Porto de Galinhas: dia marcado por versões diferentes da morte de menina, protestos e toque de recolher
Morte de Heloysa Gabrielly, de 6 anos, durante ação de policiais do Bope levou ao caos o principal cartão-portal de Pernambuco
Um dia após a morte da menina Heloysa Gabrielly, de 6 anos, na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco, o clima foi de medo, protestos, comércios fechados e questionamentos à ação dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Imagens de câmeras de segurança revelaram que, momentos antes da criança ser atingida por um tiro no peito, duas viaturas policiais perseguiam uma moto. Só havia um homem nela, diferente da versão informada pela Polícia Militar de que havia dois suspeitos de tráfico de drogas fugindo. A investigação segue para descobrir de que arma partiu o tiro que matou Heloysa.
O pai da menina, Wendel Fernandes, contou que os PMs já "desceram atirando", e que não viu ninguém revidar. "Minha menina brincava de bicicleta na rua, e eles já desceram atirando. A vizinha disse que ela foi atingida. Peguei minha menina no braço, que já estava virando os olhos, e disse [ao policial] 'seu filho da p***, você matou minha filha. Me jogaram na viatura para socorrer ela para o hospital, e diziam: 'vocês não viram que eles atiraram?', e eu dizia que não vi nada", disse, à TV Jornal.
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O tio da criança, que não se identificou, relatou que, aparentemente, a polícia estava seguindo um homem que passava de moto, mas que o suspeito não atirou contra o Bope. "O menino não atirou em polícia nenhuma, ela que chegou atirando, amedrontando a população. A ação foi desnecessária", afirmou.
Nesta quinta-feira (31), o coronel Alexandre Tavares, diretor integrado especializado da PM, reforçou que houve um confronto entre os policiais do Bope e dois homens, que fugiram.
Os PMs que participaram da ocorrência chegaram ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), no Recife, com a viatura marcada de tiros. Eles entregaram três armas de fogo, que estão sendo periciadas. Uma delas seria dos suspeitos, que teriam a abandonado na rua.
Em nota, a Polícia Civil informou que está investigando as circunstâncias da morte. "É prematuro, neste momento, fazer afirmativas."
Já a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social disse ter enviado equipes a Porto de Galinhas para "colher as informações, para verificar se há indícios de autoria e de materialidade por conduta que represente infração disciplinar, visando a subsidiar um procedimento apuratório."
ENTERRO
O corpo de Heloysa foi enterrado no Cemitério de Nossa Senhora do Ó, nesta quinta-feira, sob comoção. Um cortejo, com pessoas a pé, de buggy, de carro e de ônibus, seguiu até o local.
Perto das 20h desta quinta-feira, quando a equipe da TV Jornal deixava Porto de Galinhas, foi orientada pela polícia, assim como outros profissionais da imprensa, a esperar mais um tempo até seguir viagem, pois homens armados estariam abordando os veículos nas proximidades do acesso à Nossa Senhora do Ó. No local, um ônibus foi incendiado.
COMÉRCIO FECHADO E PROTESTOS
O comércio e vários serviços de Porto de Galinhas amanheceram fechados. Placas pedindo "justiça por Heloysa" estampavam as vitrines das lojas. Protestos também foram realizados, com populares fechando vias e ateando fogo em plantas na estrada. O clima era de medo.
Comerciantes e moradores afirmaram que o fechamento teria sido determinado por traficantes. "Mandaram ninguém abrir por três dias, até sábado. Disseram que quem descumprir vai ter problemas. Está todo mundo com medo e revoltado pelo que fizeram com a criança", disse um comerciante.
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Porto de Galinhas também precisou interromper o funcionamento porque recebeu ameaças.
Por nota, a Polícia Militar de Pernambuco disse desconhecer a ordem. "As equipes permanecem maciçamente realizando o policiamento ostensivo na região."
Nas redes sociais, pessoas relataram a sensação de medo nas ruas. "Pagamos caro para chegar aqui e tudo está fechado por que os policiais atiraram em uma criança! Cadê o prefeito dessa cidade para averiguar? Cadê a polícia para proteger os visitantes e moradores?", questionou uma turista.
A prefeita de Ipojuca, Célia Sales, reuniu o Comitê de Crise, ontem, para tratar do caso. Ficou decidido que o poder municipal irá oficializar o governo do Estado "cobrando providências para que a ordem pública e a segurança dos cidadãos e dos turistas, desestabilizada pelo fato, seja restabelecida", informou a assessoria da prefeitura.
Em relação aos protestos e fechamentos de vias de acesso às praias de Porto de Galinhas e de Serrambi, a prefeitura disse que "a Secretaria de Defesa Social do município está realizando o monitoramento dos pontos de tensão e oferece, junto com a Secretaria de Turismo do Ipojuca, um canal de informações para o turista através do aplicativo 153 digital".
"A Prefeitura de Ipojuca lamenta a morte da menina Heloysa, aguarda resposta da investigação e espera que os dias de paz voltem a reinar no maior destino turístico do estado", completou o texto.