Facção que cresce em Porto de Galinhas tem ligação com o PCC, diz Ministério Público
Morte de menina, durante ação do Bope contra suspeitos, trouxe à tona o avanço da criminalidade no principal cartão-postal de Pernambuco
A morte da menina Heloysa Gabrielly, de 6 anos, durante uma perseguição de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) contra suspeitos de tráfico de drogas, na última quarta-feira (30), trouxe à tona o silencioso avanço da criminalidade na praia de Porto de Galinhas, no Litoral Sul, principal cartão-postal de Pernambuco.
Na comunidade de Salinas, onde a criança foi baleada com um tiro no peito - ainda não se sabe de que arma partiu -, a facção criminosa Trem Bala é forte, articulada e até violenta quando sente a resistência de moradores em seguir as ordens.
"Recentemente invadiram a residência de um casal de idosos, que foram expulsos para que os criminosos usassem o local como ponto de tráfico", relatou um policial civil.
A facção é uma velha conhecida da Polícia Civil de Pernambuco. Há anos, avança pelo Litoral Sul do Estado. E é justamente no município de Ipojuca, onde Porto está localizado, que a organização criminosa mais cresceu.
"Há uma tentativa da facção Trem Bala em criar um estado de poder paralelo em alguns locais de Ipojuca, por isso a necessidade da presença do Bope", afirmou o promotor criminal de Ipojuca, Rodrigo Altobello, em entrevista à coluna Ronda JC.
O promotor confirma que há, sim, ligação da Trem Bala com o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do Brasil e que tem sua origem em São Paulo.
"Há uma ligação e atuação conjunta da Trem Bala com o PCC. Como se a Trem Bala fosse um braço de um mesmo corpo. Elas atuam em parceria", disse.
Avalia-se que o PCC tenha mais de 33 mil integrantes no País, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo em 2020.
Desde 2018, o Bope atua de forma permanente em Ipojuca - principalmente na comunidade de Salinas - para tentar barrar o avanço da facção. Há informações, no entanto, de que, no ano passado, os policiais deixaram o local. E precisaram voltar em março deste ano. Questionado pela coluna, nesta sexta-feira (1º), o secretário estadual de Defesa Social, Humberto Freire, negou.
"Não tiramos a base do Bope, em Salinas, e prosseguirá lá porque temos serviços prestados, redução de números da criminalidade em razão desse trabalho técnico e importante e nós vamos prosseguir. E não é só com o Bope não. Trabalho técnico acontece com batalhão de área, com Delegacia de Porto de Galinhas, com investigações do nosso departamento de narcotráfico. E com operações", declarou.
O promotor Rodrigo Altobello reforçou a importância das investigações integradas.
"Nós temos feito diversas medidas para o combate à criminalidade em Ipojuca. Após investigações da Polícia Civil, o Ministério Público de Pernambuco requereu e o Poder Judiciário proferiu decisões que acabaram por localizar e prender o líder máximo da facção Trem Bala. Também fizemos uma operação enorme para prender outros integrantes da facção, com prisões em vários Estados e bloqueio de mais de um bilhão."
RUAS SOB DOMÍNIO DA FACÇÃO
Além de Salinas, outras duas comunidades em Porto de Galinhas preocupam a polícia: Socó e Pantanal. Todas são próximas. Policiais ouvidos em reserva pela coluna Ronda JC contam que, diante do avanço da facção, há ruas, inclusive, que eles não conseguem ter acesso.
Questionado pela coluna, Humberto Freire também comentou. "A gente trabalha para que possa levar segurança para todas as vias, todas as localidades. Não existe local em que a gente não tenha atuação policial. E a gente vai continuar sempre com técnica atuando em todos os locais de Pernambuco."
INVESTIGAÇÕES E PROTESTOS
O secretário estadual afirmou que três investigações estão em andamento em relação à morte de Heloysa Gabrielly. "Uma aberta pela Corregedoria da SDS, outra pela Polícia Civil e outro inquérito policial militar." Ele afirmou ainda não ter conhecimento de que arma partiu o tiro que atingiu a menina. Também não informou os calibres das armas de fogo entregues pelos policiais do Bope para investigação.
Desde quinta-feira (31), o comércio e vários serviços de Porto de Galinhas seguem fechados. Placas pedindo "justiça por Heloysa" estampavam as vitrines das lojas. Protestos também foram realizados, com populares fechando vias e ateando fogo em plantas na estrada. Desde o final da noite, há reforço de policiamento em Porto.
A prefeita de Ipojuca, Célia Sales, reuniu o Comitê de Crise, ontem, para tratar do caso. Ficou decidido que o poder municipal irá oficializar o governo do Estado"cobrando providências para que a ordem pública e a segurança dos cidadãos e dos turistas, desestabilizada pelo fato, seja restabelecida", informou a assessoria da prefeitura.
Em relação aos protestos e fechamentos de vias de acesso às praias de Porto de Galinhas e de Serrambi, a prefeitura disse que "a Secretaria de Defesa Social do município está realizando o monitoramento dos pontos de tensão e oferece, junto com a Secretaria de Turismo do Ipojuca, um canal de informações para o turista através do aplicativo 153 digital".