Coluna JC Negócios

Elizabeth foi testemunha de Inglaterra que foi nação mais importante do mundo para país fora da União Europeia

Já e, 1952 quando ascendeu ao trono a Rainha Elizabeth II já sabia que o seu país não era mais a potência econômica que comandou a economia global no século XIX.

Imagem do autor
Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 08/09/2022 às 17:11 | Atualizado em 08/09/2022 às 19:51
Notícia
X

O fato de ter passado 70 anos reinando possibilitou a Elizabeth II, que morreu nesta quinta-feira (8) aos 96 anos, no castelo de Balmoral, na Escócia, vivenciar durante o reinado mais longo da história do Reino Unido uma extraordinária mudança na economia global.

Para começar, ela viu a Inglaterra perder o protagonismo de ser a nação mais importante do mundo para os Estado Unidos, que saíram da guerra como a maior potência econômica do planeta, até porque financiaram e armaram a Inglaterra para a vitória do conflito contra o nazismo.

Na verdade, Estados Unidos já eram o país mais rico do mundo na virada do século XX, embora o charme e glamour estivessem com o Reino Unido.

Mas em 1952, quando ascendeu ao trono, a Rainha Elizabeth II já sabia que o seu país não era mais a potência econômica que comandou a economia global no século XIX.

Mas é importante ressaltar que durante o seu reinado o povo inglês melhorou muito de vida. Os britânicos nascidos em 1952 têm renda 6% acima da média do Reino Unido. De forma geral, pode-se dizer o Reino Unido como um todo é mais rico e saudável do que há sete décadas.

Os estudos sobre exportação informam que entre 1952 e 2022 a economia do Reino Unido é cinco vezes maior, mas perdeu importância no comércio global. Em 1960, o país respondia por quase 9% das exportações mundiais de mercadorias; agora, sua participação é de pouco mais de 2%.

Mas se perdeu importância na indústria, primeiro para os americanos e, mais recentemente para os chineses, ela virou a líder do setor de serviços especialmente o bancário que floresceu muito com suas instituições seculares.

DOVULGAÇÃO
ELIZABETH VISITANDO O METRO DE LONDES - DOVULGAÇÃO

Claro que nesses 70 anos em que a rainha foi uma observadora privilegiada tivemos movimentos importantes com uma série de altos e baixos, como os choques de petróleo, crises cambiais, colapsos financeiros, a saída da Grã-Bretanha da União Europeia e a pandemia de Covid-19, onde suas universidades se consolidaram com referência para validar os avanços nos anos dramáticos de 2020 e 2021.

Mas o país puxado pelos serviços viabilizou o crescimento dos preços do imóveis. Um estudo da Bloomberg/Instituto Nacional de Estatísticas Britânico/BoE mostra que em nenhum lugar do mundo a transformação da Grã-Bretanha foi mais aparente do que no mercado imobiliário.

Na década de 50, o preço médio da casa saltou de menos de £ 2.000 – o equivalente a cerca de £ 60.000 hoje – para £ 270.000, de acordo com a Nationwide Building Society. Não é por acaso que os maiores negócios imobiliários se forma com compras de imóveis destinados à locação.

Quem não se lembra do caso do bilionário brasileiro Joseph Safra que comprou o edifício "Gherkin", um dos mais emblemáticos do bairro financeiro da City de Londres.

Ele pagou em 2014 nada menos que 650 milhões de libras pelo "Gherkin", um imóvel de escritórios em forma de ogiva.

No geral, o valor do imóvel ultrapassou a inflação 40 anos e em alguns anos gerou mais riqueza para os proprietários de imóveis do que eles ganharam trabalhando.

O Reino Unido de Elizabeth continuou atraindo investidores de todo o mundo. E mesmo com a saída da Inglaterra da comunidade europeia ela continuou senso importante. E mesmo o temor de que não sendo mais da UE a city de Londres se mudasse para a Alemanha ou a França, o que não aconteceu.

O mais interessante dessa trajetória de Elizabeth II é como ela se manteve atual. A rainha sempre esteve antenada (ela manteve contas de todas as plataformas de redes sociais) no que acontecia e sempre  se interessou muito pelo valor das marcas inglesas. Por exemplo.

Em relação a Land Rover ela sempre foi uma espécie de garota propaganda de luxo, sempre preferindo a marca. Talvez porque na juventude tenha conhecido as fábricas de perto.

Mas ela também viu que depois da pandemia estava cada vez mais claro as perdas do Reino Unido com o Brexit, e que o seu país está seriamente ameaçado por uma recessão. A inflação subiu em agosto para 10%, a maior taxa desde 1982, e a libra está cotada perto de US$ 1,14, menor valor em 37 anos.

Claro que tudo isso tem a ver com a perda da renda das colônias. Especialmente da Índia de 1947 (Cinco anos antes de ela subir ao torno) após um longo processo de lutas. Os britânicos não deixaram um país dividido em duas nações como a Índia e o Paquistão. Deixaram para trás bilhões de libras em receitas.

Pode-se dizer que antes de morrer Elizabeth II viu sua nação deixar de liderar o mundo para chegar, 70 anos depois, na condição de 5ª maior economia do planeta e vendo nações como China (que virou a segundo potencia global), a Alemanha e o Japão, que junto com os Estados Unidos venceu a II Guerra, se transformarem em novas potências econômicas à frente do Reino Unido.

O que não significa dizer que após 70 anos os ingleses não estejam vivendo melhor em relação há 70 anos. A Inglaterra pode não ser mais a potência naval, econômica e industrial, mas nunca perdeu a majestade de ser um dos melhores do mundo para se viver e fazer negócios.

Tags

Autor