MONKEYPOX AVANÇA

VARÍOLA DO MACACO: Pernambuco tem nove pacientes internados, e casos notificados passam de mil

Secretaria Estadual de Saúde não informou sobre o quadro de saúde desses pacientes

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Cinthya Leite

Publicado em 27/09/2022 às 21:35 | Atualizado em 27/09/2022 às 21:56
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A Secretaria Estadual de Saúde (SES) divulgou, na noite desta terça-feira (27), que Pernambuco tem 1.081 casos notificados de varíola dos macacos – ou monkeypox

O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância à Saúde (Cievs-PE) detalha que, entre as 1.081 notificações de varíola dos macacos contabilizadas até o momento, 126 casos estão confirmados.

Do total de 126 casos positivos de varíola dos macacos em Pernambuco, seis foram hospitalizados devido a necessidades clínicas e outros três foram internados para ficarem isolados

Questionada pela coluna Saúde e Bem-Estar, deste JC, sobre o quadro de saúde desses pacientes e as condições clínicas que levaram ao internamento, a SES informou que apenas amanhã (28) teria mais detalhes. 

TEM CURA PARA VARÍOLA DO MACACO? 

"Pelo fato de a maioria dos casos (de varíola do macaco) apresentar manifestação clínica leve e a doença evoluir geralmente de forma benigna, os pacientes são atendidos, prioritariamente, nos ambulatórios municipais, nos postos de saúde e nas policlínicas", afirma a secretária-executiva de Vigilância em Saúde, Patrícia Ismael.

"Dessa forma, é crucial que a coleta (para o exame dos casos suspeitos) seja realizada também na atenção primária em locais específicos para isso ou mesmo por meio da vigilância epidemiológica de cada município. O importante é garantir, a qualquer pessoa que apresente os sintomas, a possibilidade de ser examinada pelo médico e o acesso à coleta do material para ser analisado pelo Lacen-PE", acrescenta.

Ainda entre os 126 casos confirmados de varíola dos macacos em Pernambuco, 45 evoluíram para cura e 72 estão em isolamento domiciliar.

Como ocorre na maioria das viroses agudas, o próprio sistema imunológico é capaz de eliminar o vírus. Assim, o paciente fica curado, sem necessidade de intervenções ou procedimentos complexos.

É fundamental controlar e evitar a transmissão, o que é feito mediante a identificação precoce de casos, com isolamento, o que ajuda a reduzir o número de pessoas infectadas.

VARÍOLA DO MACACO: MAIS DE 600 CASOS AINDA EM INVESTIGAÇÃO

A SES acrescenta que, entre os 1.081 casos notificados, 321 foram descartados e 617 estão em investigação

Desses casos que permanecem em investigação, 558 são casos suspeitos e 59 são prováveis, conforme classificação definida pelo Ministério da Saúde (MS).

Os 126 casos confirmados estão distribuídos nas seguintes faixas etárias: 0 a 9 anos (8 casos), 10 a 19 (12), 20 a 29 (40), 30 a 39 (39) e 40 a 49 (16), 50 a 59 (4) e a partir de 60 anos (7).

Do total, 98 são do sexo masculino e 28 do sexo feminino.

VARÍOLA DO MACACO: SINAIS E SINTOMAS 

Veja abaixo a proporção dos sinais e sintomas apresentados pelos casos confirmados de varíola dos macacos em Pernambuco:

  1. erupção cutânea: 18,7%
  2. cefaleia: 14,6% 
  3. febre: 11,6% 
  4. astenia/fraqueza: 9,2% 
  5. adenomegalia (gânglios inchados): 7,8% 
  6. dor muscular: 6,8%
  7. dor de garganta: 6,7% 
  8. suor/calafrios: 5,5% 
  9. dor nas costas: 5,5%
  10. artralgia: 3,5%
  11. náusea/vômito: 3,1% 
  12. fotossensibilidade: 0,7%
  13. sinais hemorrágicos: 0,7%
  14. conjuntivite: 0,2% 
  15. outros sintomas: 5,2% 

Vale frisar que, entre os casos em investigação (617 ao todo), os casos suspeitos (558) são considerados aqueles em que os pacientes apresentam início súbito de lesão em mucosas e/ou erupção cutânea aguda sugestiva de varíola do macaco. 

Desse total, 311 são do sexo masculino e 247 são do sexo feminino. As faixas etárias são: 0-9 anos (82 casos), 10-19 (108), 20-29 (115), 30-39 (116), 40-49 (69), 50-59 (40), a partir de 60 anos (28).

Com relação aos casos prováveis de varíola dos macacos, que também estão em investigação, foram registrados 59 casos.

São casos prováveis da doença aqueles em que os pacientes se enquadram como suspeitos e, além da lesão cutânea, apresentam outros critérios, como exposição próxima e prolongada com caso provável ou confirmado de varíola dos macacos.

Entre os casos prováveis, 43 são do sexo masculino e 16 são do sexo feminino. As faixas etárias são: 0-9 anos (7 casos), 10-19 (9), 20-29 (17), 30-39 (10), 40-49 (14), a partir de 60 anos (2).

VARÍOLA DO MACACOS: VEJA PERGUNTAS E RESPOSTAS

Sobre o atual contexto da varíola dos macacos, conversamos com o infectologista Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), sobre vários tópicos relacionados à epidemia. Confira:

VARÍOLA DO MACACO: QUEM PODE TER A DOENÇA?

