EXECUÇÃO

MPPE vai cobrar detalhes da investigação da morte de menino em Barreiros, em Pernambuco

Jonathas Oliveira, de 9 anos, foi assassinado dentro de casa por homens encapuzados e fortemente armados. Conflito agrário pode ter relação com o crime

Imagem do autor
Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 14/02/2022 às 15:20 | Atualizado em 14/02/2022 às 22:13
Notícia
X

As investigações sobre o assassinato do menino Jonathas Oliveira, de 9 anos, no Engenho Roncadorzinho, em Barreiros, Mata Sul de Pernambuco, serão acompanhadas também pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A coluna Ronda JC apurou que, nesta terça-feira (15), haverá uma reunião do promotor de Justiça do município com o delegado titular de homicídios de Palmares, Marcelo Queiroz, designado para apurar o fato. O promotor vai cobrar detalhes do que foi descoberto pela polícia desde a última quinta-feira (10), quando houve o homicídio. A principal linha de investigação aponta para um conflito agrário na região. 

Os pais da criança estão sendo ouvidos na tarde desta segunda-feira na Delegacia de Barreiros. Geovane da Silva Santos, pai do menino, é presidente da associação dos agricultores familiares do local. Ele também foi atingido por tiro no ombro depois que sete homens encapuzados invadiram a casa da família. 

"Eu já estava deitado com a minha esposa quando ouvi o estrondo na porta. Quando saí do quarto já recebi o tiro. Eles passaram por mim e eu fugi para a casa do meu cunhado. Só ouvia os tiros e pensava que eles tinham matado a minha família", contou Geovane, em entrevista à TV Jornal

BERG ALVES/JC IMAGEM
Polícia investiga assassinato de criança de 9 anos em Barreiros, Mata Sul de Pernambuco - BERG ALVES/JC IMAGEM

A mãe de Jonathas e outras três crianças que estavam na residência não foram atingidas.

Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que a Delegacia Seccional de Palmares e a Delegacia de Barreiros estão dando apoio nas investigações conduzidas pelo delegado Marcelo Queiroz. 

CONFLITO AGRÁRIO

No Engenho Roncadorzinho, vivem mais de 70 famílias agricultoras - cerca de 400 pessoas. A ocupação ocorreu, há 22 anos, após a falência das usinas onde elas trabalhavam ou eram credoras.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que há anos acompanha a situação dessas famílias, há 10 anos a Agropecuária Javari arrendou o engenho e iniciou o plantio e colheita de cana-de-açúcar. Anos mais tarde, começaram os conflitos, porque a Javari entrou na Justiça para que ocorresse o despejo dessas famílias. 

"Nos últimos anos, a comunidade vem sofrendo diversas ameaças e violências promovidas por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e com contaminação das fontes de água e cacimbas do imóvel por meio da aplicação direcionada e criminosa de agrotóxico de alta toxidade", informou a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape).

Em outubro de 2021, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) remeteu o processo para a Vara de Conciliação. Ainda não houve mediação entre as partes. A coluna procurou a assessoria do TJPE para saber mais detalhes, e ainda aguarda uma resposta. 

"Os casos de violência contra a comunidade vêm sendo denunciados pela Fetape e pela CPT há vários meses, sem que medidas efetivas sejam tomadas por parte do Estado para solucionar a tensão e a violência no local", denunciou a CPT, em texto divulgado nas redes sociais.

A coluna não conseguiu contato com representantes da Agropecuária Javari. 

ARQUIDIOCESE COBRA GOVERNADOR

Em carta, no último sábado, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife cobrou do governador Paulo Câmara empenho pessoal na solução do assassinato de Jonathas Oliveira. 

"A Comissão de Justiça e Paz impactada, como toda a sociedade, pela brutalidade do crime, (...) espera seu empenho pessoal na rigorosa apuração do atentado. Esse crime bárbaro , perpetrado por sete homens encapuzados e fortemente armados, que não hesitaram em atirar no menino indefeso, escondido sob a cama com sua mãe, não pode ficar impune. Apelamos ao senhor governador que disponibilize todos os meios ao alcance do Estado para solução e punição dos responsáveis", afirma trecho da carta. 

Desde que ocorreu o crime, o governador Paulo Câmara não se pronunciou sobre o caso. 

Tags

Autor