O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (1º) tem uma informação que reflete o que os chamados agentes econômicos vêm afirmando quando estimam que a Selic, ano que vem (primeiro ano do novo Governo), vai ficar em 11% a.a. E mesmo se for comparado com o final de 2022, que muita gente acha que vai ficar em 14%, é muito alta.
Nenhum país funciona bem com taxa básica de 11%. E mesmo que no dia da posse do novo governo as expectativas de juros futuros seja de baixa, é muito difícil para a economia rodar.
Mas o Boletim Focus tem a marca de ser uma espécie de loja de consertos de roupas que o cliente vai pedindo para ajustar e o dono sempre nos diz que é preciso emagrecer.
Influência das PECs
No caso do mundo real, o recado já está bem claro, como revelou série de reportagens do jornal O Globo, que pode ser resumida no seguinte conceito:
"A banalização de Propostas de Emendas à Constituição (PECs) influencia os indicadores, na visão dele, até porque deteriora a gestão das contas públicas.
O risco-país e os juros reais ganharam impulso muito forte no ano passado, com a PEC dos Precatórios (que adiou dívidas da União determinadas pela Justiça) para abrir espaço no teto de gastos para políticas do dia a dia. Isso está prejudicando muito o Brasil".
Faz sentido. Que país fez seis mudanças na constituição para ajudar a um candidato ocupando o Governo?
Isso tem a ver com quem acredita no Brasil e quer botar dinheiro aqui, mesmo com essa taxa de juros na Selic.
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse que nas primeiras duas semanas de julho, a estimativa é de que mais US$ 5,6 bilhões tenham deixado os países emergentes. Bem diferente do movimento de fevereiro, quando tinham recebido US$ 17,6 bilhões.
Nessa lista de países emergentes está basicamente o Brasil, já que China (que não precisa) e Rússia (pela guerra) estão disputando esse dinheiro.
Inflação
O problema é quando o Boletim Focus diz que a perspectiva para a inflação em 2023 (pela 17ª semana seguida) aponta para a necessidade de uma política monetária mais apertada no ano que vem, e quando diz isso às vésperas de reunião de agosto do Banco Central.
Isso em português quer dizer que qualquer governo vai ter que apertar muito as restrições ao crédito.
Agora alguém lembra de uma palavra de Lula ou de Bolsonaro dizendo que vai ajustar as contas?
Esse parece ser o problema no mundo frio da economia.
O buraco das contas em 2023, ou as estimativas, não para de crescer. Tem analista estimando em quase R$ 300 bilhões o custo dessa farra de benefícios que Bolsonaro está fazendo e sobre as quais Lula não diz que é contra.
Muito pelo contrário: uma das promessas é estourar o teto de gastos que ele condena em todas as suas falas.
Então o mercado que faz conta não tem dúvidas: o primeiro ano de governo tecnicamente vai exigir aperto e como os possíveis eleitos não querem falar disso, a tendência é de a Selic que em 11% a inflação vai subindo e taxa de investimentos diretos vá caindo.
O Brasil paga investidor especulativo voltou a ser muito bom. Mas quando a desorganização do governo é muito alta, até esse tipo de especulador sai ao menor sinal de risco.
E esse prazo vale até a eleição.
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