde está preocupado com sua reputação?

Mas é importante saber que, a despeito de o Brasil ter contratado mais de 500 milhões de doses de vacinas o que, em tese, será suficiente para vacinar toda sua população acima de 12 anos e ainda aplicar uma terceira dose nos adultos com mais de 60 ano existe, de fato, um déficit nas entregas.

No site do Ministério da Saúde é possível obter-se uma visão geral que permitiria a um ministro honesto para com a população explicar que precisamos de alguma forma gerenciar essa conta um pouco melhor.

Como afirmou o médico Dráuzio Varella seria bem mais simples o Marcelo Queiroga afirmasse: Senhores, precisamos organizar essa distribuição pois sem isso podemos ter uma crise nos próximos meses. Como o Brasil só comprou 200 milhões de doses da Pfizer, só podemos vacinar 100 milhões de pessoas e, portanto, temos que fazer o ajuste.

Esse argumento é poderoso.

No site do MS está escrito que este mês o Governo brasileiro vai entregar 64,6 milhões de doses. Serão 12 milhões da AstraZeneca, 7,1 milhões da SinoVac e 45,5 milhões da Pfizer. Em tese, daria para fechar as vacinas da primeira dose e começar com o idosos e manter os adolescentes.

A partir de outubro, as coisas melhoram porque devem chegar 5,1 milhões do consórcio Covax (AstraZeneca), e serem iniciadas as entregas da Janssen (36 milhões), mais 100 milhões da Pfizer do segundo contrato e, finalmente, começarem as entregas da Fiocruz (AstraZeneca) feitas no Brasil.

Finalmente, o ultimo lote do Covax de mais 25 milhões. Ou seja, até dezembro o Brasil terá doses para fechar sua campanha. Mas isso exigirá ajustes. Desde que organize o PNI.

Depois de ter entregado mais de 265 milhões de doses e aplicado mais de 215 milhões não faz sentido agora o governo federal gerar estresse.

Mas quem disse que Bolsonaro vive sem um estresse? Como afirma o Mandetta, criticando a pseudopreocupação do Queiroga: "Essas vacinas são feitas em função de recomendações não só do laboratório, mas da Organização Mundial da Saúde e de todas as sociedades de especialidade. Aqui no Brasil, quem deve zelar pelos efeitos adversos é a Anvisa.”

E para constrangimento do Ministro, a Anvisa afirma que com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada, destacadamente quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos. E que aprovou a utilização da vacina da Pfizer para crianças e adolescentes entre 12 e 15 anos, em 12 de junho de 2021.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga está disposto a tudo para agradar o presidente. Ele não terá receio em destruir sua (pouca) reputação para merecer a confiança do presidente. Tem pessoas que são assim. Ela sabe que o lugar na História não lhe legará boas afirmações.

 

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