Milhagem

Programa sugerido por Márcio França é bom para aéreas receberem, em dinheiro, passagem que entrega com milhagem

Ministro disse que o Voa Brasil não foi uma proposta do Governo, mas das empresas

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Fernando Castilho

Publicado em 15/03/2023 às 10:30 | Atualizado em 15/03/2023 às 21:59
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O anúncio do ministro de Portos e Aeroportos, Marcio França, de um programa prevendo a venda de passagens aéreas a R$ 200 sem autorização do Palácio do Planalto, que irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ponto de ele dizer que ideias “geniais” precisam passar pela Casa Civil está relacionada a um negócio que, ano passado, movimentou R$ 5,3 bilhões.

Ministro diz que companhias aéreas vão aderir ao Programa Voa Brasil

Ao se explicar, Márcio França disse que o Voa Brasil não foi uma proposta do Governo, mas das empresas Gol (dona do Smiles) e Azul (dona do Tudo Azul) que aceitam vender as passagens pelo preço anunciado.

O faturamento bruto das companhias especializadas em programas de fidelidade chegou a R$ 2,5 bilhões no terceiro trimestre de 2022.

De fato, elas têm mesmo todo interesse. Porque, hoje, elas estão entregando assentos nos seus voos sem receber dinheiro nenhum em cumprimento aos programas de milhagem. Um programa que pagasse R$ 200 por assento, na prática, seria uma receita líquida a ser incorporada pelas empresas em lugar de uma receita apenas contábil.

Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF), os programas de fidelidade registraram retração dos indicadores no acumulado de 2020 movimentaram R$ 5,3 bilhões no ano passado, queda de 29,9% sobre 2019. Mas em 2022 eles voltaram a crescer.

Para se ter uma ideia do que é isso basta dizer que no Brasil, em 2017 o mercado de milhares movimentou apenas R$ 500 milhões, por ano segundo estimativas de empresas do segmento. Naquele ano,  era um mercado secundário para negociação de milhas, que permitia se ganhar dinheiro com a venda de milhagem ou economizar na compra de passagens com preço reduzido.

Isso mudou. Em 2022, o setor emitiu 236,7 bilhões de pontos/milhas. No acumulado de 2020, recuo de 23,2% ante 2019. Em relação a milhas/pontos resgatados, houve queda de 34,4% no ano passado, para 173,9 bilhões.

Apenas no quarto trimestre de 2022 o número de pontos/milhas emitidos alcançou 68 bilhões, um avanço de 23,2% em relação ao período imediatamente anterior. Detalhe  sobre pontos/milhas resgatados, houve um aumento de 26,2%. Pontos resgatados quer dizer assento em voo.

Na verdade, já tem algum tempo que viajar com milhas deixou de ser exclusividade dos clientes frequentes de alguma companhia aérea. Esse mercado chegou a todos os consumidores com o surgimento da parceria entre programas de fidelidade e bancos e operadoras de cartão de crédito, possibilitando, por exemplo, acumular pontos no cartão de crédito e transformá-los em milhas aéreas.

A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) revelou que o Brasil teve em janeiro último um aumento de 11% em relação a janeiro de 2022, movimentando 8,3 milhões de passageiros no mercado doméstico no início de 2023. Boa parte disso é o voo com milhagem.

O país também teve crescimento no mercado internacional, movimentando 1,83 milhões de passageiros, ou seja, um acréscimo de 73,3% na comparação com janeiro de 2022.

Segundo o diretor executivo da associação, Paulo Curro. “A interação dos brasileiros com os programas de fidelidade também continua aumentando. O número de transações, que mede essa atividade, subiu 7,8% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, na comparação com 2019, o aumento foi de 30,9%, chegando a 6,4 milhões”, comparação, para 52,3 bilhões.

O estudo verificou que os usuários de programas de fidelidade já ultrapassam 68 milhões de pessoas. Considerando a população brasileira com acesso à internet – que chega a 152 milhões – a penetração desse mercado no Brasil é de 45%.

“Esse número demonstra um avanço significativo do setor que, há alguns anos, registrava uma estimativa média, de 20% a 30% de penetração, e, também, que um grande espaço para crescimento das empresas desse segmento”, explica Paulo Curro.

De acordo com a ABEMF, os resgates de produtos no varejo chegaram a 100% do total no momento mais crítico do isolamento social, contudo, passaram para 33% no quarto trimestre de 2020, com as passagens aéreas voltando a representar a maior fatia (67%). Ou seja as pessoas acumulam pontos pensando em viajar de avião. Antes da pandemia, o porcentual de pontos/milhas trocados por bilhetes aéreos ficava mais próximo dos 80%.

Junto com novas possibilidades de acúmulo, surgiu também outras formas de uso das milhas, que não se limitam apenas à troca de produtos ou serviços. A venda de milhas, por exemplo, vem trazendo inúmeros benefícios para o setor de fidelização e viagens, que está sofrendo com a alta nos preços.

Os pontos/milhas emitidos, aqueles que foram acumulados no terceiro trimestre, atingiram o montante de 138,2 bilhões. Esse número é 54,6% maior do que o registrado no mesmo período de 2021, e 86,6% acima de 2019, mostrando que mesmo para números pré-pandemia, a alta é representativa. Desses, 6,2% vieram de passagens aéreas e 93,6% foram recebidos por meio de compras feitas no Varejo, Indústria e Serviços.

“Os indicadores positivos no último trimestre do ano demonstram a capacidade de adaptação dos programas às mudanças de realidade do mercado e às diferentes demandas dos participantes. Isso só foi possível devido ao grande investimento das empresas do setor na diversificação de atuação, algo essencial em momentos de crise, bem como em tecnologias que permitem uma maior personalização e flexibilização das ofertas”, disse em nota o presidente da ABEMF, João Pedro Paro Neto.

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