Nos Correios, mais um general enviado por Bolsonaro entrega lucro numa estatal. Privatização fica mais difícil
Os Correios registraram lucro de R$ 3,7 bilhões em 2021, valor que representa o dobro do registrado em 2020 e representa o melhor resultado nos últimos 22 anos
No mercado financeiro, é comum o acionista controlador de uma empresa em crise chamar um executivo de alta qualidade para prepará-la para venda.
Quando o presidente Jair Bolsonaro decidiu colocar nos Correios o general Floriano Peixoto, transferindo-o da Secretaria Geral da Presidência, pediu resultados. E já na posse, ele se disse um soldado do presidente. Fora da empresa, o mercado achou que a missão era seguir a cartilha do ministro Paulo Guedes e preparar a companhia para a privatização.
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Três anos depois, a missão do general é tida no mesmo mercado como um case de gestão, pois ele só entrega lucro.
No ano passado, os Correios registraram lucro de R$ 3,7 bilhões em 2021, valor que representa o dobro do registrado em 2020 e representa o melhor resultado nos últimos 22 anos.
Foi o terceiro ano seguido de ganhos na estatal, que aumentou o volume de operações e receitas durante a pandemia de covid-19.
Os Correios sempre foi um feudo do PTB nos tempos de Roberto Jefferson. Foi de lá que saiu o vídeo de um indicado do partido recebendo uma propina e colocando do bolso do paletó, que foi exibido no Jornal Nacional.
Mas desde que Floriano Peixoto chegou, a coisa mudou radicalmente. Hoje ele evita comentar o processo de privatização dos Correios. Apenas disse que a empresa tem condições de competir no mercado.
Tem mesmo. Os números apresentados pelo general na estatal são exuberantes.
Segundo Floriano Peixoto, a melhoria nos resultados decorreu do saneamento financeiro e das medidas de sustentabilidade econômica executadas nos últimos anos. E lembrou que a empresa conseguiu crescer, apesar dos obstáculos impostos pela pandemia.
Na verdade, a pandemia pode ter ajudado a “salvar” os Correios, com a migração do comércio eletrônico para a instituição. Primeiro porque quem primeiro entrou no e-commerce só conhecia o serviço Sedex.
Depois, porque os Correios se organizaram e atenderam ao mercado.
As receitas na pandemia explodiram e a empresa até parou de demitir, maximizando o pessoal com a redução do custo encomenda entregue para o funcionário. No ano passado, a Black Friday ajudou a consolidar a estratégia.
“Consideremos que, em 2021, ocorreu a maior Black Friday dos últimos anos no que se refere ao volume de encomendas. Mesmo com as dificuldades inerentes à pandemia, toda a demanda decorrente do aumento de transações no período foi absorvida pelos Correios”, destacou.
O crescimento da empresa ajuda na resistência à ideia de privatizar a empresa. Segundo o secretário Geral da Federação Nacional Dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares, José Rivaldo da Silva, "o governo Bolsonaro não pensa nos interesses públicos, apenas quer entregar a todo custo empresas públicas históricas do país. Um dos exemplos é a nossa empresa, os Correios".
Para ele, “a privatização do serviço postal trará sérios problemas para o País, gerando um apagão postal.”
Não é bem assim, mas na melhor das hipóteses, o valor de mercado da estatal subiu. Primeiro, ela está pagando seus passivos e aumentando as receitas.
Assim, da mesma forma que ajuda a Paulo Guedes e Bolsonaro, que defendem a privatização para melhorar ainda mais a performance e, portanto, vender a empresa quando ela está saudável, os sindicalistas dizem que não faz mais sentido, porque a empresa está saudável.
De qualquer forma, não dá para não reconhecer que mais um general está entregando lucro a uma empresa estatal.
Bolsonaro mandou Silva e Luna para a Petrobras para tentar reduzir os preços dos combustíveis e ele entregou o maior lucro da história da companhia, com 106,9 bilhões.
Floriano Peixoto entregou um lucro de R$ 3,7 bilhões em 2021, valor que representa o dobro do registrado em 2020, também o maior da história da empresa.