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Síndrome de Burnout é preocupação entre os profissionais da saúde para o pós-pandemia

Pandemia agravou ainda mais as situações de estresse e esgotamento, que levam a problemas com a saúde mental dos profissionais de saúde

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Ana Maria Miranda

Publicado em 28/10/2022 às 20:09 | Atualizado em 28/10/2022 às 21:09
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Não é novidade que a pandemia da covid-19 trouxe uma série de consequências para a saúde e a economia mundial. Mas dentro dos hospitais, onde a doença foi "vista" de perto pelos profissionais de saúde, os resultados ainda repercutem, mais de dois anos depois.

O caos nas unidades de saúde não se resumiu aos enfermos, mas também impactou as pessoas que permitem que os hospitais funcionem: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares, fisioterapeutas, além de outros profissionais que acompanharam e ajudaram pacientes a lutar pela vida contra a covid-19.

A falta de informações sobre a doença provocada pelo coronavírus, a indisponibilidade de leitos e até a falta de materiais básicos para autoproteção e para o tratamento dos pacientes fizeram com que o estresse, o esgotamento mental e a síndrome de Burnout atingissem os trabalhadores da saúde nos últimos dois anos. Tudo isso com riscos à própria saúde e, muitas vezes, sem o devido reconhecimento em termos financeiros.

De acordo com um estudo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, realizado pela International Stress Management Association, 70% dos brasileiros sofrem as consequências do estresse e destes, 30% apresentam a síndrome de Burnout, distúrbio emocional provocado pelo estresse relacionado ao trabalho.

"Recebemos muitas denúncias com relação a pessoas que estão sendo afastadas do local de trabalho pela sobrecarga por questões emocionais. [Os profissionais] entram num círculo vicioso: você afasta, há sobrecarga de trabalho dos que ficam, então esses outros também acabam desenvolvendo problemas", explica Ana Paula Ochoa, coordenadora do Núcleo de Ética e Disciplina Profissional do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE).

"São pessoas que saem de um hospital para o outro direto. Se for diarista, trabalha em torno de 12 horas por dia, se for em esquema de plantão, pode chegar a 24h e às vezes até 36h de trabalho, isso é fora de qualquer humanidade. O profissional não consegue ser uma pessoa sadia mentalmente, a saúde mental está muito prejudicada", complementa.

Engin Akyurt /Pixabay
Síndrome de Burnout já atingia os profissionais de saúde, e piorou durante a pandemia da covid-19 - Engin Akyurt /Pixabay

A síndrome de Burnout foi reconhecida como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas em janeiro de 2022, quando passou a fazer parte da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, com o CID-11, mas já afetava muitos trabalhadores antes disso.

"Diferentemente do estresse comum, o Burnout é caracterizado por um quadro prolongado, crônico, persistente, intimamente relacionado com atividades laborativas que promovem um quadro de completo esgotamento, perda do prazer pelas atividades laborais e afins, cansaço excessivo, sensação de esgotamento, alterações de sono e apetite, ideias de menos valia, de incompetência, prejuízo no rendimento do trabalho, sintomas físicos", detalha a psiquiatra Milena França, conselheira do Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe).

Um levantamento realizado pelo Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) antes da pandemia da covid-19 (entre abril de 2017 e julho de 2018) revelou que pelo menos um em cada seis profissionais de saúde apresenta sinais de burnout. A pesquisa foi realizada com 715 profissionais de saúde - entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas de 36 hospitais públicos e privados do Brasil.

Os profissionais de saúde entrevistados trabalhavam em unidades de terapia intensiva (UTIs) por pelo menos 20 horas por semana. Além do Burnout, eles também apresentaram sintomas de ansiedade e depressão, que podem estar associados à síndrome ou não. O problema, portanto, sempre existiu, piorou na pandemia e continua existindo atualmente.

Para Ana Paula Ochoa, a pandemia da covid-19 foi uma gota d'água que transbordou. "A situação do SUS (Sistema Único de Saúde) não está diferente. Continuam faltando leitos, você tem pacientes que não têm condições de internar e você vê sofrendo na emergência numa maca, com leito no chão, então temos uma realiade de saúde que, por si só, já é estressante. A pandemia só escancarou mais, mas o dia a dia não é diferente. No serviço público faltam condições de trabalho e na rede privada, há trabalho escravo", lamenta.