Em Pernambuco, dos casos confirmados de varíola dos macacos até 27 de setembro de 2022, 98 são do sexo masculino e 28 do sexo feminino. "Isso não significa, contudo, que o fato de ser homem aumenta a chance de se ter monkeypox, e muito menos a condição de ser homem que faz sexo com homem. Se focarmos nisso, mulheres, crianças e pessoas heterossexuais deixam de se proteger. Toda epidemia começa por uma população e, em seguida, espalha-se para outras, independentemente de gênero, cor, orientação sexual, faixa etária...", diz Demetrius Montenegro. 

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), 99% da transmissão da varíola dos macacos ocorrem entre homens que fazem sexo com homens (HSH). É, de fato, uma comunidade fortemente afetada, mas isso não significa que a suspeita da doença deve passar longe de outros grupos populacionais.

"Os primeiros casos foram nessas pessoas (HSH). Por isso, a transmissão está mais frequente nessa população. Mas isso não quer dizer que esse grupo tem uma maior chance de ser infectado pelo vírus (monkeypox). Por sinal, com a transmissão comunitária, essa característica atual pode se diluir entre outras pessoas e formas de transmissão", alerta Demetrius Montenegro. 

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Demetrius Montenegro é chefe do setor de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

VARÍOLA DO MACACO SÓ É TRANSMITIDA DURANTE O SEXO?

Estudos e relatos de profissionais de saúde têm mostrado que atualmente a maior parte das infecções por monkeypox ocorrem durante o contato sexual. Nesta epidemia, a doença não é considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST), mas é disseminada principalmente por contatos durante o sexo.

"A relação sexual é atualmente a principal forma de transmissão da varíola do macaco. A questão é que, durante o sexo, há troca de fluidos, contato intenso, suor, fluidos genitais, saliva, respiração, contato próximo e por tempo prolongado. Tudo isso favorece uma exposição maior ao vírus", diz Demetrius. Ele destaca que isso também explica por que a faixa etária mais acometida atualmente é a de adultos jovens.  

VARÍOLA DO MACACO: COMO SE TRANSMITE? 

O vírus da varíola do macaco é de transmissão por contato e via respiratória. Ou seja, pode ser transmitido por contato com lesões, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. "É por isso que existe a possibilidade de transmissão intradomiciliar (residências como importante
ambiente de transmissão da varíola dos macacos entre as pessoas). Vale ressaltar que, para a varíola do macaco, a transmissão respiratória, como na covid, não é tão importante. Para monkeypox, tem maior repercussão o contato pele a pele", destaca Demetrius. Ele orienta ainda que as pessoas, neste atual momento, evitem compartilhar copos e talheres, mesmo sem sinais da doença. "A pessoa pode estar na fase inicial da infecção, sem lesões, e já estar transmitindo", acrescenta. 

VARÍOLA DO MACACO: QUANTOS DIAS DE ISOLAMENTO?

Sintomas gripais, como dor de cabeça e febre, além de lesões na pele, são os principais sinais de atenção para a varíola dos macacos, a doença causada pelo vírus monkeypox. A prevenção deve considerar também o período em que o vírus pode ser transmitido de pessoa para pessoa. Assim que acontece a infecção, pode-se ocorrer a transmissão da doença até o momento em que o paciente estiver com lesões na pele.

"Quando aparecem os sintomas, a pessoa começa a transmitir o vírus. E isso será uma possibilidade enquanto houver lesões na pele. A transmissão só deixa de ocorrer quando as crostas de todas as lesões tiverem caído", explica Demetrius. 

VARÍOLA DO MACACO: COMO É O ISOLAMENTO? 

O isolamento de contato deve ser seguido até as crostas de todas as lesões tiverem caído. "Não se deve deitar na cama da pessoa infectada nem sentar no sofá. A roupa, de certa forma, protege porque, para a transmissão ocorrer, é preciso o contato de pele com pele. O tempo de isolamento de contato é indefinido e depende de paciente para paciente. Quanto maior o número de lesões, maior é o tempo de isolamento", diz Demetrius.

Ele ressalta que, para o paciente com varíola do macaco, o atestado médico para comprovar a necessidade de se ausentar do trabalho é de 10 dias. "Se for preciso, aumenta-se o período de afastamento das atividades."

É PERIGOSA A VARÍOLA DO MACACO?

Segundo Demetrius Montenegro, alguns pacientes já precisaram ser internados. Mas a maioria evolui de forma benigna. "Os que mais apresentam quadro grave da varíola dos macacos são as pessoas com imunossupressão grave. Quando o agravamento ocorre é por complicações da lesão, que pode evoluir com uma infecção bacteriana." 

VARÍOLA DO MACACO: COMO É A DOR DAS LESÕES?  

Pacientes relatam que as lesões causadas pelo vírus monkeypox causam bastante dor. "Isso ocorre especialmente quando acometem a boca, a mucosa anal e genital. Alguns relatam tanta dor na boca que não conseguem beber água. Nesses casos, recomenda-se internamento para fazer medicação endovenosa para controle da dor e hidratação, assim como na ocorrência de proctite (inflamação no revestimento interno do ânus), que causa um incômodo intenso", orienta Demetrius. 

QUAL É A PREVENÇÃO DA VARÍOLA DO MACACO? 

Como forma de prevenção da varíola dos macacos, recomenda-se evitar o contato direto com pessoas infectadas e sintomáticas, com lesões; lavar as mãos com água e sabão; uso do álcool em gel; utilização de máscara de proteção cobrindo nariz e boca. "Nos transportes públicos e em ambientes com aglomeração, a máscara se faz importante. O problema é sério e está se alastrando", destaca Demetrius. 

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