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Mau perdedor, Paulo Guedes sempre se apoia em Bolsonaro para avalizar suas falhas no Ministério da Economia

O problema do ministro é que ele não está entregando. E quando perde o embate político, corre para debaixo da asa de Bolsonaro

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Fernando Castilho

Publicado em 24/10/2021 às 19:00 | Atualizado em 24/10/2021 às 21:20
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Paulo Guedes se formou na UFMG, fez mestrado da FGV e doutorado na Universidade de Chicago e entrou no noticiário pelas críticas ao Plano Cruzado de José Sarney. De uma forma tão catastrófica que, em Brasília, os economistas do Governo chamavam ele de Beato Salu, o personagem de Roque Santeiro que anunciava o fim do mundo.

Guedes, de fato, não tem a cara do ator Nelson Dantas na novela, mas quando o bicho pega a imagem que transmite é de menino corão.

O mundo girou, ele virou gestor de banco de investimentos, ficou rico e escreveu artigos para revistas de Economia. Dentro da Academia não se tem notícia de artigos acadêmicos do professor Paulo Roberto Nunes Guedes.

Até que conheceu Bolsonaro -apresentado pelo falecido Gustavo Bebianno - e “converteu” o candidato a presidência do PSL ao liberalismo ortodoxo. Virou ministro da Economia do jeito que queria comandar a economia.

Guedes juntou uma constelação de liberais para entrar no Governo, muitos deles sem ter a mínima ideia de como funcionavam, as chamadas camadas da máquina pública. Muitos não sabiam que tudo tem que ter parecer jurídico e que nenhum ordenador de despesa põe seu CPF sem ter segurança de que a CGU ou o TCU não vai indiciá-lo.

O mais grave era que Guedes, também, não sabia muito como o setor público funciona. Parece que até hoje não aprendeu. Daí porque Paulo Guedes sempre se apoia em Bolsonaro para avalizar suas falhas como gestor e negociador político.

O problema do ministro é que ele não está entregando. E quando perde o embate politico corre para debaixo da asa de Bolsonaro.

GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO
Encontro de reaproximação entre os dois pode acontecer hoje na casa de Bruno Dantas, ministro do TCU - GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO

Guedes não tinha seis meses de Governo quando bateu, de frente, com o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ele criticou o relatório da reforma da Previdência apresentado pelo deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP).

O Congresso também não gostou quando Jair Bolsonaro demitiu, pela imprensa, Joaquim Levy da presidência do BNDES, num fim de semana. Guedes não "segurou a barra" de Levy, um dos mais respeitados quadros do Governo Federal e ex-ministro da Fazenda.

Guedes foi salvo pela habilidade de Rogério Marinho que foi "escalado" para falar em nome da Reforma da Previdência, tendo entregado o texto final, sem muita ajuda do ministro, que já tinha perdido a confiança da casa.

Todo mundo achava que Guedes iria tocar as demais reformas. Mas veio a pandemia e ele falhou de novo nas conversas. Pegou um novo atrito com Maia e, de novo, como menino abusado, decidiu se afastar da tarefa de negociar as demais reformas estruturantes apresentadas por ele mesmo ao Congresso.

Bolsonaro o socorreu e assim começou a entrada do Centrão para ter a missão de cuidar da política do Planalto.

Em setembro do ano passado, Guedes trombou novamente com Maia. Guedes se desculpou e Maia voltou a falar sobre a importância da agenda de reformas.

Novamente, Guedes pediu ajuda do presidente para lhe avalizar. Nesse tempo, o fiel escudeiro do presidente do Senado, Davi Alcolumbre o defendeu dizendo que há uma “agenda republicana a favor do Brasil”.

Em outubro, Guedes mandou o projeto reforma administrativa e Rodrigo Maia destacou o tom de harmonia. Eles afirmaram que a comissão para a reforma administrativa seria formada até o fim daquele mês. Pura conversa. Como a reforma do Imposto de Renda no Senado, ela empacou e está parada na Câmara.

Com Arthur Lira (eleito em fevereiro) e afinado com Bolsonaro, Guedes começou a mandar propostas ruins que Lira que foi aprovando no grito, mas que esbarraram no Senado.

Pedro Gontijo
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), concede entrevista coletiva na residência oficial ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes. Pacheco e Guedes defendem uma solução judicial para desatar o nó do pagamento dos precatórios em 2022 e, assim, liberar o orçamento para aumentar o Bolsa Família. Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal - Pedro Gontijo

Guedes foi confrontar Rodrigo Pacheco. Novamente, entrou a turma do “deixa disso”, e depois de ir a Pacheco, disse que estava empenhado nas reformas Administrativa e Tributária e o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, com medidas complementares para o enfrentamento da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. Mas o projeto do Imposto de Renda continuou empacado e Guedes mais uma vez se socorreu de Bolsonaro depois da crise que durou toda a semana passada.

Neste final de semana, Arthur Lira - que está vendo seus projetos morreram na Câmara - se juntou a Guedes para pressionar Rodrigo Pacheco. Disse que “o Senado não está ajudando” e, em tom de ameaça, lembrou que na Câmara tramita uma série de projetos de interesse dos senadores.

O problema de Paulo Guedes é que ele cria problemas com o Congresso, não articula, e depois vai pedir arrego ao presidente.

Depois de três anos, Bolsonaro tem o melhor ministro da Economia que poderia imaginar. Guedes decidiu servir ao presidente até o último dia do mandato. Ou até o dia em que Bolsonaro o demitir.

E, provavelmente, se isso acontecer sairá dizendo que o presidente foi obrigado a tomar a decisão para salvar o governo.

Parece claro que o ministro liberal de Chicago foi, efetivamente, cooptado pelo presidente e está disposto a servi-lo até quando ficar no cargo.

Bolsonaro nunca pensou em demitir o Paulo Guedes. E Guedes sabe que vai poder continuar brigando com todo mundo porque Bolsonaro vai lhe defender contra os valentões do Congresso.

Na verdade, Guedes não entregou nada além da Reforma da Previdência - que ele nem negociou. Ao longo do governo, ele foi perdendo respeito, e hoje a conta que se faz é a de quanto suas decisões vão custar.

Como Jair Bolsonaro, ele está sempre cobrando que os outros ajudem o Governo. Foi com Rodrigo Maia, com Rodrigo Pacheco e agora com Roberto Campos Neto. Tipo o personagem Chaves na fala de que “ninguém tem paciência comigo.”

Agora, imagina esse quadro para conduzir a economia de um País sofrendo uma crise que o Brasil vive e que os dois causaram?

Reprodução/Agência Brasil
Bolsonaro e Guedes visitaram feira de pássaros neste domingo (24), em Brasília - Reprodução/Agência Brasil

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