Os desafios e importância da transição energética no Brasil e no mundo
Terceira edição da Conferência Ibero-Brasileira de Energia em Lisboa, Portugal, vai reunir lideranças do setor energético e discutir futuro da área
A manutenção da oferta hidráulica, associada ao incremento expressivo das fontes eólica e solar na geração de energia elétrica (perda zero), assim como da biomassa, contribuíram para que a matriz energética brasileira se mantivesse em um patamar renovável de 49,1%, muito superior ao observado no resto do mundo e nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo o Balanço Energético Nacional 2024 da Empresa de Pesquisa Energética.
Mesmo com o número aparentemente positivo, ainda é de fontes não-renováveis de energia que vem a maior parte da produção brasileira. E é nesse cenário que um importante conceito na agenda energética tem ganhado destaque: o de transição energética.
Ela refere-se ao processo de mudança das fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, para fontes de energia renováveis e mais limpas, como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa.
Esse processo, inclusive, é crucial para enfrentar as mudanças climáticas e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), que têm aquecido o planeta e causado impactos ambientais severos.
Transição energética no mundo
No contexto global, a transição energética está se tornando uma prioridade para muitos países. A Alemanha e a Dinamarca são grandes expoentes desse movimento, investindo massivamente em energia eólica e solar, promovendo a eletrificação dos transportes e a eficiência energética.
A Alemanha, por exemplo, iniciou a "Energiewende", uma política de transição energética que visa eliminar gradualmente a energia nuclear e os combustíveis fósseis, substituindo-os por energias renováveis. Já os dinamarqueses, com uma forte tradição em energia eólica, almejam ser totalmente independentes de combustíveis fósseis até 2050.
Esses países têm investido em tecnologia e infraestrutura para permitir o armazenamento e distribuição eficiente da energia gerada por fontes renováveis, além de incentivar políticas de subsídios e taxação que favoreçam a adoção dessas energias.
Dentre as nações europeias, Portugal também assumiu o compromisso da transição energética, com o objetivo de redução das suas emissões de gases com efeito de estufa.
Como alguns dos objetivos estão descarbonizar a economia nacional, dar prioridade à eficiência energética, promover a mobilidade sustentável e mais até 2030.
O caso do Brasil
O Brasil apresenta um cenário único na transição energética. O país já possui uma matriz energética relativamente limpa: segundo o Balanço Energético 2024, a participação das fontes renováveis na Matriz Elétrica Brasileira foi de 89,2%, correspondente à oferta em 2023, demonstrando que, sob a ótica de transição energética, o Brasil mantém a liderança mundial, graças à política de estado que vem sendo adotada dos últimos 20 anos.
No entanto, essa dependência da hidroeletricidade também representa um desafio, especialmente em tempos de secas prolongadas, que têm se tornado mais frequentes devido às mudanças climáticas.
“O grande desafio é gerenciar adequadamente a oferta de energia, assegurando a participação de todas as fontes de geração, levando-se em conta os atributos de cada fonte no que diz respeito à confiabilidade, à qualidade de fornecimento e ao preço final da energia e, principalmente, a todos os benefícios socioeconômicos e ambientais que são proporcionados ao País”, destaca Reive Barros, diretor da Acropolis Energia.
Para diversificar sua matriz, o Brasil tem investido em outras fontes renováveis, como a energia eólica e solar. Além disso, é, atualmente, um dos países que mais crescem em capacidade instalada de energia eólica, com parques eólicos concentrados principalmente no Nordeste, onde os ventos constantes e fortes oferecem um grande potencial.
Ademais, a energia solar, embora ainda represente uma pequena fração da matriz energética, tem crescido rapidamente, impulsionada pela queda nos custos dos painéis solares e por políticas de incentivo à geração distribuída, onde consumidores podem instalar painéis solares em suas residências e até vender o excedente de energia.
Outro aspecto importante da transição energética no Brasil é a produção de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, que são usados como alternativas à gasolina e ao diesel. Juntos, etanol e biodiesel somaram quase 43 bilhões de litros produzidos em 2023, segundo o Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2024, divulgado pela ANP, sendo esse um recorde histórico.
No entanto, o País ainda enfrenta desafios significativos nessa transição. “Ocorre que para tornar a transição energética ainda mais condizente com os compromissos assumidos pelo Brasil, existe um desafio importante: o valor da tarifa para os consumidores, com excesso de subsídios, que retira a competitividade do País”, observa Barros.
“Esse tema é objeto de preocupação do Ministério de Minas e Energia que já dispõe de um substancial diagnóstico, fruto de contribuições dos agentes do Setor Elétrico. A expectativa é que sejam apresentadas alternativas para, em conjunto com o Congresso, investidores, associações e sociedade, o Governo Federal viabilize a adoção de tarifas justas que remunerem adequadamente os investimentos e que sejam mais acessíveis para os consumidores”, finaliza o diretor da Acropolis Energia.
Discutir o futuro da energia é uma necessidade
Diante da crescente necessidade de debater o futuro da energia, a Conferência Ibero-Brasileira de Energia (CONIBEN) chega à sua terceira edição, reforçando o objetivo de unir as principais lideranças do setor energético ibero-brasileiro, compartilhando conhecimento técnico e estratégico para impulsionar as inovações e mudanças que o mundo tanto precisa.
O evento, que é totalmente presencial e pioneiro na articulação entre o Brasil e a Península Ibérica na temática da energia, ocorrerá em Lisboa, Portugal, nos dias 14 e 15 de novembro.
O foco da conferência é congregar diferentes perspectivas e variadas abordagens na análise de temas emergentes, como descarbonização, transição energética e a busca por modelos de produção e consumo mais sustentáveis.
Além disso, oferece uma oportunidade única de interação com especialistas, autoridades, pesquisadores, grandes empresários e líderes empresariais do Brasil, Portugal e Espanha. As inscrições estão disponíveis no site do evento e podem ser realizadas através deste link.