LULA NO JORNAL NACIONAL: petista usa entrevista para oferecer diálogo e segurança na economia. Mas será que o mercado compra?
Lula disse tudo que todo mundo queria ouvir sobre o Centão, o orçamento secreto e a manipulação pelo Congresso de uma parte importante do orçamento
No canteiro de obras no dia em que o Estaleiro Atlântico Sul lançou ao mar ao mar o petroleiro João Cândido, um assessor colocou no púlpito um texto de um discurso escrito para a solenidade para o então presidente Lula. Um jornalista viu e foi pedir uma cópia. O assessor advertiu. "Não use. A chance de ele não servir para nada é de quase 100%". Depois que Lula terminou de falar, o texto foi para o lixo.
A capacidade de Lula se sair bem numa conversa é sempre muito alta se o interlocutor se dispor a ouvir. É aquele atacante que se o zagueiro se distrair um segundo ele marca o gol.
As analogias servem para tentar definir como foi o desempenho de Lula na entrevista ao Jornal Nacional. Os zagueiros Willian Bonner e Renata Vasconcellos até marcaram sob pressão. Mas quando não travaram a jogada, Lula foi Lula.
Fiquemos aqui nas questões econômicas, pois tem gente melhor no JC para escrever sobre a política.
A novidade dessa vez foi ele usar não o texto, mas as anotações que a assessoria preparou para falar de economia e tentar convencer que conversando pode desmanchar as bombas que o ano de 2023 reserva ao próximo presidente.
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ORÇAMENTO SECRETO X MENSALÃO
E sejamos justos, Lula disse tudo que todo mundo queria ouvir sobre o Centão, o orçamento secreto e a manipulação de uma parte importante do orçamento pelos deputados sem qualquer compromisso que não seja a eleição. E essa força do Centrão não agrada a bolsonaristas.
Nesse ponto Lula foi ouvido até mesmo pela ala radical do bolsonarismo que não engole essa subserviência do presidente aos caprichos de Arthur Lira.
Ele lembrou que, antigamente, o deputado ia conversar com o governador para fazer aplicação de verba. Hoje, os deputados não conversam mais. Tem deputado liberando 200 milhões, 150 milhões, 100 milhões.
E se saiu com uma pergunta bem capciosa: Você acha que o Mensalão, que tanto se falou, é mais grave do que o orçamento secreto?
Os dois são absurdos. Mas Lula consegue relativizar obrigando que quem apoie Bolsonaro se incomode com o orçamento secreto. Para arrematar que “O orçamento secreto é uma excrescência”.
ERROS DE DILMA ROUSSEFF
Assim como foi hábil ao dizer que pretende fazer uma gestão de acordo com aquilo que construiu. “Eu, hoje, tenho dez partidos junto comigo e ainda tenho a experiência do ex-governador Alckmin comigo” e reconhecendo que a ex-presidente Dilma Rousseff cometeu o equívoco na questão da gasolina.
“Eu acho que cometeram equívoco na hora que fizeram R$ 540 bilhões de desoneração, isenção fiscal de 2011 a 2040”. O que pode ser lido como um sinal de que não quer controlar a Petrobras embora sempre fale que quer redefinir o papel da empresa.
Mas é importante pontuar algumas coisas importantes que Lula falou de economia relacionado ao agronegócio. Renata Vasconcellos disse que grande parte do setor agro não o apoia. E perguntou se Lula atribuía esse afastamento a desconfianças talvez geradas pelo relacionamento do seu partido com o MST.
E quando cuidou de fazer uma separação entre o que é fascista e direitista e os “empresários sérios que trabalham no agronegócio, que têm comércio com o exterior, que exportam para a Europa, para a China” afirmando que esses não querem desmatar, esses querem preservar os nossos rios, querem preservar as nossas águas, querem preservar as nossas faunas”. Para dizer que tem um monte que quer desmatar.
Essa divisão entre empresário do agronegócio que exporta e tem selo verde é conhecida. Eles próprios dizem que quem desmata e queima terra é grileiro e que não é nem do setor.
Então, parece claro que Lula quer dizer que gente como o empresário Blairo Maggi, o maior produtor de soja e milho Brasil, não desmata e que ele quer o apoio dele não dos que apoiam Bolsonaro.
Claro que os bolsonaristas vão dizer que ele chamou o agronegócio de fascista. Mas o candidato separou direitinho. E ainda disse que o novo MST, hoje, tem várias cooperativas e é o maior produtor de arroz orgânico do Brasil. Separando os quadrados. “Um produz mais internamente, o outro produz mais externamente.”
E ainda lembrou que editou uma MP (desta vez ele recorreu às anotações) que viabilizou uma renegociação de R$ 85 bilhões que segundo salvou o setor de quebrar.
Lula parece estar informado de que uma parte do agronegócio negociou mal e com o aumento do custos vai precisar no ano que vem renegociar suas dívidas. O que leva à pergunta se já não está sinalizando para esse grupo que está disposto a ajudar.
FAMÍLIAS ENDIVIDADAS
Assim como prometeu ajudar as quase 70% das famílias brasileiras que estão endividadas e que como disse será grande maioria delas mulher. Lembrando que 22% estão endividadas porque não podem pagar a conta d'água, a conta de luz, a conta do gás. Prometendo negociar essa dívida.
Como se disse no começo, Lula continua aquela atacante que os zagueiros não podem deixar solto. Até porque na hora da confusão com o VAR, ele sai dizendo que o importante é que “a gente não confunda a polarização com o estímulo ao ódio”.
Se é verdade que Jair Bolsonaro na segunda-feira se saiu bem e não perdeu votos embora não tenha conquistado muitos, Lula usou a entrevista para tentar alargar apoios. O que só saberemos se ele conseguiu no dia da eleição.
Mas que nesta quinta-feira ele saiu de campo como se tivesse vencido por 1x0, saiu.