O estudo Avaliação de riscos de profissionais de saúde que cuidam de pessoas com covid-19, coordenado pela médica epidemiologista Fátima Militão, traz os primeiros resultados sobre o perfil dos profissionais de saúde expostos ao novo coronavírus em Pernambuco. Pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Fátima tem se debruçado sobre questões que avaliam o risco constante vivenciados pelos trabalhadores de saúde ao longo da epidemia de covid-19. “Entre os principais riscos citados, pelos participantes da pesquisa, estão os procedimentos diretos com pacientes doentes, o processo de desparamentação e principalmente a reutilização de máscaras N95”, destaca Fátima, que se preocupa com um dos achados da pesquisa: 60% dos profissionais de saúde reutilizam a máscara N95 por sete dias e 40% por 15 dias.
“Em algumas situações até reutilizamos máscaras, como em casos de atendermos pacientes com tuberculose bacilífera. Mas essa é outra situação. Agora, lidamos com um vírus que é extremamente infeccioso. A transmissibilidade dele pelo ar é bem mais intensa que a da microbactéria. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda usar (a máscara N95) em todas as situações que provoca aerolização, e nem todos os profissionais de saúde responderam que usam em 100% dessas situações”, ressalta Fátima. Ela acrescenta ainda que a OMS recomenda troca da máscara sempre que houver umidade na peça. “Em 15 dias de uso, dificilmente a máscara não ficará úmida pela respiração do usuário ou pelo suor.”
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Outro achado preocupante da pesquisa é a falta de uso da máscara N95, por 34% dos entrevistados, durante todos os momentos de prestação de cuidados aos pacientes com covid-19. Só 66% deles dizem usar sempre a peça. "O fato de os profissionais assumirem que não usam, a todo o momento, a N95 e outros equipamentos chama a atenção. Isso quer dizer que, de certa forma, eles podem estar expostos a risco quando não utilizam a máscara e demais itens, nos momentos em que há indicação para utilizá-los", reforça o médico infectologista Demócrito Miranda, professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e um dos integrantes da equipe da pesquisa.
Sobre a máscara N95, Demócrito frisa que, se ela for armazenada de forma adequada para reutilização, seguindo as recomendações, o risco de contaminação é baixo. "Mas, queira ou não queira, isso (uso da mesma máscara por muitos dias) traduz uma certa limitação de disponibilidade de equipamentos e, de certa forma, pode aumentar o risco de contaminação se houver manuseio inadequado", acrescenta o infectologista.
O levantamento mostrou que 86,9% dos profissionais de saúde entrevistados relataram utilizar com frequência luva, protetor facial (42,2%), óculos (34,0%), capote impermeável (34,5%), gorros (83,0%), propés (23,8%). Já durante procedimentos aerolizantes, 97% dos médicos, 94% dos fisioterapeutas, 83% dos técnicos de enfermagem e 74% dos enfermeiros relataram usar sempre a máscara N95. Ou seja, técnicos de enfermagem e enfermeiros são os que ficam mais expostos aos procedimentos diretos com pacientes doentes.
Essa primeira fase da pesquisa, de 12 de maio a 12 de junho, ouviu 206 profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas). A partir de uma metodologia de amostragem encadeada, o estudo recruta remotamente participantes, que preenchem um questionário em um app desenvolvido pela FITec – Inovações Tecnológicas.
A maioria dos entrevistados (51,7%), até o momento, presta assistência a pacientes com covid-19 há três meses. Do total de recrutados 84% atendiam pessoas com o novo coronavírus em hospitais públicos. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou recebeu o relatório sobre a pesquisa, que ainda está em análise pelas Secretarias-Executivas da pasta.
Outros dados da pesquisa
- 206 profissionais de saúde participaram da primeira fase da pesquisa: 41% médicos, 28% fisioterapeutas, 20% enfermeiros e 11% técnicos de enfermagem
- Dois terços dos profissionais de saúde entrevistados têm mais de um vínculo de trabalho: 60,2% dos médicos referiram três ou mais vínculos de trabalho seguidos dos fisioterapeutas (38,6%), enfermeiros (12,2%) e técnicos de enfermagem (8,7%)
- 50% dos profissionais referiram já ter apresentado sintomas clínicos sugestivos de covid-19
- 27% dos participantes informaram terem testado positivo para a doença por meio do teste RT-PCR
Números de Pernambuco
Com relação à testagem dos profissionais de saúde com sintomas sugestivos de covid-19, em Pernambuco, até esta sexta-feira (26), 15.214 casos foram confirmados e 17.881 descartados. As testagens abrangem os profissionais de todas as unidades de saúde, sejam da rede pública (estadual e municipal) ou privada. O Estado foi o primeiro do país a criar um protocolo para testar os profissionais da área da saúde.
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