O cenário pode até mudar ao longo desta quarta-feira (26/7), principalmente diante das decisões judiciais para suspender o movimento - que são certas -, mas a greve dos motoristas de ônibus parou a Região Metropolitana do Recife. São 2 milhões de passageiros prejudicados diretamente.
E foi potencializada com a paralisação de 48h dos metroviários, que decidiram pelo movimento até quinta-feira, às 22h. O movimento de 2020, no auge da pandemia de covid-19 e motivado, essencialmente, pela liberação pelo governo do Estado da dupla função dos motoristas em todas as linhas de ônibus de uma só vez, não teve tanta adesão, vale ressaltar.
Não se via ônibus nas ruas nas primeiras horas da manhã desta quarta. Depois das 7h, um ou outro começou a aparecer, mas quase sempre obrigando o passageiro a esperas superiores a 1h. E, mesmo assim, sem perspectiva de que um coletivo iria passar.
“Espero há mais de uma hora e não sei se o ônibus vai passar. Mas fui orientado a chegar ao trabalho e, por isso, estou aqui. Mesmo nessa situação. Os poucos ônibus que vi estão com motoristas sem farda e são poucos mesmo”, afirmou Gustavo Silva, que aguardava um coletivo em Afogados, Zona Oeste do Recife, para tentar chegar em Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife.
Os transtornos não foram maiores porque, como os movimentos vêm sendo informados há alguns dias, a população se organizou. Muitos sequer saíram de casa, muitas empresas montaram esquemas de transporte para os funcionários e outros usaram aplicativos de transporte, como Uber, 99 e inDrive, que num raro gesto não exploraram o preço dinâmico, mantendo as tarifas baixas em algumas regiões.
DESCUMPRIMENTO DA FROTA NAS RUAS
As garagens das empresas amanheceram repletas de ônibus. A determinação do governo de Pernambuco - que se pronunciou apenas na véspera da greve - de manter 80% da frota em operação nos horários de pico da manhã e noite e 50% no fora pico não foi cumprida nem de longe.
Menos de 30% dos ônibus estavam nas ruas no pico da manhã. Por volta das 9h, subiu para 39%, segundo a Urbana-PE (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco). O descumprimento foi confirmado, inclusive, pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor do sistema.
“O Grande Recife Consórcio de Transporte informa que, até o momento, 27% da frota programada para esta quarta-feira (26) está em operação. Fiscais do órgão estão acompanhando a circulação dos ônibus e atuando na verificação da operação programada”.
O Sindicato dos Rodoviários fez um chamamento para a categoria ficar em casa e sequer ir para as garagens. “A greve está forte e a categoria aderiu em massa. As empresas contrataram profissionais terceirizados para tirar os carros das garagens, mas o nosso movimento tem mais força e a greve continua”, afirmou Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários.
BLOQUEIOS DOS ÔNIBUS QUE SAÍRAM DAS GARAGENS
No fim da manhã desta quarta, os rodoviários impediram a circulação dos ônibus que saíram das garagens, furando a greve. Houve paralisações na Ponte Duarte Coelho e Avenida Guararapes, na Boa Vista e Santo Antônio, no Centro do Recife, e na Avenida Agamenon Magalhães, na altura do Derby, área central da cidade.
As vias são algumas das mais importantes do Recife.
O Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP) opera com 2.600 ônibus, 360 linhas e responde pelo transporte de 1,8 milhão de passageiros por dia.
EMPRESÁRIOS ACUSAM BLOQUEIO DAS GARAGENS
Segundo a Urbana-PE, a entidade impediu, com bloqueios, a saída dos profissionais que foram às garagens e queriam trabalhar. E lembrou que a atitude descumpre determinações administrativas e judiciais.
“A Urbana-PE informa que, na madrugada desta quarta-feira (26), o Sindicato dos Rodoviários bloqueou diversas garagens das empresas de ônibus da Região Metropolitana do Recife. Uma quantidade reduzida de manifestantes contratados pelo sindicato dos rodoviários que sequer fazem parte da categoria impediu a circulação da frota e o livre exercício da atividade dos trabalhadores que não desejam participar do movimento grevista.
