Rodovias que Perdoam: estradas seguras reduzem custo da saúde pública e da Previdência Social, alerta Instituto Zero Mortes
O conceito de Rodovias que Perdoam, ainda pouco adotado no Brasil, é importantíssimo para reduzir as mortes nas estradas brasileiras
Ao salvar vidas ou minimizar a gravidade das lesões de motoristas e passageiros, as estradas que adotam o conceito de Rodovias que Perdoam colaboram diretamente para reduzir os custos da saúde pública e, também, da Previdência Social no Brasil. Isso porque, segundo o estudo Impactos Socioeconômicos dos Acidentes de Transporte no Brasil, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), numa parceria com a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) da ONU, cada morte no trânsito custa R$2.95 milhões ao contribuinte brasileiro.
Quem faz o alerta é o presidente do Instituto Zero Mortes, Paulo Pêgas. “O conceito de Rodovias que Perdoam é importantíssimo para reduzir as mortes nas estradas brasileiras. É fundamental que as concessões rodoviárias tenham a exigência - como já vem acontecendo -, prevendo bonificações, por exemplo, mas também que haja o investimento do setor público visando a economia com o custo da saúde e da previdência social”, diz.
Paulo Pêgas, entretanto, pontua que o poder público precisa ser convencido da necessidade de fazer os investimentos. “Como vai ser possível reduzir o gasto do governo?. Essa é a grande questão que os gestores fazem. Com a redução das internações hospitalares, que hoje são entre 60% e 70% de vítimas do trânsito. São unidades preparadas para atender outros pacientes, não os do trânsito. Essas vítimas prejudicam as cirurgias eletivas, por exemplo. Então, ao investir em dispositivos de segurança viária, o poder público beneficia a sociedade”, afirma.
IMPACTO NA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA
E segue fazendo o mesmo comparativo em relação à Previdência Social. “O trânsito brasileiro mata, por baixo, 30 mil pessoas por ano, a um custo de R$ 3 milhões cada vida. Ou seja, numa conta rápida, seriam R$ 90 bilhões de despesas públicas com mortes evitáveis. É o valor que supera o déficit primário do País, atualmente de R$ 85 bilhões. Ou seja, se o Brasil cuidar do trânsito, pode não zerar essa conta, mas vai ajudar muito”, alerta.
O especialista ainda alerta para o fato de que os dados de óbitos e mutilações no trânsito são subnotificados e o número de vítimas é ainda maior no País. “Sabemos que o paciente entra na unidade médica vítima de uma colisão ou atropelamento, mas, no decorrer do tratamento, tem a causa do óbito alterada porque é mais fácil para os médicos fazerem o registro. Afinal, existem mais de cem códigos CID (Classificação Internacional de Doenças) para sinistros de trânsito. Assim, é mais prático informar uma falência múltipla dos órgãos ou uma parada cardiorespiratória. Se colocar fraturas múltiplas, por exemplo, o médico terá que anexar laudos e imagens. O que acontece é que a causa do óbito muitas vezes fica sem vinculação com a razão da internação do paciente”, ensina.
POLÍTICA PÚBLICA DE ESTADO E, NÃO, DE GOVERNO
O Instituto Zero Mortes defende que o País precisa construir uma solução de Estado, que leve dez, 15 anos para ser implementada, e que não dependa de gestões. “Precisamos de uma solução de Estado, que não seja de prefeito, presidente, governador ou presidente. Basta identificar os pontos críticos, a partir das estatísticas existentes - como as da Polícia Rodoviária Federal, por exemplo - e implantar as soluções de segurança nos pontos críticos de acordo com o tipo e a frequência das ocorrências”, ensina. “E, ao mesmo tempo, prever bonificações para as concessionárias que salvam vidas em suas rodovias, por exemplo”, acrescenta.