Desde o início da epidemia de covid-19, 35.571 profissionais de saúde foram testados para a doença em Pernambuco, e 15.844 (44,5%) tiveram diagnóstico positivo. Entre esses que foram infectados, 90% estão recuperados, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES). “Isso ressalta o trabalho planejado e comprometido realizado pelo governo de Pernambuco. Mobilizamos cerca de 10 mil profissionais para a nossa rede direta, entre concursados, contratados e remanejados nas unidades. Graças a isso, diferentemente de outros locais, a força de trabalho não foi, em nenhum momento, impeditivo para abrirmos leitos e garantirmos a assistência à população”, destacou ontem o secretário Estadual de Saúde, André Longo, em coletiva de imprensa transmitida pela internet. As testagens abrangem trabalhadores de unidades de saúde das redes pública (estadual e municipal) e privada.
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Primeiro do País a criar um protocolo para testar os profissionais da Saúde, Pernambuco passou por um momento da epidemia, em maio, em que esses trabalhadores chegaram a representar 71% do total diário de infectados confirmados. Também naquele mês, quase 2 mil trabalhadores de saúde da rede estadual chegaram a ficar afastados da linha de frente no Estado. "Quero, mais uma vez, registrar o meu reconhecimento e agradecimento a todos os profissionais de saúde que atuam na linha de frente. São os verdadeiros heróis desta batalha contra a covid-19", ressaltou Longo.
Entre os que adoeceram por covid-19 em Pernambuco, auxiliares e técnicos de enfermagem fazem parte da categoria que mais positivou para o vírus devido à exposição decorrente do contato próximo com o paciente – 3.992 deles receberam diagnóstico da doença, o que representa 25,7% das confirmações. Em seguida, vêm enfermeiros (10,5%), biomédicos (8,4%) e médicos (7,3%).
Apesar de a maioria dos profissionais de saúde infectados ter se recuperado, 53 infelizmente não resistiram às complicações decorrentes do novo coronavírus e foram a óbito. Também entre o total que adoeceu, 114 permanecem em leitos de hospitais lutando pela vida. Além disso, 54 estão com a doença ativa em isolamento domiciliar; são os casos mais leves de covid-19 que não precisam de internamento. Em outros mais de 1,2 mil casos (8% das confirmações), segundo a SES, não foi possível identificar como os profissionais de saúde evoluíram (recuperados, internados, isolamento domiciliar ou óbito).
Pesquisa
O estudo Avaliação de riscos de profissionais de saúde que cuidam de pessoas com covid-19, coordenado pela médica epidemiologista Fátima Militão, traz os primeiros resultados sobre o perfil dos profissionais de saúde expostos ao novo coronavírus em Pernambuco. Pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Fátima tem se debruçado sobre questões que avaliam o risco constante vivenciados pelos trabalhadores de saúde ao longo da epidemia de covid-19. “Entre os principais riscos citados, pelos participantes da pesquisa, estão os procedimentos diretos com pacientes doentes, o processo de desparamentação e principalmente a reutilização de máscaras N95”, destaca Fátima, que se preocupa com um dos achados da pesquisa: 60% dos profissionais de saúde reutilizam a máscara N95 por sete dias e 40% por 15 dias.
“Em algumas situações até reutilizamos máscaras, como em casos de atendermos pacientes com tuberculose bacilífera. Mas essa é outra situação. Agora, lidamos com um vírus que é extremamente infeccioso. A transmissibilidade dele pelo ar é bem mais intensa que a da microbactéria. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda usar (a máscara N95) em todas as situações que provoca aerolização, e nem todos os profissionais de saúde responderam que usam em 100% dessas situações”, ressalta Fátima. Ela acrescenta ainda que a OMS recomenda troca da máscara sempre que houver umidade na peça. “Em 15 dias de uso, dificilmente a máscara não ficará úmida pela respiração do usuário ou pelo suor.”
Outro achado preocupante da pesquisa é a falta de uso da máscara N95, por 34% dos entrevistados, durante todos os momentos de prestação de cuidados aos pacientes com covid-19. Só 66% deles dizem usar sempre a peça. "O fato de os profissionais assumirem que não usam, a todo o momento, a N95 e outros equipamentos chama a atenção. Isso quer dizer que, de certa forma, eles podem estar expostos a risco quando não utilizam a máscara e demais itens, nos momentos em que há indicação para utilizá-los", reforça o médico infectologista Demócrito Miranda, professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e um dos integrantes da equipe da pesquisa.
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