LULA NO JORNAL NACIONAL: petista diz que Lava Jato ‘ultrapassou limite da investigação’, mas admite casos de corrupção na Petrobras

Com Estadão Conteúdo

Na entrevista ao Jornal Nacional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República, começou respondendo a William Bonner e a Renata Vasconcellos sobre a Lava-Jato, operação do Ministério Público Federal que levou Lula à prisão e depois teve todas as sentenças anuladas pelo STF.

Lula disse que foi massacrado durante cinco anos. "Eu fui massacrado e estou tendo hoje a primeira oportunidade de falar abertamente disso, ao vivo com o povo brasileiro", afirmou o candidato que lidera as pesquisas de intenções de votos.

Lula se colocou na defensiva, e chegou a dizer que "a corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada".

Lula continuou, elencando as medidas que, segundo ele, foram fundamentais para que a investigação sobre a corrupção acontecesse: "Foi no meu governo que criamos o Portal da Transparência, A CGU [Controladoria Geral da União], com ministro para fiscalizar, a Lei de Acesso a Informação, nas medidas anticorrupção, contra a lavagem de dinheiro, a AGU entrou, entrou Coaf, e colocamos o CADE para combater cartéis. Foram todas medidas tomadas no meu governo, além da Polícia Federal  independente,  Com mais liberdade do que qualquer momento da história". 

Lula retrocedeu a 2005, quando o mensalão [compra de apoio de deputados], veio a tona. "Em 2005 eu disse que só existe uma oportunidade de não ser investigado nesse País. é não cometer erros, e foi isso que nós fizemos", se referindo que as investigações em relação ao mensalão aconteceram sem nenhuma interferência do governo.

Lula diz que o objetivo da Lava Jato era político

Para o ex-presidente, o equívoco da Lava Jato foi ter enveredado pelo caminho da política. "Ultrapassou a investigação e foi pelo caminho da política, porque o objetivo era o Lula", ressaltou o candidato.

"Aconteceu exatamente o que eu previa.  Quando entramos com habeas corpus foi bem antes do hacker, [Lula se refere as gravações de diálogos entre o ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Daltan Dalangnol, combinando detalhes sobre o processo], dizendo coisas que depois se descobriu com o hacker". 

Indagado por Bonner como ele irá convencer os eleitores que não voltará a acontecer corrupção no governo, Lula foi enfático: "Não há hipótese, eu quero voltar à presidência. Qualquer crime, por menor que seja, será julgado, investigado e será punido", afirmou Lula.

Lula diz que não quer "amigos" nas instituições de controle do Governo e admite casos de corrupção na Petrobras

"Eu poderia ter escolhido um procurador engavetador, não fiz. Escolhi da lista tríplice. Poderia ter pedido que PF tivesse delegado que pudesse controlá-lo. Não fiz. Vamos continuar criando mecanismos para investigar qualquer delito que aconteça. Já disse 500 vezes que sobre a corrupção, eu poderia fazer um decreto de 100 anos, botar tudo no sigilo, como tá na moda agora", alfinetou Lula, em relação à pratica do Governo Bolsonaro de colocar sob sigilo questões polêmicas.

Lula chegou a admitir que houve corrupção na Petrobras. "Você não pode dizer que não houve corrupção, se as pessoas confessaram. Foi uma espécie de delação premiada, o cara ganhava liberdade por falar o que queria e ainda ganhava o que roubou. O roubo foi institucionalizado pelo Ministério Público", disse Lula. "O  Ministério Público [durante a Lava Jato]  queria criar um fundinho para eles [ para os delatores] , dos 6 bilhões de reais [desviados da Petrobras],  queria devolver R$ 4 bilhões e que ficassem com R$ 2 bilhões".

Lula continuou. "O que é mais grave é que as pessoas confessaram e, por conta das pessoas confessaram, ficaram ricas. Você não só ganhava liberdade por falar o que queria o Ministério Público, como você ganhava metade do que roubou. O roubo foi oficializado pelo Ministério Público, o que eu acho uma insanidade e uma aberração para esse País. Lava Jato quase joga nome do MP na lama. MP é instituição séria que eu sempre valorizei, da mesma forma a PF", disse o ex-presidente.

Agregador de pesquisas JC: veja como está a corrida para presidente no Nordeste

O agregador de pesquisas JC/Oddspointer, atualizado com os números desta semana, indica leve inversão na tendência de intenção de voto para a Presidência da República no Nordeste. A curva ascendente de Lula (PT) apresentou queda. Enquanto isso, o presidente vê um leve aumento dos seus números na região.

O mecanismo reúne diferentes pesquisas e estima, levando em conta as diferentes metodologias dos levantamentos, a intenção de voto do eleitorado. Levando em conta a atualização desta quarta-feira (24), Lula tem 57,8% e Bolsonaro tem 23,4%.

O petista, porém, na semana passada vinha em estabilidade, atingindo 59,2% no último dia 7. O atual presidente, nessa mesma data, tinha 21,8%. Ciro Gomes (PDT) se mantém estável, indo de 7,8% para 8%.

A corrida, num eventual segundo turno, se mantém estável. A tendência de voto em Lula no Nordeste fica em 63,7%. Enquanto isso, Bolsonaro ficaria com 27,38% na região, numa eventual disputa direta com o ex-presidente.