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CUSTO DE VIDA - IPCA baixa em julho, mas todo mundo só fala na inflação de 2023

O preço da gasolina caiu 15,48%, queda mais intensa entre os 377 subitens que compõem o IPCA. Dos combustíveis, o único com alta em julho foi o óleo diesel (4,59%)

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Fernando Castilho

Publicado em 09/08/2022 às 11:20 | Atualizado em 10/08/2022 às 16:15
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Ficou pronto o IPCA de julho, que foi de -0,68%, comparado 0,67% em junho, registrando a menor taxa desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980.

É motivo para se comemorar. Afinal, com uma inflação acima de 10%, qualquer queda no índice geral ajuda. Mas é importante entender que essa deflação tem nome e sobrenome: o grupo de transporte e o de habitação.

Em julho tivemos no Brasil uma queda de 4,51% no grupo dos Transportes. Isso aconteceu principalmente devido à redução no preço dos combustíveis (-14,15%).

O preço da gasolina caiu 15,48% e o do etanol recuou 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem o IPCA, com -1,04 p.p. Além disso, também foi registrada queda no preço do gás veicular (-5,67%).

O único combustível com alta em julho foi o óleo diesel (4,59%), cujo resultado ficou acima do mês anterior (3,82%). E isso é um problema pelo espalhamento que o diesel tem na economia e, portanto, vai continuar pressionando os preços para cima.

Mas é importante observar duas coisas: mesmo em julho, tivemos uma alta de 8,02% nos preços das passagens aéreas, embora a variação tenha sido inferior à observada em junho (11,32%). Segundo, o aumento nos preços do grupo de alimentação e bebidas (1,30%), que acelerou em relação a junho (0,80%).

Esse movimento fez com que, nos últimos 12 meses, o IPCA ficasse em 10,07%, abaixo dos 11,89% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.

E esse é o problema. Inflação acima de 10% desde setembro de 2021, portanto, há 11 meses. Quando se observa o grupo de alimentação, a coisa fica muito mais preocupante.

Em 2020, o grupo de alimentação cresceu 14,09%. Ano passado, ficou em 7,94%; este ano, já está em 9,83% em apenas setes meses. Essa é a conta que o cidadão pode observar no seu dia a dia. Em apenas sete meses de 2022, a inflação de alimentos e bebidas já subiu quase 10%.

Em julho, no grupo Alimentação e bebidas (1,30%), o destaque ficou com a alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho.

O maior aumento no índice do mês (0,22 p.p.) veio do leite longa vida (25,46%), cujos preços já haviam subido 10,72% no mês anterior.

Além disso, os preços de alguns derivados, como o queijo (5,28%), a manteiga (5,75%) e o leite condensado (6,66%) também subiram, contribuindo para o resultado observado no mês.

Outro destaque foram as frutas, com alta de 4,40% e impacto de 0,04 p.p. no IPCA de julho. Essa é a inflação que o cidadão comum sente na ponta - ou no caixa do supermercado e do mercadinho.

Inflação em 2023

Essa sensação é o que assusta e preocupa os analistas de mercado a partir de uma pergunta bem simples: o que vai acontecer em 2023?

A primeira coisa é que os gastos contratados com o Auxílio Brasil de R$ 600 e a correção da tabela do Imposto de Renda, que está sem atualização desde 2016, vão custar R$ 84 bilhões em 2023.

Esse quadro se dá porque antes eram 14,6 milhões de famílias que tinham direito, em média, a R$ 190 mensais, e agora o ministério da Cidadania registrou 20,2 milhões de famílias que passarão a receber R$ 600. Isso quer dizer que 56,4 milhões de brasileiros serão contemplados com o equivalente a 26% da população.

Mas temos um problema adicional. Estudos apontam que ao menos 8,3 milhões ainda estão “invisíveis” aos olhos do Governo. Essas pessoas teriam direito a pedir o benefício se houvesse correção integral do valor que marca a linha da pobreza pela inflação desde 2004, quando foi institucionalizado o Bolsa Família.

O Boletim Focus desta segunda-feira diz que, este ano, a inflação pode ficar em 7,11%. Para 2023, a cada semana ela vem subindo.

Na verdade, há 18 semanas que os analistas do Mercado vão aumentando a expectativa da taxa de inflação. Agora, eles estimam que em 2023 a taxa de inflação vai ficar em 5,36%. No começo do ano, o mesmo Boletim Focus estima a inflação em apenas 3,36%.

Então, a deflação de 0,68% de julho do IPCA é muito bem vinda, mas ninguém deve achar que a inflação está baixando. O evento de julho tem, como se disse, um nome: queda de 15,48% na gasolina, que acabou se refletindo por quase 380 outros índices apurados pelo IBGE.

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