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Câncer de próstata: "Fuga do médico vai causar efeito de mais diagnósticos tardios", alerta urologista

No SUS, cirurgia para retirada da próstata por câncer caiu 21,5% no Brasil, devido à pandemia

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Cinthya Leite

Publicado em 03/11/2021 às 10:06 | Atualizado em 03/11/2021 às 10:18
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Após quase dois anos de pandemia, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta, neste Novembro Azul, para os impactos à saúde masculina neste período, sobretudo o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata. Dados inéditos do Ministério da Saúde, obtidos a pedido da SBU, revelam que houve uma redução de 21,5% das cirurgias para retirada da próstata por câncer, na comparação entre 2019 e 2020, de acordo com o que mostra o Sistema de Informação Hospitalar (SIH). A coleta de antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês) e de biópsia da próstata - que, junto com o exame de toque retal diagnosticam a doença - tiveram quedas na ordem de 27% e 21% (segundo o Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde), respectivamente. O número de consultas urológicas no SUS também caiu 33,5%2. E as internações de pacientes com o diagnóstico da doença teve queda de 15,7%, considerando o SIH.

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As consultas com um urologista, em 2021, continuam baixas. Até julho, foram realizadas 1.812.982 consultas. Em 2019, foram 4.232.293 e em 2020, 2.816.326. De acordo com o presidente da SBU, Antonio Carlos Pompeo, a queda nos números é preocupante. “É muito importante que os homens tenham acesso à informação, às consultas de rotina e também que recebam seu diagnóstico. Essa fuga do médico vai causar um efeito de mais diagnósticos tardios em longo prazo", alerta.

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Em alguns Estados, a queda do exame de biópsia da próstata, entre 2019 e 2020, foi bastante representativa: Acre (90%), Mato Grosso (69%) e Rio Grande do Norte (50%). Rio de Janeiro teve um declínio de 39% e Minas Gerais 31%. São Paulo e Distrito Federal tiveram baixo impacto, na ordem de 6% e 7%, respectivamente. Já em relação ao exame de PSA, Paraíba teve uma queda de 50%; Pernambuco, 37%; Distrito Federal, 34%; Rio de Janeiro, 30%; São Paulo, 29%.

O câncer de próstata é o tumor mais frequente no homem, excluindo-se o câncer de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 65.840 novos casos para 2021, porém muitos podem nem ter sido diagnosticados. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), também obtidos pela SBU, mostram que a mortalidade por câncer de próstata aumentou cerca de 10% em cinco anos, subindo de 14.542 (2015) para 16.033 (2019). 

Segundo uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP), sobre o atraso cirúrgico emergencial e eletivo durante a pandemia no Brasil, mais de um milhão de cirurgias foram canceladas ou adiadas, e os procedimentos cirúrgicos para tratamento do câncer de próstata também foram impactados, conforme mostram os dados do SIM.

Novembro Azul e o diagnóstico precoce do câncer de próstata  

Por esse motivo, o Novembro Azul, campanha anual da SBU de conscientização do câncer de próstata, este ano enfatiza a importância de o homem retomar seu cuidado com a saúde e voltar a ir ao médico. O diagnóstico precoce do câncer de próstata é fundamental para uma maior chance de cura. 

Para estabelecer um diálogo com a comunidade, a SBU preparou ao longo do mês de novembro uma série de ações online e presenciais para chamar a atenção para o problema. Com o slogan Saúde também é papo de homem, a entidade tem uma programação especial em suas redes sociais (@portaldaurologia), que envolverá lives todas as quartas-feiras com especialistas e posts e vídeos elucidando dúvidas, além de podcasts semanais na Rádio SBU, disponível em todas as plataformas de streaming.  

Assim como acontece em todos os anos, diversos monumentos serão iluminados de azul, como a Ponte Estaiada e o Viaduto do Chá, em São Paulo.  

O secretário-geral da SBU, Alfredo Canalini, enfatiza que as campanhas de saúde têm um papel fundamental de alerta, sobretudo aos homens. “As campanhas têm por objetivo mudar o comportamento através da conscientização sobre a necessidade dos cuidados com a saúde. Muitas doenças, inclusive o câncer de próstata, não provocam nenhum tipo de sintoma na fase inicial, e por esse motivo os exames periódicos são importantes, mesmo que não se sinta nada", diz Alfredo.  

