Coração: doença que acometia João Paulo Diniz pode ser assintomática? Veja o que diz médico
Médico Fernando Figueira, do Imip, falou sobre o assunto em entrevista à Rádio Jornal
A morte repentina do empresário João Paulo Diniz, filho de Abilio Diniz, tem levantado uma série de questionamentos sobre a prática de atividades físicas e a saúde. Ele faleceu no último domingo (31), aos 58 anos, em Paraty, no Rio de Janeiro.
Nesta quarta-feira (3), o cirurgião cardiovascular Fernando Figueira, chefe do Serviço de Cirurgia Cardiovascular Adulto do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), falou sobre o assunto durante o Passando a Limpo, da Rádio Jornal.
"O que ocorreu foi o contraponto do que se imagina. Ele (João Paulo Diniz) era uma pessoa que passou a vida toda fazendo exercícios. Aparentava ser bem saudável, era esbelto. Inclusive, no dia em que foi encontrado morto, ele tinha participado de uma corrida. Aí, ficou a dúvida sobre o fato de uma pessoa ter acesso a tantas coisas (hábitos saudáveis) e morrer de repente", disse Fernando Figueira.
Ele relatou que o cardiologista Bernardino Tranchesi Júnior contou, no livro de Abilio Diniz, Caminhos e Escolhas - o equilíbrio para uma vida mais feliz, que João Paulo foi diagnosticado com miocardiopatia hipertrófica, uma doença que o impediu temporariamente de fazer exercícios.
"A miocardiopatia hipertrófica é um aumento da massa muscular (do coração). Ela pode ser congênita, genética, hereditária ou não, mas também pode ser causada por outros problemas, como doença de válvulas", explicou Figueira.
"No caso de João Paulo, lendo o que doutor Tranchesi escreveu na biografia de Abílio, é que ele foi orientado inicialmente a não praticar exercício algum porque era uma bomba-relógio, poderia morrer a qualquer momento. Mas depois foi para os Estados Unidos, Alemanha, fez uma série de outras intervenções e aparentemente ficou curado", contou.
A cardiomiopatia hipertrófica é caracterizada pela hipertrofia (desenvolvimento excessivo) do músculo do coração. É uma doença rara. Segundo a literatura médica, a ela acomete 1 a cada 500 pessoas.
Em uma parte dos casos, o aumento anormal do volume do coração gera uma obstrução que afeta o fluxo sanguíneo.
Os sintomas mais comuns da cardiomiopatia hipertrófica são falta de ar, desmaios (geralmente durante ou após esforços físicos) e dor no peito (durante ou após atividade física). Diante dessas manifestações, é essencial procurar um médico, já que a cardiomiopatia hipertrófica pode causar arritmia e levar à morte súbita. Especialistas dizem que é uma das principais causas de morte súbita em atletas jovens.
Por vezes, a pessoa com cardiomiopatia hipertrófica não tem sintomas e só descobre a condição durante exames de rotina ou avaliação cardiológica para praticar algum exercício físico.
"É uma doença muito rara, geralmente diagnosticada ao acaso e infelizmente apenas numa autópsia muitas vezes. A pessoa morre e, quando vai se descobrir (a causa do óbito), é porque tinha esse músculo muito crescido, que pode provocar a obstrução na saída do sangue, levando a arritmias", destacou Fernando Figueira.
O cirurgião complementou: "geralmente as principais causas que levam à morte súbita são causadas por uma arritmia maligna, uma fibrilação ventricular, uma taquicardia ventricular, e a pessoa evoluí para o óbito".
O médico acrescentou que, no caso de João Paulo Diniz, com base no que diz a ciência e nas informações que vêm sendo divulgadas, há o histórico de cardiomiopatia hipertrófica.
"Mas depois houve uma remissão; há um relato de que ele passou a ficar curado disso, o que eventualmente pode acontecer, tanto que ele manteve uma vida muito ativa. A gente não pode afastar outra causa, como um infarto, embora era uma pessoa que se tratasse."
Ainda durante o Passando a Limpo, Fernando Figueira falou sobre a importância de os pacientes com cardiomiopatia hipertrófica seguirem orientações médicas.
"Tem que controlar a pressão arterial, a frequência cardíaca, fazer um eletro ou holter (eletrocardiograma contínuo e portátil por 24 horas) para ver se há a presença de algum tipo de arritmia silenciosa. Eventualmente, há a necessidade de se instalar um cardiodesfibrilador implantável, uma maquinazinha que, caso venha alguma arritmia maligna, dá-se um choque pra reverter."
Segundo Fernando Figueira, habitualmente um ecocardiograma e uma ressonância cardíaca fecha o diagnóstico e se mede a gravidade da cardiomiopatia hipertrófica.
"Em última análise, há opção de se fazer um procedimento cirúrgico para tentar diminuir esse aumento de massa do ventrículo", finalizou o cirurgião.