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Medo de desabastecimento próximo à eleição faz governo radicalizar na pressão contra Petrobras

As distribuidoras independentes saíram do mercado de importação. Este ano, elas não importaram um litro de combustível, deixando uma avenida de oportunidades para as gigantes

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Fernando Castilho

Publicado em 25/05/2022 às 10:01 | Atualizado em 25/05/2022 às 13:23
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Nos últimos meses, quando os preços do petróleo no mercado global dispararam e a Petrobras não reajustou os preços dos combustíveis, iniciando uma defasagem que obrigou o reajuste de 24%, as três maiores distribuidoras de combustível (Vibra, a antiga BR; Rízen-Shell e Ipiranga) viram uma oportunidade de negócios para ampliar suas redes de postos de combustíveis embandeirados.

Como elas atuam muito no atacado - fornecendo diretamente às empresas - puderam diluir a defasagem nos preços finais, enquanto reforçaram suas ações na “re-conquista” de postos sem bandeiras e das pequenas redes que, juntos, somam 56% do mercado brasileiro.

Isso fez as distribuidoras independentes saírem do mercado de importação. Este ano, elas não importaram um litro de combustível, deixando uma avenida de oportunidades para as gigantes “ajudarem” a Petrobras que - por não atender ao todo o mercado - também importa.

Mas depois de quase cinco meses, as gigantes já avisaram ao Governo que, se a defasagem se mantiver, elas vão cuidar de atender apenas os seus clientes corporativos, deixando a Petrobras sozinha no mercado de importação.

Esse cenário significa um grande risco de desabastecimento no segundo semestre, quando o Brasil gasta mais óleo diesel para colher sua safra de grãos.

Os importadores independentes já avisaram que estão fora. E, com isso, a Petrobras terá que se organizar para ampliar suas importações a partir de julho. Entretanto, se ela não puder repassar aos clientes os reajustes, é quase certo que não apenas diesel, mas a própria gasolina pode sofrer com desabastecimento.

Isso não quer dizer postos fechados sem os produtos. Mas que a pressão vai aumentar, inclusive na conta da inflação, especialmente pela gasolina, que sozinha tem um peso de 6,71% no cálculo do IPCA.

Esse cenário assusta o governo, que decidiu atuar para que a Petrobras “segure a barra” mantendo o fornecimento de qualquer forma, ainda que para isso seja necessário tomar medidas drásticas.

O processo já começou, e a mudança do ministro foi apenas o início de uma ação radical, que com a entrada de Adolfo Sachsida nas Minas e Energia, deve prosseguir com mudança na Petrobras (no Conselho de Administração da empresa), de modo que os reajustes sejam mínimos ou até mesmo nem sejam feitos.

A indicação do comunicador Caio Mário Paes de Andrade para a presidência da Petrobras tem essa função.

Ele vai com missão de “segurar” os aumentos no que for possível, de modo que eles não prejudiquem a campanha do presidente Jair Bolsonaro para a reeleição.

Mas a questão continua: E se não der? E se a importação não atender a todo o mercado? E se faltar óleo diesel nos postos?

É esse cenário que faz o Governo correr contra o tempo e contra a lei. Mesmo que mude o presidente e até o Conselho de Administração - que pode autorizar a revisão da política de Paridade de Preços Internacional – isso não vai ser sentido a partir de 1º de junho.

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Todas essas mudanças levam tempo e a empresa terá que se proteger de ações que possam ser apresentadas nos Estados Unidos, onde suas ações são negociadas. Pela lei, ela até pode mudar sua política de preços, mas se no final do trimestre apresentar prejuízos por intervenção do governo, ela precisa ser indenizada por ele e corre o risco de ser processada, inclusive os seus diretores e membros do Conselho.

Isso quer dizer que o governo terá de encontrar diretores e conselheiros dispostos a correr esse risco como pessoa física, colocando os seus CPFs na roda.

O problema é que redefinir sua política de preços significa que a empresa vai ficar sozinha no mercado, inclusive virando a única importadora de combustíveis, já que até as grandes companhias de distribuição vão parar de importar.

Mas o Governo acredita que vai poder congelar os preços da Petrobras. Mesmo que, como está acontecendo, os preços continuem subindo. No dia 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o preço do barril era de US$ 100,95. Ontem, segundo as informações da OPEC, o barril de petróleo estava em US$ 115,15.

E, como a guerra não vai parar logo, o risco de a eleição ocorrer num momento de desabastecimento só faz crescer.

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