Caso Betinho: novo laudo inocenta um dos acusados do crime
Laudo realizado por peritos federais indiciou que digitais encontradas não eram de estudantes do Colégio Agnes. Crime ocorreu em maio de 2015
O assassinato do coordenador pedagógico José Bernardino da Silva Filho, o Betinho, 49 anos, está longe de um desfecho. Na última sexta-feira (1º), peritos do Instituto de Criminalística de Pernambuco entregaram à Justiça um novo laudo que pode inocentar um dos acusados do crime.
O documento aponta que a digital encontrada em uma das cômodas da residência onde a vítima morava, no Edifício Módulo, no Centro do Recife, em maio de 2015, não era do estudante Ademário Gomes da Silva Dantas - apontado pela Polícia Civil como um dos autores do homicídio de Betinho.
O laudo confirma o resultado de outro exame feito por peritos federais do Instituto Nacional de Identificação, confeccionado também a pedido da Justiça. O Ronda JC teve acesso com exclusividade aos novos laudos.
As digitais encontradas na casa de Betinho foram a principal prova apresentada pela Polícia Civil para afirmar que Ademário e outro suspeito - na época um adolescente de 17 anos - eram os assassinos do coordenador pedagógico. Isso porque o primeiro laudo, produzido por dois peritos papiloscópicos, identificou que as digitais pertenciam aos dois acusados.
A defesa dos mesmos contestou os resultados e, em audiências de instrução e julgamento, solicitaram uma perícia federal. Em ambos os resultados, os peritos federais contestaram o laudo estadual e afirmaram que aquelas digitais encontradas não eram dos acusados. Os dois eram estudantes do Colégio Agnes, onde Betinho também trabalhava. Ademário, inclusive, é filho de um dos diretores da instituição.
Com a divergência, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) solicitou uma terceira perícia. A Justiça atendeu ao pedido e determinou que a Polícia Científica designasse peritos para confecção do novo laudo. Dessa vez, coube ao Instituto de Criminalística o exame.
"Os peritos criminais não constataram convergência entre as impressões apostas no prontuário civil e o fragmento da impressão papilar (...) A impressão questionada encontrada no local de homicídio foi produzida pelo polegar direito do Sr. José Bernardino da Silva Filho", informou o laudo assinado pelos peritos Gilson Freitas e Enock dos Santos.
Na conclusão deles, aquela digital não era de Ademário, mas do próprio Betinho. O laudo, que já está com a Justiça, deve ser analisado nas próximas semanas pelo Ministério Público, que vai dar um parecer sobre o resultado. Só então o juiz responsável deve se posicionar sobre as novas etapas do processo - que só diz respeito à acusação contra Ademário.
A próxima audiência do caso está marcada para 23 de fevereiro de 2018. O advogado de defesa de Ademário, Jorge Wellington, informou, por telefone, que "vai pedir a absolvição sumária do réu ou o trancamento da ação penal".
O outro acusado responde perante a Vara da Infância e Juventude. Esse processo, porém, está sob segredo de Justiça. O professor, que morava sozinho, foi encontrado morto e amarrado nos pés e no pescoço, com fios de eletrodomésticos.
A perícia apontou que ele morreu devido a golpes de ferro de passar na cabeça. O crime aconteceu em 16 de maio de 2015. Supostas digitais do então adolescente foram encontradas em um ferro de passar, mas isso também está sendo contestado pela defesa. O inquérito policial foi conduzido pelo delegado Alfredo Jorge, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Na época, apesar das provas, o delegado afirmou que não conseguiu precisar qual seria a motivação do crime. Desde a conclusão das investigações, ele optou por não se pronunciar mais sobre o caso - já que o processo está com a Justiça.
PERITOS RECONHECEM ERRO
O Ronda JC também teve acesso a um ofício enviado à Justiça pelos peritos papiloscópicos responsáveis pelo primeiro laudo do Caso Betinho. O documento foi encaminhado em julho deste ano, mas só agora veio à tona. Nele, os peritos pedem para fazer uma retificação parcial do laudo.
Eles afirmam que, após tomarem conhecimento do resultado do laudo feito pelos peritos federais, fizeram uma nova análise da digital e se convenceram de que foram induzidos a um "falso positivo". Mais a frente, reconheceram o erro e confirmaram o resultado do laudo federal.
Os peritos destacaram a avançada tecnologia usada pelo Instituto Nacional de Identificação na identificação de digitais - procedimento que, segundo eles, ainda não está disponível em Pernambuco. O ofício foi assinado pelos peritos Adenaule Geber, Sidney Bezerra e Ricardo Freitas.