Além de criar hospital de retaguarda, governo de Pernambuco terá 320 novos leitos para evitar colapso na Restauração
Com novos leitos, governo tenta desafogar a ocupação da maior emergência pública do Norte e Nordeste do Brasil
A repercussão das imagens que circularam, nos últimos dias, mostrando o descaso com os pacientes do Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife, trouxe mais luz a velhos problemas que jamais devem ser esquecidos. Entre eles, a degradação e a superlotação da unidade de saúde, como também a angústia vivida por pacientes e suas famílias.
Como tentativa de evitar o colapso da maior emergência pública do Norte e Nordeste do Brasil, o governo do Estado inaugurou o Hospital de Retaguarda em Neurologia (HRN), no Prado, Zona Oeste da cidade. Além disso, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) abriu, em março, credenciamento de leitos de enfermaria para implantação de 320 leitos de retaguarda em neurologia.
Até o momento, estão ativos 55 dos 85 leitos do HRN. A capacidade máxima, segundo o diretor-geral da unidade, Pedro Correia, deve ser atingida no fim deste mês. Do total de vagas, 10 são de terapia intensiva (UTI) e estão em fase de implantação. "Nosso foco maior é desafogar a ocupação da Restauração. Em abril, recebemos 139 pacientes. Desse total, 90% foram encaminhados do HR. Os demais foram do Hospital Pelópidas Silveira (HPS, também referência em neurologia)", informa Pedro.
O HRN iniciou suas atividades em 18 de março, e a SES esclarece que aguardava a unidade estar com os fluxos organizados e chegar à capacidade máxima de 85 leitos para divulgar a abertura. Mas o caos expandido no HR fez publicizar o novo hospital de retaguarda. E vieram muitas as dúvidas sobre o serviço, que conta atualmente com 150 profissionais contratados, como assistente social, enfermeiros e técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e médicos. "A meta é que, até o fim deste mês, tenhamos 350 profissionais na unidade", diz o diretor do HRN.
A dona de casa Marina Taciano Cordulino, 54 anos, acompanha, no novo hospital, o marido, de 64 anos, que teve um acidente vascular cerebral (AVC) no último sábado (30). O primeiro atendimento foi feito pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que o levou para a Restauração. Na segunda-feira (2), o marido dela estava na área onde desabou o forro do teto no HR. "Naquele mesmo dia, ele veio para cá (Hospital de Retaguarda em Neurologia). Não tenho do que reclamar daqui. Está sendo bem cuidado e recebendo todo o atendimento. Mas na Restauração, ele estava no corredor, deitado numa maca. Nem banho davam nele", contou Marina.
Quem também já passou pelo novo hospital de retaguarda foi a mãe do decorador autônomo Manaces Ferreira, 60 anos. "Ainda bem que ela veio para cá. Estava muito difícil ficar no HR com a idade que ela tem. Minha mãe estava no corredor, onde batia um cheiro de esgoto e tinha até lixo por perto. Agora, neste novo hospital, ela foi bem cuidada e já está indo para casa", relatou Manaces no momento em que a mãe recebia alta hospitalar.
Dos 55 leitos que estão em funcionamento no novo hospital do Prado, 46 estavam ocupados até a tarde desta quinta-feira (5). Outros quatro pacientes estão em processo de transferência do HR para a unidade. E cinco permaneciam livres. "Mas isso é questão de tempo. A rotatividade é alta. Logo as vagas ficam preenchidas."
Em relação às vagas de retaguarda (todas de enfermaria) já credenciadas, a assessoria de comunicação da SES informa que já há 52 em atividade no Hospital Maria Lucinda, no Parnamirim, Zona Norte do Recife, e do Memorial Guararapes, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes. Até a manhã desta quinta-feira (5), só havia um leito livre.
Entre os que também já foram contratualizados a partir do novo credenciamento, estão 78 no Hospital do Tricentenário, em Bairro Novo, Olinda. De acordo com a SES, essas vagas já existiam, mas passaram a ser destinadas ao perfil do novo chamamento, voltado à atenção de pacientes com problemas neurológicos atendidos nas urgências da rede pública, como o HR e o HPS.
Dessa maneira, dos 320 leitos de retaguarda em neurologia que o Estado pretende contabilizar a partir do credenciamento, 130 estão em atividade. O valor estimado deste chamamento é de 11.433.296,50. O montante corresponde à previsão orçamentária para a contratação das 320 vagas por ano.