Fechamento de ruas no Recife: estímulo ao comércio, impacto para os ônibus e cuidado com a acessibilidade são algumas das reações à proposta
Ideia de isolar ruas para o lazer recebeu elogios e críticas. Pelo menos no caso de corredores importantes da cidade, proposta deverá gerar muita polêmica
Como era de se esperar e - é importante destacar - é extremamente salutar, a proposta de fechar ruas do Recife para o lazer aos domingos e feriados gerou muitas reações. Positivas e negativas, é claro. Também foram feitos alertas sob a ótica da acessibilidade. Diante da sugestão de adotar o modelo em avenidas importantes do Centro do Recife, como a Avenida Conde da Boa Vista e a Rua da Aurora, o comércio foi o mais favorável à inovação. Enquanto quem lida com o transporte público se mostrou receoso diante da proibição dos coletivos utilizarem a Conde da Boa Vista - talvez o mais importante corredor de ônibus não só da capital, mas também de boa parte da Região Metropolitana.
Fechamento de ruas no Recife: confira como ficariam a Avenida Conde da Boa Vista e a Rua da Aurora
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Acho a proposta muito importante e entendo que a Conde da Boa Vista e a Rua da Aurora se adequam muito bem. Principalmente a Conde da Boa Vista, que aos domingos e feriados tem praticamente todas as lojas fechadas. As exceções são o Shopping Boa Vista e algumas grandes lojas. Talvez uma iniciativa como esta possa estimular o comércio a abrir nesses dias. Além de atrair outros negócios. Acreditamos nisso. É a nossa luta. A cidade só é viva se tiver vida”,
Cid Lobo Mendonça, vice-presidente da CDL
A reação mais positiva foi a da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Para a entidade, o fechamento da Avenida Conde da Boa Vista pode ser o gatilho que parte do comércio do Centro precisaria para ganhar vida. “Acho a proposta muito importante e entendo que a Conde da Boa Vista e a Rua da Aurora se adequam muito bem. Principalmente a Conde da Boa Vista, que aos domingos e feriados tem praticamente todas as lojas fechadas. As exceções são o Shopping Boa Vista e algumas grandes lojas. Talvez uma iniciativa como esta possa estimular o comércio a abrir nesses dias. Além de atrair outros negócios. Acreditamos nisso. É a nossa luta. A cidade só é viva se tiver vida”, defendeu o vice-presidente da CDL, Cid Lobo Mendonça.
Na opinião do CDL, a partir do momento em que uma via como a Conde da Boa Vista é fechada ao tráfego de veículos aos domingos e feriados, quando naturalmente fica vazia, o Centro ganha vida. “A Conde da Boa Vista melhorou muito depois da requalificação, atraindo novos negócios, apesar do impacto da pandemia. Mas está se recuperando. É um dos principais eixos do comércio e o que mais tem lojas abrindo aos domingos, por exemplo”, pontuou. A segurança, nos dois casos, é fundamental.
Só para comparação, dados da Prefeitura do Recife apontam que, nos fins de semana, o Bairro do Recife recebe um público entre 10 e 15 mil pessoas. Já a Ciclofaixa de Turismo e Lazer, que funciona aos domingos e feriados nacionais, das 7h às 16h, reúne 18 mil ciclistas.
SIMULAÇÃO DA AVENIDA CONDE DA BOA VISTA FECHADA PARA O LAZER:
TRANSPORTE PÚBLICO EM ALERTA
Sob a ótica do transporte público, o fechamento da Avenida Conde da Boa Vista assusta. O que não é para menos, já que 300 mil pessoas circulam pelo corredor diariamente. E, o que mais impressiona, 50% chegam e saem nos 180 ônibus que circulam por hora. Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), diariamente circulam 67 linhas, que transportam mais de 46 mil pessoas e realizam 4.165 viagens.
