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Bolsonaro e Guedes anunciam possível venda da Petrobras e ninguém no mercado financeiro leva a sério

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes conseguiram uma façanha de classe mundial. Admitiram que trabalhavam num projeto sobre a venda da Petrobras e ninguém acreditou

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Fernando Castilho

Publicado em 26/10/2021 às 16:20 | Atualizado em 26/10/2021 às 17:06
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A sabedoria popular ensina que só se deve falar quando alguém quiser lhe ouvir. E a sabedoria política diz que deputado e senador fazem discurso. Já presidente, faz pronunciamento. Quando um presidente fala, tem custo social, político e econômico.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes conseguiram uma façanha de classe mundial. Admitiram que trabalhavam num projeto sobre a venda da Petrobras e ninguém acreditou.

Na verdade, as ações da Petrobras no final do pregão de segunda-feira até subiram, mas nesta terça (26) - junto do Vale, Itaú, Bradesco e a própria B3 -, ajudaram a puxar para baixo o índice Ibovespa.

Aqui para nós e o povo das mesas de operação do mercado de bolsa, a ideia foi recebida como mais uma tentativa do governo de se livrar das manchetes do noticiário de mais uma subida de gasolina e óleo diesel, que a própria Petrobras comunicou.

O assunto privatização da Petrobras é tema para qualquer governo sério em qualquer lugar do mundo. Dependendo do interlocutor, pode fazer não só a B3 ter fortes oscilações, até porque Petrobras, Vale, Bradesco e Itaú forma o quarteto fantástico das mais negociadas.

Numa situação normal, se o ministro da Economia admite que está conversando sobre o tema já é um grande “inside information”. Se o presidente fala disso em público, a oposição nacionalista no Congresso sai enfurecida na crítica.

Com Bolsonaro e Guedes, o poço do mercado olha de soslaio, faz uma careta e dá uma gargalhada.

O problema é que vender a Petrobras não é uma coisa simples. Tem que ter projeto bem fundamentado e argumento para enfrentar uma tempestade no Congresso. E tem que combinar com os sócios, estrangeiros, principalmente, que hoje tem mais dinheiro na companhia que o Governo brasileiro.

Além disso, essa “conversinha” - o termo é esse mesmo "conversinha" - de dizer que o governo admite, está a um oleoduto de distância da realidade. A começar que precisa de um fato relevante publicado depois do enceramento dos pregões da B3 (Brasil) e da NYSE (EUA).

Mas tem gente que adora o assunto. E deputado que se enfurece com a notícia. No Congresso, tem todo tipo de gente que anda à procura de um tema para um discurso no pequeno expediente.

Entretanto tem uma coisa seria na afirmação. Quando o ministro da Economia diz que, daqui há 30 anos, a Petrobras não vai ter nenhum valor de mercado, é sério. E de certa forma ela está atuando com o um importante agente público que deprecia um ativo do Estado.

Num país sério, e se tivesse um mínimo de credibilidade, ele seria chamado a dar explicações no Congresso uma vez que tem influência sobre os representantes do Governo do Conselho de Administração da estatal. Até porque fez as declarações no meio do pregão.

Agora quem hoje no mercado está interessado no que Bolsonaro e Guedes afirmam sobre a Petrobras?
Ninguém leva a sério e no lugar da notícia que teoricamente faria as ações explodir diante da perspectiva de uma gestão mais profissional, não aconteceu nada.

Mesmo que nos últimos anos a Petrobras tenha se tornado uma empresa que foca apenas no petróleo, quando suas concorrentes estão cada vez mais se transformando em empresas de energia.

Um bom debate seria o de que a estatal está atuando naquela estratégia de CEO que mira resultados no exercício para receber seu bônus de desempenho enquanto a empresa vai secando.

A Petrobras como empresa de petróleo está secando mirando apenas o pré-Sal. Isso é um risco sério para o futuro da companhia. Mas quando Paulo Guedes diz isso, ninguém leva a sério. O que, de fato, é muito grave.

É aquela historia do só fale quando alguém quiser lhe ouvir. E ninguém nesse momento quer ouvir o ministro.

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