Grávida de 32 semanas, uma profissional de saúde de 34 anos, infectada pelo novo coronavírus, deu à luz um bebê natimorto (feto morreu ainda no útero), do sexo masculino, no dia 16 deste mês, num hospital particular do Recife. Assim como a mãe e o pai, ele também positivou para covid-19. Os resultados foram liberados, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, no último dia 23, mas apenas nesta quinta-feira (28) o registro (natimorto) foi feito no boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES).
O caso joga luz para uma questão que o mundo inteiro tenta responder: “é possível transmissão da covid-19 para o bebê durante a gestação ou o parto?”. A ciência ainda não tem essa resposta. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, na sexta-feira (22), documento que ratifica: até o momento, não há comprovação irrefutável de transmissão vertical (da mãe doente para o bebê) durante a gestação ou através do aleitamento materno.
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O caso do natimorto, o primeiro registrado em Pernambuco, está em investigação pela Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), com apoio da SES. A reportagem do JC entrou em contato com a assessoria da Sesau, que não informou o hospital onde a família foi atendida nem disse se foi feito estudo da placenta, que fornece elementos importantes para o entendimento das circunstâncias do óbito fetal.
“A investigação está sendo feita pela Vigilância junto ao hospital”, diz. Além disso, a Sesau destacou que a mãe do bebê tem asma crônica e desenvolveu diabetes gestacional. Um ultrassom feito no dia 13 deste mês (ou seja, antes do parto) já havia detectado ausência de batimentos cardíacos no feto. No dia seguite, foi realizada coleta na mãe de amostras biológicas, com resultado detectável para o novo coronavírus no sábado (23). O pai da criança também tee diagnóstico confirmado. A coleta de amostras biológicas no feto foi feita no dia 16, e o resultado de positivo para covid-19 também saiu no sábado.
“Seria interessante se esse feto tivesse sido encaminhado para o SVO (Serviço de Verificação de Óbito), com o intuito de se fazer um estudo mais detalhado da placenta e, dessa maneira, ver se encontraria o vírus na face materna ou na face fetal (a placenta apresenta duas faces: uma voltada para o bebê e outra para a mãe)”, diz o médico Pedro Pires, obstetra e coordenador de Medicina Fetal do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam). Para ele, a investigação da placenta, nesses casos, é o padrão-ouro para se fazer análise mais minuciosa da causa do óbito intraútero.
Sobre as evidências científicas que permeiam o tema, ele destaca duas séries de casos (tipo de estudo que relata uma doença ou associação incomum) já publicadas, totalizando 19 casos, incluindo uma gestação gemelar. “Nenhum dos casos teve confirmação de passagem transplacentária; ou seja, nada de transmissão vertical. Entre eles, houve um caso em que o vírus foi detectado na face materna da placenta, e não na face fetal, o que mostra que o vírus não passou”, frisa Pedro. Ainda de acordo com o médico, há um relato de caso ainda em análise para ser publicado em revista científica, mas que já circula entre os especialistas. “Esse trabalho mostra que foi identificada a passagem transplacentária, com identificação do vírus. É um caso que ainda aguarda aprovação para publicação”, acrescenta.
Também médico obstetra, Eugênio Pita, especialista em medicina fetal, complementa que, em situações de natimortos, são necessários muitos detalhes para se atribuir a morte à infecção intrauterina causada pelo novo coronavírus. “Neste caso (natimorto registrado no Recife), com as informações que se tem até agora, pode-se dizer que se trata de uma morte intrauterina associada à covid-19, mas não daria para afirmar com absoluta certeza se foi um óbito decorrente da infecção pelo novo coronavírus no feto”, explica Eugênio.
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