Romoaldo de Souza

Não serão os rompantes de amnésia do vice-presidente que farão o Brasil esquecer o golpe militar de 1964

Bastava que o senhor Hamilton Mourão fizesse uma ligeira vista d’olhos no relatório da Comissão Nacional da Verdade, divulgado em dezembro de 2014, para que constatasse a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte e desaparecimento de 434 brasileiros e centenas de violações de direitos humanos

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Romoaldo de Souza

Publicado em 19/04/2022 às 7:35
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O general Hamilton Mourão (Republicanos), apontado por alguns equivocados analistas políticos como sendo a banda "moderada" do atual governo, mostrou o que ele sempre foi: um militar que é levado a vestir o pijama, embora devendo à Pátria um grande feito.

Ao se referir em um tom jocoso a revelações oficiais de que houve tortura durante o Regime Militar (1964 -1985), Mourão debochou: “Vai apurar o quê? Os caras já morreram tudo. Vai trazer os caras do túmulo de volta? Isso é história, já passou. É passado. Faz parte da história do país.”

Pois é, general, bastava que o senhor fizesse uma ligeira vista d’olhos no relatório da Comissão Nacional da Verdade, divulgado em dezembro de 2014, para que o senhor constatasse a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte e desaparecimento de 434 brasileiros e centenas de violações de direitos humanos. Não passou, general. Não passou!

Hamilton Mourão me fez lembrar a personagem Leonardo Pataca criada pelo escritor fluminense Manuel Antônio de Almeida (1830-1861). Na brilhante obra "Memórias de um Sargento de Milícias", Leonardo Pataca se apaixona loucamente por uma cigana, mas logo é abandonado pela vidente.

O que faz Leonardo Pataca? Recorre à feitiçaria. Não serão os rompantes de amnésia do vice-presidente da República que farão o Brasil esquecer o golpe militar de 31 de março de 1964 nem seu efeitos nefastos para o país, a democracia e seus habitantes.

Pense nisso!

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