O que aconteceu com as AMERICANAS? Sumiço de R$ 20 bilhões do balanço da empresa se torna mistério que assusta o mercado
A Americanas S.A. é a junção da antiga Lojas Americanas com a empresa de e-commerce B2W, que foi uma das pioneiras no mercado de varejo digital e sempre saudada como um case de sucesso
Todos os analistas financeiros se assustaram quando a Americanas S.A. informou que "numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022".
No mercado de ações, empresas listadas usam o instrumento de Fato Relevante para, como o próprio nome diz, avisar ao investidor o que, de fato, é importante.
No fato relevante da Americanas S.A., consta ainda que "A Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial."
O QUE ACONTECEU COM AS AMERICANAS?
Após esse comunicado, o que aconteceu com as Americanas se tornou um mistério que assusta o mercado devido ao valor bilionário que não estava no balanço.
Os números apresentados fizeram o investidor pensar:
- "Como assim R$ 20 bilhões, numa empresa que, no final de 2021, tinha um ativo total de R$ 43 bilhões?"
- "Que conversa é essa de 'inconsistências na área contábil sobre a existência de operações de financiamento de compras nas quais é devedora em instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas nas demonstrações financeiras'?"
A decisão do presidente, Sergio Rial, e do Diretor de Relações com Investidores, André Covre, de pedir demissão após o anúncio, tornaram o mistério ainda mais intrigante. Eles assumiram em 1º de janeiro de 2023.
Embora assuste aos que não acompanham o mercado de ações, até mesmo os operadores especialistas em contabilidade já estavam desconfiados desde o ano passado.
Em 2022, a Americanas S.A. divulgou o balanço do terceiro trimestre com um prejuízo de R$ 211,5 milhões de junho a setembro, contra o lucro de R$ 240,5 milhões 2021.
Detalhe: o prejuízo refletiu a piora do resultado financeiro (R$ 612,6 milhões), o dobro do terceiro trimestre de 2021. Ou seja, alguma coisa estava errada com a empresa no balanço de setembro.
Ainda assim, a Americanas S. A. comemorou a ida de Sergio Rial para a empresa depois de ser o CEO do Santander Brasil por quase sete anos, chairman da Vibra Energia e vice-chairman da BRF.
ROMBO NAS AMERICANAS
O Natal passou e em apenas 10 dias no comando da empresa, o executivo que substituiu Miguel Gutierrez - que tem 30 anos de Americanas e passou os últimos 20 no cargo e foi quem cuidou de fazer a transição - disse que estava renunciando.
Do ponto de vista do mercado, é como se o cara que assume diz que não fica porque o antecessor deixou uma bronca séria no caixa da empresa que ele não tem como aceitar. É uma enorme demonstração de desconfiança nas contas da empresa.
Tanto que a empresa decidiu criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas “inconsistências contábeis.”
A Americanas S.A. é a junção da antiga Lojas Americanas com a empresa de e-commerce B2W, que foi uma das pioneiras no mercado de varejo digital e sempre foi saudada como um case de sucesso.
Mas, diferentemente do Magalu, por exemplo, era um negócio apartado da Lojas Americanas. O Magalu sempre foi uma coisa só. As pessoas compravam nas lojas físicas do Magazine Luiza e nem sabiam que o vendedor fazia o mesmo procedimento que ele faria no site.
E é importante observar que não é usual um gestor chegar e em 10 dias dizer que vai renunciar porque encontrou um rombo de R$ 20 bilhões numa empresa com ativos de R$ 50 bilhões.
Na verdade, o que se pergunta é por que a empresa estava escondendo que tinha dívidas de 40% sobre seus ativos e isso não estava contabilizado. Em outras palavras, ela poderia estar quebrada e os seus acionistas não estavam informados.
No balanço do ano passado, as Americanas S.A comemoraram a redução do endividamento de longo prazo de R$ 19 bilhões em 2020 para R$ 12 bilhões em 2021.
Tanto que encerrou 2021 com lucro líquido de R$ 731 milhões, o maior de sua história, com vendas totais do grupo, que incluem lojas físicas e comércio eletrônico crescendo 32,8% e chegando a R$ 55,2 bilhões.
Se o valor for uma dívida antiga não contabilizada adequadamente, é menos mal. O problema é se esses R$ 20 bilhões ou parte sejam uma dívida "nova" a ser reconhecida para pagar daqui para frente.
Aí vai ser bronca.