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Geraldo Alckmin pode assumir conversas, mas empresários querem compromisso de Lula para economia

O problema da campanha de Lula no empresariado é que o ex-presidente tem falado pouco dos temas que o setor quer conversar e muito do que o empresariado não quer rever

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Fernando Castilho

Publicado em 23/08/2022 às 12:05 | Atualizado em 23/08/2022 às 15:11
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Talvez uma das maiores dificuldades da campanha do ex-presidente Lula da Silva seja abrir um canal direto com o empresariado, que ele não conhece mais, e que não tem vocabulário para organizar uma conversa direcionada aos novos negócios da economia brasileira.

E por ter gerado uma enorme desconfiança quando fala aos seus apoiadores e assume o Lula do ABC, com todo o discurso carregado do movimento sindical, que hoje não tem mais a força do passado, inclusive naquela região.

Isso explica a opção e as missões que está conferindo ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que virou seu candidato a vice na chapa presidencial, embora já tenha ficado claro que o ex-governador de São Paulo não abre as portas que Lula acreditava que ele abrisse.

A questão do acesso de Lula ao que a imprensa chama de Faria Lima é geracional - como já disse aqui mesmo na Coluna – e Lula tem mesmo dificuldade de conversar com os novos líderes da economia. De bancos à nova indústria automobilística.

Do setor de serviços (hoje centrado nas plataformas de internet) ao comércio. Daí sua preocupação com as missões que está conferindo a Geraldo Alckmin.

Mas a questão continua: Alckmin entra na sala e chama os novos atores pelo nome e com intimidade?

Lula acreditou que o ex-governador falava com os empresários diretamente. Na verdade, Geraldo Alckmin sempre era bem recebido. Mas não faz parte do grupo.

Nunca assinou uma carteira com CNPJ de empresário. Era interlocutor porque era o governador do maior estado do Brasil. E todo empresário adora governador.

O problema da campanha de Lula no empresariado é que o ex-presidente tem falado pouco dos temas que o setor quer conversar e muito do que o empresariado não quer rever.

REGRAS TRABALHISTAS

O caso da regras trabalhistas é um tema central. Lula tem dito que, se eleito, o ex-presidente quer fazer uma discussão ampla sobre as mudanças antes de propor alterações nas legislação, adotando um modelo que foi testado nos seus dois mandatos na presidência da República.

O que o presidente não leva em conta é que, embora não tenha provocado o crescimento de empregos formais, a reforma ajudou um grande número de empresas a sobreviver.

Quando Lula diz, numa conversa, que quer rever a questão, os dirigentes entendem que ele vai voltar com o modelo anterior. E surge a questão: quando o interlocutor é Geraldo Alckmin e fala por Lula?

Quando Alckmin diz as propostas de mudanças de um eventual governo de Lula, não iriam rever o princípio do acordado sobre legislado, os empresários lembram que o programa do PT fala em uma nova legislação trabalhista aos interlocutores. E então, eles devem acreditar em quem?

Há um entendimento do PT de que o apoio a trabalhadores autônomos, trabalhadores domésticos, teletrabalho e trabalhadores por app é uma aposta que pode ajudar na eleição do ex-presidente pelo contingente que eles hoje representam. Ora, o que os empresários desejam é obter condições de contratar mais gente legalmente.

Uma das maiores críticas do Instituto de Desenvolvimento do Varejo é que, enquanto as empresas formais geram 54 milhões de empregos e pagam impostos, as plataformas de comércio eletrônico estrangeiras sonegam impostos e precarizam os negócios. Querem saber o que fazer com os 41 milhões que estão ocupados sem registro.

Na verdade, os empresários querem registrar e dar proteção social aos seus empregados, não estimular que sejam motoristas de aplicativos ou motoqueiros de entrega.

Certamente, o tema de maior interesse nas conversas com os empresários junto com a reforma tributária é a questão do fim do teto de gastos.

Nos últimos anos, a questão do controle de custos da empresa adquiriu uma importância e virou a questão central de toda companhia razoavelmente estruturada.

Os novos balanços destacam a capacidade das organizações de entregar mais com menos dinheiro.

Mesmo num sistema financeiro altamente concentrado, a negociação de taxas bancárias e deslocamento de negócios em função delas viraram estratégia. E esse é o fundamento da crítica do empresariado ao setor público: a incapacidade de reduzir custos ou de ao menos entregar mais com o mesmo dinheiro.

Então, quando Lula fala de que não vai fazer nenhum esforço para reduzir as despesas do setor público, passa a ideia de ampliar o gasto ruim que os empresários identificam.

E aí a questão volta para Geraldo Alckmin: Sim, mas o senhor acha o que disso, e como vai se comportar se Lula decidir acabar o teto de gastos? A resposta do ex-governador tem “fé de oficio?

Todo o grupo de decisão do PT e da campanha de Lula acha que será estratégico que Alckmin desempenhe a missão de ampliar a interlocução com representantes do agronegócio, saúde, mercado financeiro e cultura.

Mas sempre é bom lembrar: no PSB, está escrito no programa que nenhum executivo fará nenhuma privatização. E em relação a certos conceitos, o PSB é mais radical que o PT.

E aí nasce outra questão: Geraldo Alckmin fala por Lula, o PT, ou segue a cartilha do seu novo partido, PSB?

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