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Enfermagem pede socorro: categoria representa 40% dos profissionais de saúde infectados em Pernambuco

Profissionais da enfermagem se queixam de baixo salário, pouca valorização profissional, falta de adicionais de insalubridade, alto índice de enfermeiros adoecendo e ausência de EPIs adequados

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 31/07/2020 às 0:13 | Atualizado em 31/07/2020 às 0:14
KENZO TRIBOUILLARD/AFP
. - FOTO: KENZO TRIBOUILLARD/AFP

A velocidade de transmissão do novo coronavírus pode até ter reduzido em algumas localidades de Pernambuco, mas o ritmo de trabalho dos profissionais de saúde continua intenso. Na linha de frente, trabalhadores da enfermagem continuam a representar os que mais estão expostos ao risco de infecção, e os números confirmam essa constatação. Em todo o Estado, 18.692 casos da doença foram confirmados entre profissionais de saúde, e 39,9% deles correspondem a quem atua na enfermagem: 28,1% são técnicos/auxiliares e 11,8% enfermeiros.

Na quarta-feira (29), dezenas de vozes da categoria se manifestaram, em comentários por escrito, durante webconferência promovida pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas de Pernambuco (Sindhospe). O evento contou com a participação dos secretários de Saúde de Pernambuco e do Recife, André Longo e Jailson Correia, respectivamente, e a maioria das mensagens escritas foi dirigida a eles.

As queixas foram relativas a baixo salário, pouca valorização profissional e respeito à categoria dos técnicos, falta de adicionais de insalubridade, alto índice de enfermeiros ainda adoecendo, ausência de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados.

"Na propaganda, os enfermeiros são muito importantes pra gestão. Infelizmente, no dia a dia, estamos abandonados", escreveu uma internauta. Um outro comentário trouxe a mensagem: "Secretários, a enfermagem levou a pandemia no braço. Muitos de nós o vírus venceu". Em alguns momentos da live, comentários no chat apareciam como excluídos, e os participantes sinalizaram o ocorrido.

"A gente vem sofrendo na linha de frente em cerca de 150 dias de epidemia no Estado. A nossa situação continua da mesma forma ou pior (em comparação com a condição que a categoria denunciou meses atrás)", diz o presidente do Sindicato Profissional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Pernambuco (Saten-PE), Francis Herbert. Em fevereiro deste ano, a classe realizou protestos para autoridades reconhecerem o trabalho da enfermagem. A categoria está há dez anos sem reajuste, situação que coloca os vencimentos de uma parte dos profissionais abaixo do salário mínimo. O piso dos técnicos é de R$ 774.

"Somos os profissionais de saúde que mais adoecem pelo novo coronavírus, os que mais morrem e os que recebem os menores salários. Além do baixo salário, não temos adicional noturno. Estamos psicologicamente abalados; muitos com depressão", frisou Francis Herbert. O técnico de enfermagem Mário Soares, 40 anos, foi um dos que tiveram covid-19 e conseguiram superar a infecção. "Imaginávamos que a situação iria melhorar e que a categoria seria mais valorizada nesta pandemia. Mas continuamos trabalhando o máximo para conseguir o mínimo", relata.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que tem abastecido constantemente a rede com EPIs (máscaras, avental descartável, luvas e toucas) para os trabalhadores da Saúde. "Não houve falta crônica de nenhum EPI durante todo o processo (da pandemia)", diz. A pasta acrescenta que "os enfermeiros já recebem insalubridade incorporada ao vencimento base desde 2006, a pedido da própria categoria".

A Secretaria de Saúde do Recife, também em nota, afirmou que, em maio de 2020, foi sancionada a Lei Complementar Federal n°173, que explicitamente proíbe os Estados e municípios de concederem reajustes aos servidores públicos até 31 de dezembro de 2021. A Secretaria de Administração e Gestão de Pessoas esclarece também que paga a insalubridade dos profissionais.

Confira os casos da covid-19 em Pernambuco por município:

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