CRISE DAS AMERICANAS vira briga internacional e chances da empresa sobreviver agora são mínimas
Americanas atua com 3.601 pontos de venda mais o e-commerce, que geram 120 mil empregos diretos e indiretos
O nível de acirramento entre os acionistas controladores da Americanas S.A. e os conjunto de bancos que cobra mais de R$ 18 bilhões em créditos concedidos à empresa está inviabilizando a sobrevivência da companhia no mundo real, especialmente nas lojas físicas, onde a empresa atua com 3.601 pontos, sendo 1.803 com a marca Americanas, 79 com a marca HNT, 1.300 com a marca VEM Conveniência (joint venture com a Vibra, a antiga BR Distribuidora) e mais 419 com a marca Uni.co
O primeiro banco a contestar a decisão da Americanas S.A. foi o banco BTG Pactual, que considerou vencidos empréstimos no valor de R$ 1,2 bilhão - que o juiz Paulo Assed Estefan, titular da 4ª Vara Empresarial do Rio, determinou a devolução depois que a instituição bloqueou o dinheiro na empresa.
Mas o que chamou a atenção do mercado foi o nível de agressividade dos advogados do controlador do BTG Pactual, André Esteves. Eles afirmam que o comportamento do trio de acionistas majoritários é um caso em que “o fraudador pedindo às barras da Justiça proteção ‘contra’ a sua própria fraude” para atacar o trio de acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Expressões nada usuais em peças jurídicas, e mais ainda em contendas comerciais.
Os advogados do dono do BTG Pactual afirmaram que “O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil (com patrimônio avaliado em R$ 180 bilhões), ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio.”
Os outros bancos também estão contestando a decisão da empresa em pedir rapidamente uma Recuperação Judicial, além do local onde deve ser processada (Rio de Janeiro), quando a empresa assinou contratos de financiamento elegendo em acordo com os bancos o fórum de São Paulo.
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CONSEQUÊNCIAS DA DISPUTA JUDICIAL NAS AMERICANAS
Uma das primeiras consequências dessa disputa já na primeira semana foi perda de espaço das marcas Americanas, Submarino e Shoptime no e-commerce, que despencaram no número de acessos e finalização de compras devido ao medo do cliente em não receber os produtos. Esse espaço foi ocupado imediatamente por outros sites, como Mercado Livre, Amazon Brasil, Shopee e Magazine Luiza.
Mas o efeito maior foi nas lojas físicas, que começaram a ter problemas com o fluxo de reposição de produtos, o que acaba se refletindo nas prateleiras - mostrando uma empresa com dificuldades na variedade de itens e marcas. Esse cenário é impactante para uma rede cuja marca para o público em lojas sempre foi a variedade de produtos.
Parte dessa dificuldade está na Americanas em receber novo lotes de mercadorias de fornecedores, dado o fato de que a empresa, no seu pedido de Recuperação Judicial, listou os devedores, que agora estão numa lista de clientes que terão de esperar para receber o que já entregaram.
Esse é o caso de itens como chocolates e produtos de higiene pessoal e tratamento capilar. As empresas de chocolate têm créditos de R$ 500 milhões. As empresas Arcor (R$ 5,2 milhões), Top Cau (R$ 1 milhão), Mondelez Brasil, dona da Lacta (R$ 93 milhões) e Nestlé (R$ 259,3 milhões) também estão cobrando débitos, especialmente porque venderam panetones e chocolates para o Natal, e não devem entregar ovos de páscoa para a Semana Santa.
As de higiene pessoal, mais R$ 170 milhões. Os maiores credores nesse segmento são Kimberly Clark Brasil, que tem R$ 49,17 milhões a receber, seguido pela Unilever, com R$ 41,95 milhões, e L’Oreal (R$ 41,24 milhões).
Essa realidade não tem nada a ver com a briga judicial entre as Americanas e os bancos, mas atrapalha a operação.
Se o BTG Pactual foi o mais agressivo em sua cobrança à Americanas, outros bancos não estão menos interessados. O banco Bradesco, por exemplo, pediu e obteve na Justiça de São Paulo a busca e apreensão das caixas de e-mails de diretores, conselheiros e outros funcionários e ex-empregados da companhia nos últimos dez anos.
A juíza Andréa Galhardo Palma, da 2ª Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da comarca de Osasco SP, aceitou o pedido, cuja sede é na própria cidade paulistana.
Não foi apenas ele. Bancos como Itaú Unibanco, Santander, Safra e BV, entre outros, também entraram com ações com estratégias diferentes, e também buscam levantar informações da companhia ou impedir a destruição ou ocultação de provas.
Para completar, um grupo de investidores estrangeiros (inicialmente 30) contratou uma banca brasileira de advogados para iniciar arbitragem contra a Americanas S.A. Eles vão se juntar a outra ação do Instituto Íbero-Americano, empresa que reúne investidores que apresentou requerimento para a abertura de procedimento arbitral na Câmara da B3, pedindo R$ 500 milhões de indenização.
Com tantas demandas, a Americanas começou a reagir depois que os três grandes acionistas se pronunciaram se isentando de culpa no processo. Primeiro ela foi à Corte de Falências de Nova York acusando os bancos de agirem para secar o seu caixa, de modo a impedir a empresa a continuar operando decisão que a forçou a entrar com pedido de recuperação judicial no Brasil.
O juiz Michael E. Wiles aceitou o pedido para reter R$ 1,2 bilhão da Americanas como garantia de pagamento de parte da dívida.
O desafio da Americanas S.A. então não é de continuar sobrevivendo, mas de atuar para se manter operando na ponta, ao menos na rede de lojas físicas.
Nesta segunda-feira (23), a empresa concluiu a elaboração de sua lista de credores, onde ao menos R$ 68 milhões são de dívidas trabalhistas antes da decretação da Recuperação Judicial.
Esse número não contempla, por exemplo, as despesas com demissões que a empresa deve fazer com a redução das suas operações e que devem se somar aos valores confessados. Pela legislação brasileira, os créditos trabalhistas têm prioridade sobre os demais.