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Sobre UTIs para covid-19: "Vemos colapso de recursos humanos", diz médico intensivista

Pela complexidade do cuidado exigido por um paciente grave e acometido por uma doença ainda cheia de enigmas, um leito de UTI não é montado de uma hora para outra

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 25/04/2020 às 12:09 | Atualizado em 25/04/2020 às 15:12
ANDRÉA RÊGO BARROS/PCR
65% dos 169 pacientes internados nessa terça-feira (30) nas UTIs dos hospitais de campanha da prefeitura vieram de outros municípios. Apenas 60 são moradores do Recife - FOTO: ANDRÉA RÊGO BARROS/PCR

Cadê os leitos de UTI? Essa se tornou uma pergunta que muitos têm feito nesta fase em que a epidemia de covid-19 desponta com uma curva acelerada em Pernambuco. Após quase 40 dias do anúncio da abertura de 400 novas vagas de unidade de terapia intensiva (UTI) e 600 de leitos de retaguarda (aqueles que podem servir como uma enfermaria e necessários para pacientes em menor gravidade e para aqueles que têm alta da UTI) em todo o Estado, foram colocadas em operação 327 dessas vagas para assistência intensiva a pacientes com suspeita ou confirmação da infecção pelo novo coronavírus. 

Até a sexta-feira (24), 91% desses leitos permaneciam ocupados - uma queda de oito pontos percentuais, em comparação com a última segunda-feira (20), quando o Estado operava com 319 vagas de UTIs. Além do acréscimo de oito leitos, ao longo da semana, há pacientes que foram a óbito e outros tiveram alta, o que pode justificar a queda na taxa de ocupação nos últimos cinco dias. Ainda assim, todo índice acima de ocupação a partir de 80% denota uma zona de criticidade na assistência hospitalar e exige capacidade de resposta das autoridades. O maior entrave nesse cenário é que, pela complexidade do cuidado exigido por um paciente grave e acometido por uma doença ainda cheia de enigmas, um leito de UTI não é montado de uma hora para outra. Para ele existir, não são necessários apenas respiradores, “um item que mais nos falta” - usando aqui as palavras ditas pelo secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa na terça-feira (21).

Uma explicação do médico Marçal Durval Siqueira Paiva Júnior, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco, traz uma luz que nos ajudar a explicar por que, depois de quase dois meses das notificações em Pernambuco e na atual franca aceleração da curva epidêmica de covid-19, ainda falta abrir uma parte das prometidas vagas de terapia intensiva. “O mais sério é que assistimos a um colapso de recursos humanos”, comenta Marçal sobre a falta de profissionais capacitados e experientes, especialmente médicos, para atuar na assistência hospitalar intensiva, uma área que exige do profissional cuidado intenso, vigia com assiduidade dos sinais vitais do paciente e agilidade para corrigir problemas que levam o paciente a ter a vida em risco. “Ainda há muitos, já preparados, que estão adoecendo. O que acontece? Vários têm dobrado plantão (pelo desfalque), outros vão trabalhar e não sabem se serão rendidos. Tudo isso tem dificultado a abertura de novos leitos”, acredita Marçal.

O mais sério é que assistimos a um colapso de recursos humanos
Marçal Durval Siqueira Paiva Júnior, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco

Esse depoimento nos leva a perceber o quanto o problema é mais complexo do que adquirir ventiladores mecânicos. O Recife, por sinal, tem hoje mais respiradores recém-adquiridos (122 ao todo) do que leitos de UTI (70 vagas já foram abertas), em operação nos hospitais de campanha da rede municipal e no Hospital da Mulher do Recife, no Curado, Zona Oeste da cidade. “Para criar UTIs, além dos equipamentos, precisa-se de estrutura física que dê a mínima condição para funcionamento da assistência intensiva, incluindo estrutura de gases. O mais difícil, contudo, é ter material humano (por plantão de 12 horas): um médico para cada dez leitos, uma enfermeira para um total de oito a dez pacientes, um fisioterapeuta respiratório para a mesma proporção e um técnico de enfermagem para até dois pacientes”, diz Marçal.

Atualmente o Estado tem em torno de 25 mil servidores da saúde, além dos profissionais lotados na rede municipal e os que atuam exclusivamente nas unidades privadas. No último dia 22, diante da necessidade desses profissionais para o enfrentamento à covid-19, André Longo anunciou a convocação de servidores para iniciar o processo de substituição de outros profissionais que adoeceram e, por isso, afastaram-se do front. Ao todo, foram chamados mais de mil médicos diaristas e 702 trabalhadores de outras áreas da saúde. “Estamos disponíveis para oferecer treinamento e supervisão aos que precisarem neste momento”, salienta Marçal.

Do total de vagas de UTI já abertas para covid-19, em Pernambuco, segundo atualização deste sábado (25) da Secretaria Estadual de Saúde (SES), 35 leitos estão no antigo hospital Alfa, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife; 20 na Maternidade Brites de Albuquerque, em Olinda; 30 no Hospital Dom Helder Camara, no Cabo de Santo Agostinho, Grande Recife. A meta do governo do Estado é concluir, até o fim deste mês, a abertura dos novos leitos de UTI para covid-19 e, dessa maneira, alcançar a marca dos 400 prometidos para salvar vidas.

Citação

O mais sério é que assistimos a um colapso de recursos humanos

Marçal Durval Siqueira Paiva Júnior, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco
Marçal Durval Siqueira Paiva Júnior, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco
Marçal Durval Siqueira Paiva Júnior, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco - FOTO:Marçal Durval Siqueira Paiva Júnior, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva de Pernambuco

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