Explosão do IPCA de março só foi surpresa para o presidente do Banco Central, que diz analisar tendência
Banco Central é locomotiva que se antecipa ao crescimento da inflação e traça políticas claras para pressionar e ela não disparar. Se não faz isso, virou passageiro
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (11), falando num seminário promovido pela Arko Advice e Traders Club, que a taxa de 1,62% no IPCA de março foi uma surpresa.
Ele lembrou que já tinha mencionado em uma das suas apresentações que o BC estava vendo uma velocidade de passagem do combustível para a bomba mais rápida. E que, por isso, esse índice [de março] seria um pouco maior, e o próximo seria um pouco menor. E reconheceu que parte do índice “teve outros elementos, como vestuário, alimentação fora do domicílio”.
Pode ser. Mas a Reunião do Copom (que é quem cuida da defesa da moeda) foi em 16 de março, portanto, já havia uma forte indicação de que o bicho ia pegar.
Roberto Campos Neto tem sido extremamente político na gestão do BC, diferentemente da maioria dos presidentes de BC de outros países, que parecem muito mais preocupados com a inflação doméstica.
Desde o ano passado, quando a inflação medida pelo mesmo IPCA, que o BC está correndo atrás. A taxa de ficou em 2% até 18 de março quando subiu 0,75 pontos percentuais. Quando acelerou o aumento chegando aos 3,50% em junho, a inflação do ano já tinha saltado para 3,77%. E ficou correndo atrás para tentar corrigir. o ano todo.
Se é verdade que Banco Central é a locomotiva que se antecipa ao crescimento da inflação e traça políticas claras para pressionar para que ela não dispare, o BCB virou passageiro.
Tratou a Selic como o pessoal do Boletim Focus trata os sete indicadores que vão se ajustando toda semana suas taxas de modo que no final do ano a taxa de inflação do fica igual a do IBGE. Bom, o pessoal do Focus pode fazer isso. O Copom não.
Talvez o problema de Campos Neto é que ele fica sem pressionar o Governo mesmo com a força que a instituição tem por ser independente.
Ontem ele repetiu o que a imprensa vem falando todo dia: o conflito teve proporções muito maiores do que as inicialmente previstas; que "o choque de oferta decorrente do conflito tem potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em países desenvolvidos como emergentes e que a crise energética que se apresentou perante o mundo aumenta os desafios na transição para uma economia verde".
Aqui para nós e o povo da rua: neste momento, alguém na Alemanha, nos Estados Unidos e na Europa está preocupado com a agenda de economia verde no curto prazo?
Ele disse que concentração dos fluxos de comércio se dará nos setores de energia e alimentos. Grande observação. Isso já está decidido desde o começo de 2022 quando a perspectiva de guerra mudou todo o patamar da economia global.
A questão é o que vamos fazer diante dessa situação? Quando a taxa da Selic 11,75% a taxa do IPCA de março chegou a 11,30%.
Na palestra desta manhã, o presidente do BC lembrou que o Copom entende que essa decisão (sobre o aumento da Selic) reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e, principalmente, o de 2023.
É, mas é uma mudança tardia.
Na sua palestra Campos Neto afirmou que a autoridade monetária avaliará se o IPCA de março influencia de alguma maneira a “tendência” da inflação. Uma vez que a trajetória de preços já “está muito alta”. Prevendo que o IPCA, d será “bastante” discutido nos próximos dias, de acordo com o presidente do BC.
O presidente do BC ainda avalia que a tendência da inflação além do "susto" pode ter nos próximos meses algum refluxo. Tomara. Mas a verdade é que até aqui o BC está atrás da inflação e ainda analisando uma tendência.
É ruim. Banco Central é para andar na frente e travar processo de inflação. Quando fica muito tempo analisando a tendência perde o bonde da economia.