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ROMBO NAS AMERICANAS: Como na Lava Jato, ter contas auditadas não significa estar livre de problemas na contabilidade

No caso das Americanas, foi a PwC que auditou os últimos balanços da empresa, em substituição à KPMG, que saiu da função em outubro 2019

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Fernando Castilho

Publicado em 13/01/2023 às 15:11 | Atualizado em 13/01/2023 às 16:28
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Uma das coisas que mais chamou a atenção dos investidores que compraram ações das empresas de capital aberto que foram envolvidas nos desvios da Operação Lava Jato foi o fato de rigorosamente todas incluírem no final de seus balanços os relatórios de conformidade das grandes empresas de auditoria, que nos anos anteriores não advertiam para os desmandos.

De fato, quem depois de 2016 se desse ao trabalho de ler os pareceres dos auditores independentes que chancelavam os balanços das empresas indiciadas, inclusive a Petrobras, ficavam chocados com o tamanho das notas de aprovação das contas apresentadas nos balanços que elas analisaram.

O caso da Americanas S. A.  - auditada por anos pela internacional PwC -  repõe o debate sobre o que essas empresas com reputação internacional asseguram aos acionistas, especialmente, os minoritários de que as boas práticas contábeis estão sendo seguidas e que dão confiabilidade nos números apresentados.

Nos últimos anos, especialmente depois da Lava Jato, as empresas de auditoria aumentaram significativamente os preços de seus pareceres, embora não se tenha notícias de que nenhuma delas tenha feito um pedido de desculpas por terem aprovado as contas de todas as construtoras em empresas indiciadas pelos desvios.

O caso das Americanas é interessante, porque foi a PwC que auditou os últimos balanços da Americanas, em substituição à KPMG, que saiu da função em outubro 2019. E para quem não sabe ou nem lembra, foi a mesma PwC que também auditava a Petrobras à época do escândalo da Lava Jato.

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Sergio Rial pediu demissão do cargo de Presidente da Americanas ao lado e o Diretor de Relações com Investidores André Covre que tomarma posse dia 1º. - DIVULGAÇÃO

Empresas de auditoria externa são feito corretoras de valores mobiliários. Normalmente são bem instaladas, com fotos dos fundadores e móveis clássicos que impressionam o investidor que chega com o seu dinheiro. E elas têm a missão de dar credibilidade aos números expostos nos balanços sem imaculados.

O que pouca gente sabe é que, no fundo, o trabalho dos auditores é, essencialmente, o de conferir os documentos e papéis que o contador da empresa põe à disposição deles para serem verificados. Auditor de firma de auditoria independente, ao contrário do que dizem suas assessorias de imprensa, não é independente ao ponto de exigirem documentos que julgam necessário para tirar dúvidas. No máximo, o auditor que assina o parecer pode escrever uma nota de inconformidade.

ROMBO NAS AMERICANAS

Quem ler os últimos balanços da Americanas S. A. não vai encontrar inconformidades explícitas. Nem mesmo nas notas há essa advertência.

Foi assim na Lava Jato, e nenhuma das chamadas “Big Four”, como são conhecidas as principais empresas de auditoria do mundo - como a Ernst & Young (EY), Deloitte, KPMG e PwC. E todas elas cobram muito caro para aprovar os balanços.

Esse é um problema global. Nenhuma empresa de classe mundial que quebrou não tinha um balanço auditado por uma grande empresa de verificação. E como aconteceu com dezenas de casos no último balanço anual auditado pela PwC, existe algum dos pontos de atenção listados pelo ex-presidente Sérgio Rial. Nenhum deles está relacionado na análise contábil das Americanas.

Mas criticar empresas de auditoria não é simples. Quando o ex-CEO da Americanas S.A., Sergio Rial, expôs que havia, sim, problema em relação à forma como era contabilizado o pagamento de fornecedores via bancos, o chamado risco sacado analistas de escritórios de investimentos foram a público se queixar da atitude.

E boa parte deles se queixando que suas declarações ajudaram a baixar as cotações das empresas concorrentes. O que Rial disse, ao ver os números da Americanas, é que “a empresa deve ao banco e não ao fornecedor. Mas, ao não separar isso, deixa de ser uma conta “Fornecedor” clássica no balanço. E se é dívida, onde está reportado o custo financeiro?”

Isso não está no balanço auditado.

Depois da Lava Jato, as empresas envolvidas mudaram de direção, de firmas de nome e até de auditorias. Mas elas não deixaram de publicar balanços com verificação. Isso foi bom. Mas o caso das Americanas S.A. revela que sejam integrantes do chamado grupo das “Big Four” ou não, os problemas continuam.

Mesmo que muitos CEOs continuem recebendo grande bônus por desempenhos definidos a partir dos balanços auditados.

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