Durante este tempo de isolamento social necessário contra a covid-19, muitos de nós percebemos, sobre a janela de casa, o quanto as ambulâncias circulam com mais frequência pelas ruas da cidade. Sem os ruídos urbanos, também ficamos mais sensíveis para ouvir as sirenes que entoam uma guerra contra o novo coronavírus. Na luta pela vida, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Metropolitano do Recife tem se mobilizado para dar conta das milhares de ligações que chegam à central – quase metade delas representa um pedido de ajuda para pessoas que apresentam sintomas sugestivos de covid-19.
Nos primeiros 17 dias deste mês, o Samu recebeu 5.928 chamados relativos a causas respiratórias (5.250 deles foram de casos suspeitos de coronavírus) e outras 6.795 ligações por problemas de saúde gerais. Se formos para a ponta do lápis, chegamos a uma média de 300 ligações por dia apenas de situações em que se acendeu o alerta para covid-19. Para se ter uma ideia, esse número representa cinco vezes mais do volume de chamados diários, para a mesma causa, no fim de abril. No ano passado, o registro do Samu era de três a cinco ocorrências relativas a sintomas respiratórios por dia.
- OMS aponta que cloroquina pode causar efeitos colaterais e destaca ineficácia do medicamento contra a covid-19
- Com mais 888 óbitos, Brasil registra 18.859 mortes pela covid-19; País contabiliza 291.579 casos da doença
- Governo de Pernambuco se diz "preocupado" com protocolo que indica cloroquina para covid-19
- As respostas para os impactos da pandemia na mobilidade urbana
Os números são detalhados pelo cirurgião-geral e urologista Leonardo Gomes, diretor-geral do Samu Recife. Também coordenador dos Hospitais Provisórios da cidade, voltados para o atendimento de pacientes com sintomas da doença, ele relata que, paralelamente à aceleração da curva epidêmica da covid-19 no Estado, a equipe do Samu tem se mobilizando para salvar vidas em meio ao tsunami de casos da infecção causada pelo novo coronavírus. “Atualmente 46,7% dos atendimentos que realizamos são voltados a pacientes com síndrome respiratória aguda grave (srag, sigla que caracteriza uma condição que tem a covid-19 como uma das causas). Pelo ritmo da epidemia, com mais uma ou duas semanas, o volume de casos de srag certamente vai superar a metade dos atendimentos”, destaca Leonardo.
Para responder à demanda das ligações, o Samu precisou reorganizar as equipes, que ganharam reforço. Antes da pandemia, o serviço tinha cerca de 600 profissionais. Hoje já são 818, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, condutores socorristas e funcionários do setor administrativo. O Samu ainda lançou mão de plantões extraordinários para ampliação do serviço e implantação de novas atividades.
Sem essa estrutura, as escalas estariam desfalcadas pelo adoecimento dos profissionais de saúde e sem fôlego para seguir com a missão. Desde 12 de março, dia dos primeiros casos confirmados de covid-19 no Estado, 324 trabalhadores do Samu já foram afastados por suspeita da doença. Entre eles, 202 tiveram resultado laboratorial positivo para o novo coronavírus. Muitos desses profissionais se recuperaram e voltaram para o serviço. Atualmente 32 estão longe da linha de frente por estarem com sintomas sugestivos da infecção. “Pela nossa missão, não poderíamos ficar de fora do enfrentamento à covid-19. Sempre estivemos contra o tempo e o inesperado; agora estamos contra o invisível”, diz Leonardo.
Ele acrescenta que diariamente vê o perfil da demanda do Samu se transformar durante esta pandemia. “Em tempos normais, não covid-19, 50% dos atendimentos são clínicos (pacientes com queixas de doenças em geral), de 30% a 35% são decorrentes de acidentes de trânsito e o restante, de transtornos psiquiátricos. O percentual de atendimentos clínicos permanece, mas a covid-19 pegou a fatia correspondente aos acidentes, que compreendem agora a 10%, e aos distúrbios mentais, que hoje representam 5% dos atendimentos”, complementa.
Para dar assistência a quem o chama, o Samu Recife conta com atualmente com 30 ambulâncias no Recife, das quais 24 são Unidades de Suporte Básico e seis são Unidades de Suporte Avançado (UTIs móveis). "Fazemos também o transporte entre unidades de saúde. No último domingo (17), levamos 25 pacientes de UPAs e policlínicas para leitos de enfermaria de hospitais. É uma forma de desafogar as unidades para receber mais pacientes”, diz o diretor-geral do Samu Metropolitano do Recife.
Comentários