Médico sanitarista, ex-presidente da Anvisa, fala à Radio Jornal acerca de pacientes transplantados infectados por HIV

Erro em exames de HIV antes de transplantes no Rio de Janeiro infecta seis pacientes; polícia investiga laboratório por negligência nos procedimentos

Publicado em 15/10/2024 às 11:32 | Atualizado em 15/10/2024 às 11:34

Seis pacientes que passaram por transplantes no Rio de Janeiro foram diagnosticados com HIV após o procedimento. O vírus, causador da AIDS, foi transmitido através de órgãos de doadores que não foram devidamente testados.

O laboratório responsável, PCS Lab, está no centro das investigações conduzidas pela Polícia Civil por negligência nos exames.

O caso ganhou repercussão ao expor falhas graves no controle de qualidade dos testes realizados. Segundo o médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa, Dr. Gonzalo Vecina, que comentou o caso em entrevista à Rádio Jornal, o laboratório teria realizado exames menos sofisticados, o que pode ter contribuído para a transmissão do vírus.

“Esses exames mais simples identificam quase sempre a presença do HIV, mas quase sempre é uma expressão absurda quando se trata de algo tão sério”, disse o especialista.

Falha nos exames e responsabilização

Normalmente, os testes de doadores de órgãos incluem exames detalhados para doenças transmissíveis, como o HIV, que utilizam técnicas avançadas, como a detecção de material genético.

O Hemocentro do Rio de Janeiro, local tradicional para a realização desses exames, foi substituído pelo laboratório PCS Lab, cuja capacidade de realizar os testes necessários é questionada.

Dr. Gonzalo ressaltou que a mudança de laboratório, feita pela Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, precisa ser investigada.

“O laboratório não qualificado realizou exames simples para lucrar mais, o que comprometeu a segurança dos transplantes”, afirmou. A troca de exames avançados pelos mais básicos, conforme apontado, pode ter levado ao erro, infectando os pacientes.

Além das investigações sobre a responsabilidade técnica do laboratório, a relação entre a empresa e o ex-secretário de saúde do estado também está sendo analisada.

Um dos sócios do PCS Lab seria parente de um deputado federal, Dr. Luizinho, que ocupou o cargo de secretário de saúde na época da contratação do laboratório, o que levantou suspeitas sobre um possível favorecimento.

O caso é alarmante não apenas pela gravidade da transmissão do HIV, mas também pelas possíveis implicações éticas e criminais. Dr. Gonzalo reforçou que a punição não pode recair somente sobre técnicos de escalões mais baixos. “Esse problema não se resolve no terceiro escalão. A responsabilidade é dos donos do laboratório e de quem os contratou.”

As investigações continuam, e há uma crescente pressão para que medidas sejam tomadas para garantir a segurança dos pacientes e a transparência nos processos de transplante.

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