O burnout é comum em profissionais como jornalistas, professores, policiais, profissionais de saúde e outros que atuam sob pressão diariamente. Sintomas como sofrimentos psicológicos, nervosismo e até problemas físicos como cansaço excessivo e tonturas podem indicar Burnout. Se não tratada, a síndrome pode resultar em um estado de depressão profunda. Por isso a necessidade de buscar ajuda profissional.

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"Entre os profissionais de saúde, o esgotamento emocional inclui sentir-se 'exausto' ao final de uma jornada de trabalho e não ter mais nada a oferecer ao paciente do ponto de vista emocional. A despersonalização inclui sentimentos de tratar os pacientes como objetos em vez de seres humanos e tornar-se mais insensível em relação aos pacientes. Uma sensação de realização profissional reduzida engloba sentimentos de ineficácia em ajudar os pacientes com seus problemas e uma percepção de falta de valor dos resultados de atividades relacionadas ao trabalho, como atendimento ao paciente ou realizações pessoais na ocupação", explica Amaury Cantilino, presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria.

De acordo com o médico psiquiatra, o burnout não é o mesmo que a insatisfação no trabalho, fadiga e depressão. A síndrome está relacionada a esses problemas, mas também pode estar presente na ausência deles. O especialista aponta ainda que o Burnout pós-pandemia já se tornou um problema de saúde pública em países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo. Nesses locais, alguns médicos e outros profissionais de saúde chegaram a antecipar as aposentadorias.

TRATAMENTO DO BURNOUT

Se os sintomas da síndrome de Burnout forem percebidos, é importante procurar um médico psiquiatra para o diagnóstico e tratamento adequados. É necessário o acompanhamento psicoterapêutico, e o uso de medicamentos antidepressivos e/ou ansiolíticos também pode ser recomendado pelo especialista.

"As profissões de saúde são historicamente associadas a sacerdócio. Esses profissionais são impelidos a colocarem as necessidades do outro acima das suas próprias. Assim, muitos referem sequer terem tempo para o autocuidado. Além disso, para alguns, é vergonhoso pedir ajuda em saúde mental. É como se simbolizasse fraqueza e incapacidade", pontua Cantilino.

O mesmo sentimento é percebido por Milena França: "Sem dúvida alguma, os profissionais de saúde foram os mais afetados com os fatores estressores advindos da pandemia, que podemos assemelhar a fatores de gravidade de uma guerra, por exemplo. Com base nisso e já sendo uma população mais pré-disposta ao surgimento de transtornos mentais, os profissionais de saúde podem amargar consequências desastrosas tanto durante como após o processo pandêmico, com o agravamento e/ou surgimento dos diversos tipos de transtornos mentais, mais comumente os transtornos depressivos, transtornos de ansiedade, transtornos de estresse pós-traumático, transtornos por uso de substâncias psicoativas (ressaltando-se, os derivados etílicos), entre outros".

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O tratamento costuma surtir efeito em um período de um a três meses, mas pode durar mais a depender do caso. É importante ressaltar, no entanto, que é necessário promover mudanças nas condições de trabalho e no estilo de vida. Quando o Burnout é muito intenso em médicos, por exemplo, o afastamento temporário das atividades pode ser necessário. "Estudos transversais associaram o Burnout médico a práticas de atendimento a pacientes abaixo do ideal, bem como a um risco dobrado de erro médico", comenta o psiquiatra Amaury Cantilino.

"Muitas vezes, psicoterapias individuais ou em grupo, além de práticas de mindfulness, mudanças no estilo de vida com atenção ao autocuidado, técnicas de manejo do estresse e redução da carga de trabalho podem ajudar individualmente. Mas seria importante repensarmos os ambientes de trabalho que têm gerado muitos casos de Burnout. A intervenção no sistema estressor pode prevenir novos adoecimentos", explica.

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