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Com Selic de quase 10% em dezembro, desafio do Banco Central é segurar alta da inflação em ano de eleição

Para André Braz, da FGV, "a inflação vai continuar batendo à nossa porta até abril do ano que vem"

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Fernando Castilho

Publicado em 11/11/2021 às 11:20 | Atualizado em 11/11/2021 às 15:26
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A inflação tinha chegado a 0,86%, em fevereiro de 2021, segundo o IPCA, quando o Banco Central, finalmente, decidiu elevar a Selic para 2,75%. Isso depois de cinco reuniões com a taxa de 2% e o discurso de que a alta dos preços em dezembro (1,35%) não caracterizava tendência da alta.

Entretanto, mesmo com a volta da elevação do IPCA, o BC ainda não via que o fenômeno da inflação de volta. A despeito de alguns economistas advertirem para os números. O BC não achava assim.

No Relatório de Inflação de março 2021, por exemplo, o Banco Central previu, no curto prazo, a continuidade da alta dos preços dos combustíveis e persistência da pressão sobre preços de bens. Mas avaliou que, em sentido contrário, o agravamento da pandemia contribuiria para manter baixas as variações de preços de serviços. Não deu certo.

A inflação de outubro com a Selic cravando 1,25% mostrou que o BC virou passageiro na locomotiva da inflação. Na verdade, quando o BC decidiu intervir iniciando a tendência de altas (de 3,50% em maio para 7,75% em outubro), a inflação já tinha disparado com altas sucessivas até chegar aos 10,67%, nos 12 meses anteriores. Isso mostra que a tendência de preços não baixou, como previsto.

Ninguém mais no mercado acredita que nas próximas reuniões do Copom de dezembro e na seguintes em 2022, as taxas não sejam elevadas. O mercado já fala abertamente que em 2022 o Brasil volta às taxas de mais de 10% na Selic.

Assim como não há expectativa de baixas nos preços até abril porque, desta vez, a inflação não é de demanda, mas de custos das matérias primas.

Alias o próprio coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz “A inflação vai continuar batendo à nossa porta até abril do ano que vem”

Segundo o economista, deve começar a ser sentido no bolso do consumidor com o fim da bandeira escassez hídrica na conta de luz, prometida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a partir de maio.

A questão da inflação como fator de aumento das taxas de juros fez o Copom já avisar que na próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária. O seja em dezembro o Brasil rompe o ano com selic de pelo menos 9,25%.

Taxa de inflação acima de 10% e Selic acima de 10% não é bom para ninguém. Foi a combinação de Selic em 14,25% - entre julho de 2015 e outubro de 2016 - com inflação alta entre novembro de 2015 (10,48%) e fevereiro de 2016 (10,36%), que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.

O que será de Bolsonaro em 2022?

Como se sabe, há uma enorme expectativa do presidente na ideia que de que pagando R$ 400 a 17 milhões de famílias inscritas no CadÚnico, do Ministério da Cidadania, possa reverter sua baixa taxa de aprovação entre janeiro e dezembro de 2022. Metade dessas famílias está no Nordeste e ainda se lembram do tempo em que compravam carne e frango, recebiam casa popular e havia emprego para baixa renda.

O risco de dar errado é grande, mas a PEC já assegurou as emendas dos deputados. Bolsonaro pagou à vista, mas comprou fiado.

 

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