A atitude descumpre as decisões liminares do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, a Lei 7.783/89 e a determinação do Grande Recife Consórcio de Transporte sobre a operação com 80% de frota mínima nos horários de maior movimento, isto é, das 05h às 09h e das 16h às 20h, e de 50% nos demais”.
“No horário de pico da manhã, às 06h, apenas 27% da frota estava em circulação. Às 07h, com o esforço das empresas operadoras, o percentual subiu para 39%, mas continua muito abaixo do que foi determinado pelo órgão gestor”.
NEGOCIAÇÕES FRACASSARAM E GREVE DE ÔNIBUS DEVE SER RESOLVIDA COM O JULGAMENTO DO DISSÍDIO
Após uma segunda rodada de tentativa de negociação entre rodoviários e empresários de ônibus fracassar, os operadores do transporte público anteciparam o pedido de julgamento de dissídio coletivo da categoria pela Justiça do Trabalho.
O pedido foi protocolado na terça (25) e aguarda julgamento pelo Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6), o que deve acontecer em breve.
“A Urbana-PE reforça ainda que solicitou ao TRT-6 o julgamento do dissídio de greve e que fará todos os esforços necessários para cumprir as determinações legais e para manter o serviço de transporte público por ônibus em operação com segurança e responsabilidade”.
PROPOSTAS SALARIAIS RECUSADAS
Na segunda reunião realizada sob mediação do TRT 6ª Região, na terça (25), a Urbana-PE apresentou uma contraproposta para os rodoviários de 3% de reajuste salarial, ticket de R$ 370 e gratificação pela dupla função no valor de R$ 150. Os rodoviários não aceitaram e fizeram uma contraproposta para levar à categoria de 5% de reajuste, ticket de R$ 500 e gratificação de R$ 200. Mas os empresários não aceitaram.
A proposta inicial dos motoristas de ônibus era de aumento real de 10%, além da inflação, piso salarial para os setores administrativo e de manutenção, aumento do vale-refeição para R$ 600 e da cesta básica para R$ 400, entre outras reivindicações.
CBTU ACIONA JUSTIÇA CONTRA GREVE DOS METROVIÁRIOS
Embora não tenha sido uma greve geral por tempo indeterminado, a paralisação de 48h dos metroviários também provocou impactos no Grande Recife. O Metrô do Recife não conseguiu operar nenhuma das linhas elétricas (Centro e Sul) e diesel (VLT).
Os metroviários aprovaram o movimento na noite desta terça-feira (25), que seguirá até às 22h da quinta (27). Devido à adesão total da categoria ao movimento, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife também acionou a Justiça para tentar garantir, ao menos, a operação nos horários de pico da manhã e da noite.
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“A CBTU Recife lamenta a decretação de greve de 48h a partir da meia noite de ontem, 25, mas respeita a decisão da categoria, contudo não poderia deixar de assistir a população e por isto, deu entrada em pedido judicial para cumprimento do serviço nos horários de pico, das 5h30 às 8h30 e das 17h30 às 19h30”.
METROVIÁRIOS CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO METRÔ DO RECIFE
Os metroviários estão em Estado de Greve desde o fim do mês de abril como pressão para forçar o governo federal a retirar a CBTU do Plano Nacional de Desestatização (PND), o que não aconteceu mesmo após sete meses da gestão Lula. A categoria está revoltada com a postura do governo federal.
Além disso, alega que, em junho, a Administração Central da CBTU sentou com os sindicatos do Recife, João Pessoa, Maceió e Natal e fechou uma proposta de Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2023/2024, que agora diz não poder cumprir porque o governo federal não aceitou.
A minuta previa um aumento de 15% no salário base da categoria, que passaria de R$ 2 mil para R$ 2.725 e a garantia de emprego no caso da concessão pública ou da privatização do Metrô do Recife. Mesmo pedindo 25%, a categoria teria cedido à proposta.
Por nota, a CBTU Recife informou que submeteu o ACT ao governo federal e que ele não foi autorizado. “Em relação ao Acordo Coletivo 2023/2024, a CBTU submeteu, para apreciação à Secretaria de Coordenação das Estatais (SEST), a proposta que foi discutida conjuntamente com os sindicatos. No entanto, a proposta não foi aprovada e as negociações continuam em andamento”.