A Conde da Boa Vista é o principal acesso das linhas de pelo menos dez corredores de ônibus e isso precisa ser considerado. Quando comparam a proposta com São Paulo, é preciso entender que embaixo da Avenida Paulista corre o metrô!. Ou seja, ninguém fica sem transporte. Além disso, São Paulo não tem praia nem áreas de lazer no centro. O Recife tem o Bairro do Recife e a Praia de Boa Viagem. Faz muito mais sentido fechar a beira-mar. Essa sim, uma área turística!”,Germano Travassos, consultor em transporte público
Esses dados, entretanto, são de antes da pandemia e da requalificação do corredor, e considerando os dias úteis. Aos domingos, o volume de viagens cai em mais da metade: 1.472 viagens de ônibus. Mesmo assim, o questionamento é: o que fazer com o transporte público se a Conde da Boa Vista for fechada aos domingos e feriados?
Germano Travassos, consultor em transporte público, é o primeiro a se colocar contra a ideia. Para ele, existem vias adequadas para a iniciativa, como a própria Rua da Aurora ou a Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. A Conde da Boa Vista não seria uma delas. “A Conde da Boa Vista é o principal acesso das linhas de pelo menos dez corredores de ônibus e isso precisa ser considerado. Quando comparam a proposta com São Paulo, é preciso entender que embaixo da Avenida Paulista corre o metrô!. Ou seja, ninguém fica sem transporte. Além disso, São Paulo não tem praia nem áreas de lazer no centro. O Recife tem o Bairro do Recife e a Praia de Boa Viagem. Faz muito mais sentido fechar a beira-mar. Essa sim, uma área turística!”,defende o especialista.
Quem defende a proposta sugere que os coletivos sejam desviados pelo sistema viário existente no entorno da Avenida Conde da Boa Vista, adotando um esquema semelhante ao que é feito para o Carnaval. Na Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, fechada ao lazer desde 2015, o embarque e desembarque das 24 linhas que circulam pelo eixo é transferido para as vias próximas. Mesmo tendo o metrô sob a via.
SIMULAÇÃO DA RUA DA AURORA FECHADA PARA O LAZER:
É preciso criar rotas acessíveis para as pessoas chegarem à Avenida Conde da Boa Vista ou à Rua da Aurora, nesse caso. Pegar um cadeirante, um muletante, por exemplo, e fazer o percurso da descida do ônibus - na rua que for - e criar esse caminho até a via que será fechada para as atividades de lazer. O embarque e desembarque dos ônibus precisam estar identificados e sinalizados. Algo parecido com o que o governo faz no Carnaval”,
Daniela Rorato, gestora de soluções inclusivas
ACESSIBLIDADE
Sob a ótica da acessibilidade, o projeto de fechamento das ruas para o lazer recebeu diversos alertas de ativistas da causa. Daniela Rorato, gestora de soluções inclusivas, alerta que nenhuma área de lazer da cidade tem um plano de acessibilidade. No máximo, rampas, uma ou outra calçada adaptada e ações pontuais para estimular a inclusão. “O Bairro do Recife e as ciclofaixas de lazer que chegam até ele, apesar do sucesso que faz na cidade, são exemplos. “A Prefeitura do Recife fecha a Ponte Giratória para os ciclistas, mas não pensou como as pessoas que não andam ou têm mobilidade reduzida iriam chegar. De ônibus, por exemplo, ou se desce no Terminal de Santa Rita, distante 3,7 km do Marco Zero, ou na Avenida Guararapes. Imagine o que é para quem não anda chegar à Avenida Rio Branco? É um grande obstáculo. É necessário pensar e oferecer rotas alternativas. Aliás, é obrigação e direito previstos em lei. As pessoas com mobilidade reduzida são tão ignoradas nos projetos da cidade que na Avenida Rio Branco, por exemplo, usam jarros para isolar a via e impedir o acesso dos veículos. Ninguém lembra da dificuldade que eles representam para os cadeirantes e muletantes, por exemplo”, destaca.
