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Cloroquina: "Há uma cortina de fumaça sobre essa questão", diz secretário de Saúde de Pernambuco

Segundo André Longo, é preciso respeitar a prescrição do médico e o paciente. "Não se trata simplesmente de uma imposição", destacou

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 19/05/2020 às 13:18 | Atualizado em 19/05/2020 às 16:20
HELIA SCHEPPA/SEI
"A Secretaria Estadual de Saúde adquiriu mais 86 mil comprimidos de hidroxicloroquina para atender pacientes com covid-19", disse André Longo - FOTO: HELIA SCHEPPA/SEI

Com a saída de Nelson Teich à frente do Ministério da Saúde, o governo federal passou a elaborar um novo protocolo para uso da cloroquina e hidroxicloroquina (medicações cuja atividade antiviral contra a doença está em investigação) em pacientes com quadro leve de covid-19, mesmo sem evidências científicas que apontem eficácia. Atualmente, o caminho adotado pela pasta é o uso do medicamento apenas em pacientes graves. “Nesse momento, o protocolo que está vigente, do Ministério da Saúde, recomenda a utilização da hidroxicloroquina ou cloroquina no ambiente hospitalar para pacientes com síndrome respiratória aguda grave (srag). O órgão federal realizou o envio de mais de 170 mil comprimidos dessa medicação (cloroquina) para Pernambuco, que foram distribuídos para mais de 63 serviços públicos. Além disso, a Secretaria Estadual de Saúde adquiriu mais 86 mil comprimidos de hidroxicloroquina para atender pacientes com covid-19, que estão sendo encaminhados às unidades hospitalares”, disse o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa na segunda-feira (18). 

Ele acrescentou que o Estado não tem, neste momento, evidência científica para adotar um protocolo que norteie os médicos para o uso da cloroquina, mas ressaltou que está em contato com o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco e respeita a prescrição dos médicos que acreditam no tratamento com utilização dessas medicações. “Há uma cortina de fumaça sobre essa questão. É preciso respeitar a prescrição do médico e o paciente. Não se trata simplesmente de uma imposição.”

Pneumologista e alergologista, Antônio Aguiar Filho relata que já atendeu 196 pacientes com sintomas de covid-19. Entre eles, um foi a óbito e três foram internados. “Eles me procuraram na fase de viremia (início dos sintomas), com quadros de leves a moderados. Foi feito tratamento ambulatorial (em consultório, sem necessidade de internamento)”, informa Antônio, que diz ser contra a automedicação e, por isso, não recomenda o uso de cloroquina e hidroxicloroquina por conta própria, sem supervisão de um médico. “Todos os nossos pacientes assinam um consentimento livre sabendo dos riscos da medicação. Ninguém toma (o remédio) sem querer. As pessoas que não desejam usar (a cloroquina) são respeitadas.” Ele ainda ressalta que o uso da hidroxicloroquina deve ser conduzido por médico, que faz acompanhamento e avaliação dos riscos. "O paciente tem que estar ciente de possíveis efeitos colaterais. Temos conseguido diminuir internamento e mortalidade”, complementou Antônio Aguiar Filho. 

Também pneumologista, Alfredo Leite, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), ressalta que, até então, os estudos com hidroxicloroquina são de qualidade científica baixa. “Defensores (do medicamento) ignoram os resultados negativos constatados em estudos mais recentes. Reconheço que há dúvida quanto à eficácia, que só será esclarecida de verdade quando tivermos resultados dos primeiros estudos randomizados e controlados, trabalhosos e demorados, mas que são essenciais porque impedem que o entusiasmo de pesquisadores, pela medicação testada, influenciem resultados obtidos”, frisa Alfredo. Ele acrescenta que a maioria dos pacientes que viu evoluir mal com covid-19 fez uso de hidroxicloroquina na fase inicial da doença. "Não virei a cara para essa medicação ou outra. Torço para que, ao menos, uma delas se mostre eficaz em um dos estudos científicos em andamento”, destacou o pneumologista. 

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