Para Karin Jaeger Anzolch, membro do Departamento de Comunicação da SBU e uma das organizadoras das ações do Novembro Azul, "apesar de as preocupações e os cuidados com a saúde não devam se limitar a apenas um período do ano, ao calendarizar-se o mês de novembro como o Novembro Azul, também é a oportunidade de dar um maior espaço e visibilidade à causa, levando os conhecimentos e a educação a um número muito maior de pessoas e possibilitando o engajamento de um número cada vez mais expressivo de instituições e meios de comunicação". Ela reforça que esse é um trabalho de vários anos que já vem produzindo frutos. "Mas agora, mesmo diante de uma pandemia sem precedentes como essa, também precisa ser continuado, pois as doenças não dão trégua", comenta. 

Para cuidar da saúde mesmo sem apresentar sintomas 

O Novembro Azul promove a conscientização sobre câncer de próstata e cuidados com a saúde do homem. Com essa mobilização, a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia é que os homens, a partir de 45 anos, mesmo sem apresentar sintomas de problemas de saúde, procurem um profissional especializado para avaliação individualizada, a fim de realizar exames capazes de diagnosticar precoce o câncer de próstata. Neste ano, a Sociedade Brasileira de Urologia - Seccional Pernambuco (SBU-PE) está com campanha em redes sociais, além de realizar ações de rua, com o tema Toque essa mensagem para frente. O objetivo é lembrar que todos devem estar atentos à saúde, inclusive parentes e amigos dos homens acima dos 45 anos, que podem incentivá-los a procurar um especialista e rastrear sinais da doença o quanto antes.

"O que falta são informação e quebra de preconceitos sobre o exame de detecção do câncer de próstata. Apesar dos números alarmantes (65.840 novos casos da doença anualmente no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer), mais da metade deles nunca se consultaram com um urologista. Precisamos mudar essa mentalidade", alerta o urologista Moacir Cavalcante, presidente da SBU-PE. É pelo exame (de sangue, conhecido pela sigla PSA — antígeno prostático específico — e o toque retal) que se pode diagnosticar o tumor em fases iniciais, o que aumenta em cerca de 90% as chances de cura da doença, em comparação a uma detecção tardia.

Para marcar o mês, a SBU-PE faz um evento de alerta ao público em geral, com entrega de materiais educativos e orientações de médicos. A ação acontecerá no próximo dia 7, ao longo de toda a manhã (início às 8h), na Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife, durante toda a manhã. Os urologistas vão pedalar de vários pontos da cidade e pegar a ciclofaixa, que terá sinalização com bandeiras da campanha. Além disso, a SBU-PE fará ações de conscientização em estádios de futebol, com a entrada dos times pernambucanos em campo com faixa da campanha, em clínicas e barbearias.

Nas redes sociais da SBU-PE, há mensagens da importância do acompanhamento da saúde dos homens. Filtros e gifs estão no instagram oficial (@sbu_pernambuco), e qualquer pessoa pode participar com o uso da hashtag #toqueessamensagem em vídeos e fotos.

Mortalidade

O diagnóstico tardio é um dos principais motivos para o câncer de próstata ser o segundo tipo de tumor maligno que mais mata os homens, atrás apenas para o câncer de pulmão. Segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer do Inca, 15.983 homens morreram em decorrência de complicações do tumor na próstata em 2019. "Este câncer cresce muito lentamente e, na maior parte das vezes, não produz sintomas em fase inicial. Quando alguma manifestação aparece, a doença geralmente já está em fase avançada", explica o coordenador do ambulatório de urologia do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), André Maciel.

O médico acrescenta ainda que os sinais do câncer de próstata também são característicos do crescimento benigno da próstata ou se assemelham a outras doenças do trato urinário. Entre os sintomas, estão dificuldade para urinar, dor ou ardor miccional e vontade frequente de urinar. "O indicado é a realização anual do PSA e toque retal. Quando se identifica alguma alteração nesses exames, devemos confirmar a suspeita do câncer com outros exames diagnósticos, como a ressonância magnética e biópsia. Sendo câncer, a detecção precoce da doença aumenta em 80% as chances de cura", acrescenta André.

Hábitos e comportamentos saudáveis ajudam a prevenir a doença. Entre eles, estão não fumar, evitar bebidas alcoólicas e manter um bom peso corporal. Mas os especialistas também consideram que os principais fatores de risco são a hereditariedade e a idade (incidência e mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos). Por isso, é indispensável o acompanhamento médico.

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