Por todo esse histórico, Daniela Rorato faz o alerta: no caso do projeto vir a ser oficializado, ele e qualquer outro precisam vir com um plano de acessibilidade e não apenas mobilidade urbana. “São coisas diferentes. É preciso criar rotas acessíveis para as pessoas chegarem à Avenida Conde da Boa Vista ou à Rua da Aurora, nesse caso. Pegar um cadeirante, um muletante, por exemplo, e fazer o percurso da descida do ônibus - na rua que for - e criar esse caminho até a via que será fechada para as atividades de lazer. O embarque e desembarque dos ônibus precisam estar identificados e sinalizados. Algo parecido com o que o governo faz no Carnaval”, sugere.
POSICIONAMENTO DA PREFEITURA
A Prefeitura do Recife - pelo menos a partir da resposta oficial enviada ao JC - não demonstrou muita empolgação com a proposta do fechamento de ruas na cidade como indicado pela Câmara de Vereadores. Na nota encaminhada pela Secretaria de Governo e Participação Social do Recife (Segov), é dito que, assim que houver a notificação do requerimento aprovado pelos vereadores, a gestão irá analisar a viabilidade. Mas já adianta que, pelo menos enquanto durar a pandemia de covid-19, a realização de atividades nos espaços públicos está limitada.
“Será remetida para análise da Secretaria de Política Urbana e Licenciamento (Sepul), que deverá elaborar estudos técnicos de mobilidade urbana, trânsito e de controle urbano, como para a Secretaria de Saúde, para avaliar os protocolos sanitários necessários para autorizar a liberação de vias públicas para atividades de lazer e práticas esportivas. A Segov destaca que o Decreto Municipal 34.956, do último dia 1º de outubro, prorrogou até o dia 30 de dezembro deste ano o Estado de Calamidade Pública no âmbito do município, em virtude da emergência de saúde pública decorrente da pandemia da covid-19. Tal dispositivo limita a realização de atividades que necessitam utilizar o espaço público em razão de medidas necessárias para o enfrentamento ao novo coronavírus”.
NÚMEROS DA PAULISTA ABERTA, EM SÃO PAULO
Em São Paulo, a interdição das duas pistas da Avenida Paulista entre a Praça Oswaldo Cruz e a Rua da Consolação totaliza 14 quadras. A exceção é a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, que continua com seu cruzamento ativo, privilegiando o transporte público. O tráfego de veículos durante a operação Paulista Aberta é feito pelas vias paralelas. Alameda Santos, num sentido, e Ruas Cincinato Braga e Antônio Carlos, no outro.
Segundo a São Paulo Transporte S/A (SPTrans), 21 linhas de ônibus que trafegam pela Paulista têm seus itinerários alterados aos domingos e feriados, das 8h às 16 h. Essas linhas seguem por vias paralelas à Paulista, sem forçar o passageiro a fazer grandes deslocamentos. A avenida, que já tinha uma forte vocação para negócios, com o projeto e a implantação de uma ciclovia no canteiro central, virou um dos principais expoentes culturais da cidade. Teatros, cinemas, museus e centros culturais e de compras estão sempre movimentados, assim como feiras artesanais e apresentações de artistas de rua.
No caso do Minhocão (Elevado João Goulart), no Centro da capital paulista e também fechado ao lazer nos domingos e feriados, não passam linhas de ônibus, mesmo durante a semana. O corredor de ônibus Pirituba - Lapa - Centro, que fica sob o Elevado, segue operando aos sábados e domingos.
Acho a proposta muito importante e entendo que a Conde da Boa Vista e a Rua da Aurora se adequam muito bem. Principalmente a Conde da Boa Vista, que aos domingos e feriados tem praticamente todas as lojas fechadas. As exceções são o S
Cid Lobo Mendonça, vice-presidente da CDLA Conde da Boa Vista é o principal acesso das linhas de pelo menos dez corredores de ônibus e isso precisa ser considerado. Quando comparam a proposta com São Paulo, é preciso entender que embaixo da Avenida Paulista corre o met
Germano Travassos, consultor em transporte públicoÉ preciso criar rotas acessíveis para as pessoas chegarem à Avenida Conde da Boa Vista ou à Rua da Aurora, nesse caso. Pegar um cadeirante, um muletante, por exemplo, e fazer o percurso da descida do ônibus - na rua que f
Daniela Rorato, gestora de soluções inclusivas