Bike PE aumenta número de estações, mas quantidade de bicicletas segue a mesma, deixando muita gente sem pedalar
O JC chegou a anunciar a expansão, mas nem a Tembici nem a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco (Seduh), gestora pública do projeto, informaram, na época, que as bicicletas não chegariam
Lembra da expansão do sistema de compartilhamento de bicicletas públicas Bike PE, que aconteceu no início de 2021, após dez anos de operação, e foi anunciada pelo governo de Pernambuco, a Tembici e o Banco Itaú - estes dois últimos os operadores e financiadores do projeto? Ela não aconteceu como deveria. As dez novas estações, de fato, foram implantadas no sistema, mas as bicicletas que deveriam acompanhá-las não chegaram. E ainda não há uma previsão confiável para isso acontecer. O JC chegou a anunciar a expansão, mas nem a Tembici nem a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco (Seduh), gestora pública do projeto, informaram, na época, que as bicicletas não chegariam.
Confira quais as estações mais concorridas do Bike PE e fuja delas
Após dez anos, Bike PE se expande e ganha novas estações nas Zonas Norte e Oeste do Recife
As dez novas estações deveriam ter sido instaladas com 160 novas bicicletas. A expansão do Bike PE, vale destacar, além de demorada, foi tímida. Em abril de 2021, como prometido e determinado na renovação do contrato de prestação de serviço entre o Itaú Unibanco, a Tembici e o poder público, o Bike PE foi expandido. Ganhou dez novas estações, sendo a primeira ampliação desde que o sistema foi criado em Pernambuco, em outubro de 2011. A expansão chegou a apenas alguns bairros das Zonas Norte e Oeste do Recife. Lembrando que, até abril deste ano, o sistema já tinha registro de mais de 3 milhões de viagens no Recife e nas duas cidades em que têm poucas estações: Olinda e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife.
As estações foram distribuídas nos bairros de Casa Amarela (que ganhou a maioria - 4), Tamarineira (1), Parnamirim (1), Madalena (2) e Água Fria (2). As novas localizações, como explicou a Tembici na época, foram escolhidas para complementar a integração - ou pelo menos tentar - das bikes públicas com o transporte público na RMR, tendo sido aprovados pelo Escritório da Bicicleta, colegiado que traça o caminho da ciclomobilidade em Pernambuco. O escritório é composto por representantes do poder público (Estado e municípios da RMR) e representantes da sociedade civil.
Com certeza, essa falha do processo de expansão é a principal razão para as queixas e reclamações cada vez mais frequentes entre os usuários do Bike PE - pontualmente nos fins de semana e, principalmente, aos domingos e feriados. Muitos têm enfrentado dificuldades para conseguir uma bicicleta nos dias mais concorridos, situação que lembra o passado do sistema, quando ele começou a definhar com uma operação irregular e nada confiável. Na época, ele era operado pela pernambucana Serttel, foi abandonado pelo governo de Pernambuco e pelo Itaú. Logo na sequência, o sistema foi assumido pela Tembici e melhorou infinitamente. Mas agora, como definiu um usuário à reportagem, as pessoas voltaram a sentir “ansiedade antes de sair de casa para pedalar porque não sabem se vão encontrar uma bicicleta”.
“É o que está voltando a acontecer, de fato. É visível que o número de bicicletas do Bike PE está sendo insuficiente nesses dias, que são os dias em que todos querem pedalar, a cidade estimula a atividade com as ciclofaixas de turismo e lazer, e que são os dias que dão visibilidade ao projeto do Itaú. É muito ruim essa sensação de não ter confiança no sistema, sem saber se vamos ou não conseguir uma bicicleta. É frustrante. Conheço pessoas, por exemplo, que estão saindo de carro para tentar localizar uma estação com bikes porque não conseguem achar perto de casa. Isso é muito ruim”, critica o engenheiro químico Cláudio Marinho, que adora usar o Bike PE para pedalar aos domingos e feriados.
O Bike PE funciona no Recife, em Olinda e em Jaboatão dos Guararapes. Das 100 estações, mais de 80 estão na capital pernambucana. No último ano, 73% das viagens foram feitas em dias de semana, o que comprova o uso cada vez maior da bicicleta como transporte.
RESPOSTAS E ARGUMENTOS
A Tembici confirmou que as bicicletas não chegaram com as dez novas estações. Alegou que a pandemia de covid-19 dificultou o envio dos equipamentos, afetados pela ausência de peças. “O cronograma de importações do fornecimento de peças foi impactado, influenciando diretamente na montagem das novas bicicletas do sistema - fator que tem impactado a obtenção de suprimentos em escala global”. A Tembici alegou, ainda, que a demanda do Bike PE só voltou a crescer aos patamares de antes da crise sanitária neste mês de outubro. Mas também não informou esses números.
Já o governo de Pernambuco respondeu apenas depois de muita insistência. Por nota, afirmou estar acompanhando todo o processo para fazer as cobranças das adequações necessárias. E que aguarda o estudo sobre a demanda de usuários do Bike PE. A Seduh, no entanto, omitiu a informação de que as 160 bicicletas não estavam disponíveis para a população nas duas reportagens feitas com o JC sobre a expansão e os problemas do Bike PE.
Confira o posicionamento oficial da Tembici:
“A Tembici, líder em tecnologia para micromobilidade na América Latina, informa que a expansão do Bike PE teve início desde o dia 27/03 com 10 novas estações em funcionamento distribuídas pela zona norte de Recife. O projeto prevê o recebimento de 160 novas bikes no primeiro semestre de 2022. A empresa ressalta que devido à pandemia, o cronograma de importações do fornecimento de peças foi impactado, influenciando diretamente na montagem das novas bicicletas do sistema - fator que tem impactado a obtenção de suprimentos em escala global.
No entanto, a empresa se adiantou e distribuiu as 800 bikes já existentes em todas as estações. A decisão tomada pela Tembici para que nenhum usuário seja prejudicado até o recebimento das peças para montagem das novas bikes está alinhada com a Seduh (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Pernambuco) e o Escritório da Bicicleta.
Cabe ressaltar que, somente este ano, o Bike PE trouxe diversos ganhos para a mobilidade urbana da região. Além disso, o sistema não registrou crescimento na procura durante o primeiro semestre de 2021. Os patamares de utilização do Bike PE só retornaram ao estágio pré-pandemia em outubro deste ano, apenas aos finais de semana, graças à flexibilização das medidas de restrição.
Expandimos o projeto para a zona norte de Recife para complementar a integração modal de bikes e transporte público na região. Em julho, registramos um recorde histórico de 5 mil viagens em um único dia e somente no primeiro semestre, o projeto contribuiu com a economia de mais de 150 toneladas de CO2, equivalente ao plantio de mais de 1.100 árvores. O projeto vem contribuindo desde 2014 proporcionando melhores condições no deslocamento das pessoas, levando Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes para o caminho das cidades inteligentes”.